Os Bêbados
Os bêbados passam cantando nas ruas
desertas da
aldeia;
recebem
contentes, ao sábado, as jornas
e vão
derretê-las à boca das dornas,
de noite,
nas tascas, à luz da candeia.
Em chusmas,
unidos, é vê-los no escuro
- Que até
fazem dó! –
espectros da
fome, sair das tabernas,
borrachos,
cantando, cambadas as pernas,
Os olhos
mortiços e as bocas em ó ...
Um canta em
voz alta; respondem-lhe os outros,
E cresce,
enche o ar
um coro
arrastado, soturno, indolente,
e a alma do
povo, parece que a gente
a sente cá
dentro do peito a chorar!
Trabalham,
moirejam de dia, e à noite,
coitados, lá
vão,
fugindo à
gleba, libertos do ancinho,
embora haja
fome, beber, porque o vinho
alegra e é
por isso melhor do que o pão.
Nas praças
desertas abraçam-se em grupos,
meu Deus,
que tristeza!
E os braços
lhes pesam mais leves nos ombros,
que o lenho
das dores, por esses escombros
dos rudes
calvários, nos ombros lhes pesa.
Os bêbados
choram nas noites caladas,
cantando em
segundas,
as queixas
doridas, os ais e os lamentos
que às vezes
se escutam na leva dos ventos,
na voz, no
marulho das águas profundas.
O génio das
coisas soluça naquelas
tristezas
ocultas,
e os tristes
borrachos, cantando nas praças,
sugerem
tragédias, acordam desgraças
que, ó génio
das coisas, na treva sepultas!
Um canta em
voz alta, respondem-lhe os outros,
e cresce,
enche o ar
um coro
arrastado, soturno, indolente,
e a alma do
povo, parece que a gente
a sente cá
dentro do peito a chorar!
(poeta
monsarense nascido faz hoje 161 anos)