sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Hora grande

1

O mar sairá
Das nossas ilhas
Das nossas ruas
Das nossas casas
Das nossas almas...

0 mar irá para o mar
E limpos finalmente do lodo das algas
E libertos do sal do nosso sorriso de enteados
Seremos frutos de nós mesmos
Nascendo da barriga negra da terra...

2

Os náufragos
Do lago da nossa quietação
Erguerão os seus braços de todas as cores
E as suas mãos se fartarão
Da luz de um poente maduro!

0 negreiro estará perdido na légua do tempo
Porque a alma das nossas vozes
Não morrerá no fundo dos porões...

A fome não se alimentará da fome
E voaremos nas asas do Sol
Com o destino na palma da mão!

3

Nas feridas do seu parto
As raízes do nosso umbigo beberão a seiva
E no ventre da "mamã-terra"
Germinarão as sementes das nossas certezas
E nos embriagaremos da carne dos seus frutos...

As crianças nascerão sem metas nos olhos
E as suas mãos sujar-se-ão
Do mel do nosso olhar...

As crianças serão crianças!
Negras e loiras e brancas
Serão pétalas da mesma flor...

Onésimo da Silveira

(poeta cabo-verdiano nascido a 10 de Fevereiro de 1935)

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