terça-feira, março 31, 2009

Ditaduras e ditabrandas Há 45 anos uma ditadura militar sangrenta, que durou mais de 20 anos, abateu-se sobre o Brasil. Milhares foram perseguidos e presos, centenas tiveram de se exilar, muitos - várias centenas, segundo uns, alguns milhares, de acordo com outros - foram barbaramente assassinados ou desapareceram. Ao contrário de outros países da América Latina que viverem sob ditaduras militares - Chile, Argentina, Uruguai, Guatemala - que já começaram a julgar e a punir os algozes, no Brasil não tem sido possível abrir os arquivos do regime militar com vista a reconhecer, julgar e punir os criminosos, em grande parte porque os meios de comunicação social que apoiaram o regime ainda dominam a informação brasileira, a ponto de um deles - A Folha de São Paulo - ter afirmado não ter existido uma ditadura, mas sim uma ditabranda. Entre os muitos exilados esteve o meu cantor brasileiro preferido, Chico Buarque, que escreveu e cantou alguns das canções mais cáusticas para a ditadura, entre as quais Fado Tropical, Cálice e Meu Caro Amigo. Esta última foi escrita em forma de carta musicada dirigida a Augusto Boal, que na altura vivia no exílio, em Lisboa, e incluída no álbum Meus Caros Amigos, de 1976. Para ouvir: Meu Caro Amigo Meu caro amigo me perdoe, por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra ‘tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui ‘tá preta Muita mutreta pra levar a situação Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu não pretendo provocar Nem atiçar suas saudades Mas acontece que não posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra ‘tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui ‘tá preta É pirueta pra cavar o ganha-pão Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu quis até telefonar Mas a tarifa não tem graça Eu ando aflito pra fazer você ficar A par de tudo que se passa Aqui na terra ‘tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui ‘tá preta Muita careta pra engolir a transação E a gente ‘tá engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, também, sem um carinho Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se me permitem, vou tentar lhe remeter Notícias frescas nesse disco Aqui na terra’ tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui ‘tá preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na família, na Cecília e nas crianças O Francis aproveita pra também mandar lembranças A todo o pessoal Adeus Chico Buarque

segunda-feira, março 30, 2009

Sonho domado Sei que é preciso sonhar. Campo sem orvalho, seca A frente de quem não sonha. Quem não sonha o azul do vôo perde seu poder de pássaro. A realidade da relva cresce em sonho no sereno para não ser relva apenas, mas a relva que se sonha. Não vinga o sonho da folha se não crescer incrustado no sonho que se fez árvore. Sonhar, mas sem deixar nunca que o sol do sonho se arraste pelas campinas do vento. É sonhar, mas cavalgando o sonho e inventando o chão para o sonho florescer. Thiago de Mello* *poeta brasileiro que hoje completa 83 anos

domingo, março 29, 2009

Farrapos e trapos Há bem mais de sessenta anos, a minha avó e a minha mãe, pessoas que apenas tinham saber de experiência feito, eram exímias tecedeiras e, entre outras coisas, teciam mantas de farrapos. Essas mantas, que constituíam o único meio de aquecimento das camas lá de casa, eram feitas a partir de recortes finos das roupas rotas que já não tinham possibilidade de ser remendadas e a variedades de cores era decidida a olho pela tecedeira. Eu ainda tenho algumas, de cores claras, que já utilizei nos bancos traseiros do carro quando a filhota era criança, e que agora são utilizadas para dar uma cor minhota ao sofá da sala, quando tenho visitas especiais. Lembrei-me da influência das mantas de farrapos na minha vida quando, no Jornal da Tarde de hoje, vi uma reportagem sobre a Vianatece, uma empresas de tapetes de trapos com sede em Castelo de Neiva, que exporta os seus artigos um pouco para todo o mundo. Ao ver aquelas jovens em teares manuais, recuei às imagens da minha infância, ali reflectida com ligeiras diferenças: na casa onde nasci, no concelho de Ponte do Lima, havia só um tear numa longa varanda, as tecelãs eram a minha avó, a minha mãe ou uma das duas minhas irmãs mais velhas, as lançadeiras eram muito mais pequenas, havia um treco treco do pente muito mais sincopado e os trapos chamavam-se farrapos, porque o nível cultural dos camponeses dos anos 40/50 não lhes permitia chamarem-lhe trapos. Seja como for, os meus parabéns à empresária da Vianatece e os meus votos de que apareçam outras empresas dedicadas, por exemplo, aos produtos de linho. É que na freguesia de onde sou natural, rural e pequena de três mil e tal eleitores, a última pessoa que sabia tratar o linho desde a sementeira até aparecer na mesa sob a forma de toalha, faleceu num dia de Junho (dia 10, mais concretamente) de 1993. Tinha 84 anos, chamava-se Rosa Maria e era minha mãe. As teias que a memória tece!

