quarta-feira, julho 03, 2013

Apriorismo Vital

Já não será necessário o pecado,
há um instante em que a memória é estreita
e os homens  circularão ávidos
procurando a sua matilha
como se o rebentar dos dedos em magnólias
não fosse a indefinida e factícia criação,
a  água e a sede num corpo de aurora,
o coração estilhaçando-se em girassóis acesos,
o poema mergulhando inteiro
em suas concêntricas e primígenas alegorias,

porventura homens
ou vozes encantadas sob a lua e o sol,
sob a lágrima avivada do tempo,
o cântico que anuncia os divinos náufragos de Ítaca
sob o músculo que se retrai
fervilhem majestosos
nos delicados argumentos da morte
em profundos círculos quebrados de estirpe e haste
entreabertos ao fôlego circuncidado
do espanto.

E tudo sem promessas, sem um rosto de verbo
sem pelo menos o ocluso núcleo do mundo temer
o ruidoso silêncio da paixão da língua,

a núcega comédia do mundo
pois o poema retornará sempre a esse fruto
como, utópico, ao coração de uma criatura múltipla
no mais íntimo impudor da casta.


(poeta coimbrão que hoje faz 48 anos)

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