terça-feira, agosto 07, 2012

Terra Bárbara 
 
Na minha terra,
as estradas são tortuosas e tristes
como o destino de seu povo errante.
Viajor, 
se ardes em sede, 
se acaso a noite te alcançou, 
bate sem susto no primeiro pouso:
- terás água fresca para sua sede,
- rede cheirosa e branca para o teu sono.  
 
Na minha terra,
o cangaceiro é leal e valente:
jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém - e morre.
 
(Brasil, onde mais energia:
na água, que tem num só destino
do teu Salto das Sete Quedas
ou na vida, que tem mil destinos, 
do teu jagunço aventureiro e nômade?)
Ah, eu sou da terra do seringueiro,
- o intruso
que foi surpreender a puberdade da Amazônia.  

Eu sou da terra onde o homem, seminu, 
planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.
Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá
e fui crescer nos canaviais do Cariri,
entre caboclos belicosos e ágeis.  

Filho de gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos, 
eu sou o índice do meu povo:
se o homem é bom - eu o respeito.
Se gosta de mim - morro por ele.
Se, porque é forte, entender de humilhar-me, 
- ai, sertão!
Eu viveria o teu drama selvagem,
eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,
como antes te acordava ao choro da viola...


(escritor cearense falecido faz hoje 27 anos) 

1 comentário:

jrd disse...

Bárbaro é o poema. Fantástico!

Abraço