segunda-feira, fevereiro 13, 2012

NÃO ESPERES O TEMPO

Camarada poeta: se puderes
pega na palavra e não te cales
mais. Digo que não esperes,
para cantar, o tempo da colheita.

Agora a fome é tanta
que a palavra pão também se come.
Quem diz pão diz fome e a fome 
de a não ter não é sobeja.

Digo que a palavra seara faz crescer
o grão da raiva de a não ter.
Digo que a palavra fonte faz jorrar
rios de sede até ao mar.

A palavra trabalho, a palavra suor,
a palavra amiga, a palavra amor.
A palavra precisa, de vendaval ou brisa:
a que denuncia, a que profetiza.

Digo que a palavra que disseres
se pode desfolhar como os malmequeres:
ou muito ou pouco ou tudo ou nada.
O que não pode é ficar calada.


(Carlos Aboim Inglez faleceu a 13 de Fevereiro de 2002)

2 comentários:

Flor de Jasmim disse...

lino
Li para alguém que está aqui ao meu lado, meu marido o "folha seca" que conviveu de perto com o Carlos Aboim e que ficou bastante emocionado ao ouvir as palavras que li deste poema.

Obrigado lino

Beijinho e uma flor

Adélia

jrd disse...

Um Homem que nunca se calou.