sábado, março 28, 2009

Introdução à Lógica Com as pernas cruzadas, o Sol à esquerda, os nimbos brancos da chuva inauguram uma nova prática. Algo que transcende o estar sem viver (o dever do prisioneiro é a evasão) no ar. Inauguram-se a relação eterna e frágil, com os músculos tensos no horizonte que é limbo além de nosso estar descalço. Celso Mesquita* *poeta brasileiro

sexta-feira, março 27, 2009

Inverdades
A amiga Sofia obsequiou-me com um prémio de cristal e desafiou-me para identificar três mentiritas entre 9 afirmações que fez no seu Defender o Quadrado, escrever 9 coisas a meu respeito, 3 das quais serão claramente mentiras, e reencaminhar para 5 eleitos que deverão proceder da mesma forma. Penso que as inverdades da Sofia são as seguintes: Gosto muito de ir ao ginásio Tenho a vida cheia de compromissos O cabeleireiro é um dos meus vícios Quanto às afirmações a meu respeito, onde escondo 3 que não são verdadeiras, aqui vão: Sou muito complacente mas detesto hipócritas. Gosto de cozinhar. Tenho muito medo de andar de avião. Adoro lampreia. Não gosto de lulas grelhadas. Gosto de dormir a sesta quando posso. Adoro ervilhas tortas guisadas com carne. Gosto de deambular pelos centros comerciais. Considero-me um conversador nato. Passo o troféu e o desafio aos blogues Inflorescências, Jardim de Luz, Lusosapien, Mar Arável e O Azereiro.

quinta-feira, março 26, 2009

Beleza e...medo A beleza destes amores-perfeitos imersos na neve, em Salzburg, na Áustria ... Imagem: Kerstin Joensson/AP/Guardian ...contrasta com o medo estampado no rosto deste idoso cidadão israelo-árabe residente em Umm al-Fahm, Israel, que sente os efeitos do gás lacrimogéneo lançado pela polícia anti-motim depois de violentos protestos contra uma marcha da extrema-direita israelita através de uma cidade maioritariamente habitada por árabes. Imagem: David Silverman/Getty Images/Guardian

