sábado, fevereiro 04, 2012

É crua a vida

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.


(poetisa paulista falecida a 4 de Fevereiro de 2004)

2 comentários:

Lídia Borges disse...

A vida é "crua" e "líquida" como um rio que nos corre nas veias.

Um belo poema para degustar, calmamente.

L.B.

jrd disse...

e dura...