voz numa
pedra
Não adoro o
passado
não sou três
vezes mestre
não combinei
nada com as furnas
não é para
isso que eu cá ando
decerto vi
Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui
com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma
nenhuma palavra está completa
nem mesmo em
alemão que as tem tão grandes
assim também
eu nunca te direi o que sei
a não ser
pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo
como o outro: sei que não sei nada
sei muito
bem que soube sempre umas coisas
que isso
pesa
que lanço os
turbilhões e vejo o arco íris
acreditando
ser ele o agente supremo
do coração
do mundo
vaso de
liberdade expurgada do menstruo
rosa viva
diante dos nossos olhos
Ainda longe
longe essa cidade futura
onde «a
poesia não mais ritmará a acção
porque
caminhará adiante dela»
Os
pregadores de morte vão acabar?
Os segadores
do amor vão acabar?
A tortura
dos olhos vai acabar?
Passa-me
então aquele canivete
porque há
imenso que começar a podar
passa não me
olhas como se olha um bruxo
detentor do
milagre da verdade
a machadada
e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está
escrito afinal
(Mário
Cesariny nasceu faz hoje 89 anos)
1 comentário:
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