quarta-feira, março 25, 2009

Custos e benefícios O nosso Presidente tentou ontem dar uma lição de contabilidade a quem dela não precisava, mas não disse o que poderia (e, talvez, deveria) ter dito. Com efeito, a grande maioria dos portugueses e todos os decisores políticos sabem quais são os custos e os benefícios de uma auto-estrada. Os custos incluem os imediatamente quantificáveis - projectos, expropriações, construção, manutenção e cobrança de portagens - e os que apenas podem ser estimados - danos ambientais e colaterais, nomeadamente; os benefícios, também compreendem os imediatamente quantificáveis – portagens e rendas dos espaços comerciais, vulgo estações de serviço – e os que só podem ser estimados – diminuição dos percursos e do consumo de combustíveis, maior segurança de condutores e passageiros, acesso facilitado à circulação de mercadorias, melhoria da inclusão social, redução drástica de acidentes em localidades, melhoria da qualidade ambiental das mesmas e todo um conjunto de outros benefícios qualitativos que seria fastidioso enumerar. Quando se trata de uma SCUT, das quais sempre discordei, o "benefício" das portagens é suportado pelos contribuintes. De igual modo, para uma linha TGV Lisboa/Porto (e volta) ou qualquer outra, haverá os custos imediatamente quantificáveis – projectos, construção, manutenção, material circulante e diminuição das receitas das transportadoras aéreas e das exploradoras de auto-estradas - e os que somente podem ser estimados – de novo danos ambientais e colaterais; quanto aos benefícios temos os imediatamente quantificáveis – bilhetes, exploração dos restaurantes, alugueres de espaços nas estações – e os que se obtêm por estimativa – menos consumo de combustível, menos emissões poluentes, maior rapidez e mais segurança nas deslocações, etc. Construir, pois, uma auto-estrada (seja ou não SCUT), um aeroporto ou uma linha de comboio de alta velocidade, pode ser um bom ou um mau investimento, dependendo da análise custo/benefício efectuada e só será um encargo para a gerações vindouras se os custos, no longo prazo, ultrapassarem os benefícios. Caso contrário, a decisão de a iniciar agora ou daqui a 10 anos deve ter exclusivamente a ver com o custo de oportunidade (esgotar a capacidade do aeroporto existente e ficar fora da alta velocidade e mais isolados da Europa são custos de oportunidade a favor do começar já, enquanto a baixa capacidade de endividamento e a necessidade de fazer investimentos alternativos são possíveis custos de oportunidade a favor do adiamento). Daí que o facto de a D. Manuela e os seus porta-vozes virem falar de obras faraónicas relativamente ao TGV seja revelador da falta de honestidade intelectual da claque laranja, já que a D. Manuela era a ministra das finanças quando Portugal acordou com a Espanha prazos para as ligações Porto/Vigo e Lisboa/Madrid. E a insinuação implícita nas palavras do Presidente só piora a situação. Mas aquilo que não ele disse é que já houve em Portugal uma obra faraónica, símbolo máximo do cavaquismo. Refiro-me ao CCB (Centro Comercial de Belém, como eu lhe chamo), com custos enormes – ocupação de um espaço nobre de Lisboa, a colocação de um mamarracho em frente do Mosteiro dos Jerónimos, quase 500 milhões de euros a preços de há 20 anos, custos de manutenção enormes – e benefícios reduzidos – Lisboa já tinha bons museus mal aproveitados, salas condignas para concertos e espectáculos, espaços para grandes eventos. Esta autêntica obra faraónica parece que só serviu para receber a colecção de arte do Joe Berardo, o que é pouco, muito pouco, para quem vem agora dizer cobras e lagartos de dois projectos sobre os quais não tem a coragem de dizer que são desnecessários, provavelmente porque não o são.

terça-feira, março 24, 2009

Demência assassina Como se não fossem suficientes os massacres que levaram e levam a cabo, virou moda entre os soldados sionistas utilizar camisolas onde se gabam de terem matado mulheres grávidas e bebés palestinos e de terem sodomizado líderes do Hamas. Os pormenores macabros deste verdadeiro jogo da morte e do ódio racista podem ser lidos na página pessoal do jornalista judeu Richard Silverstein, embora não seja recomendável a pessoas muito sensíveis.

segunda-feira, março 23, 2009

Um homem às direitas
Mordechay Vanunu é o antigo técnico nuclear israelita que teve a coragem de denunciar à imprensa inglesa, em 1986, que Israel era possuidor ilegal de 300 ogivas nucleares. Pouco tempo depois foi raptado em Roma pela Mossad, torturado e confinado a uma cela de 2 x 2 metros, na qual permaneceu no mais completo isolamento durante 12 anos. Depois cumpriu mais 6 anos de cárcere, durante os quais também não pôde falar com ninguém, sendo-lhe apenas permitidas breves saídas para o pátio, onde era insultado e maltratado por ser considerado um traidor à pátria. Foi solto em 2004, mas com severas restrições de expressão e movimentos. Preso diversas vezes, aguarda em liberdade o julgamento por mais de duas dezenas de “infracções às ordens legais”. Nomeado várias vezes para o prémio Nobel da Paz, foi novamente proposto para o prémio de 2009. No início deste mês escreveu ao Comité do Prémio Nobel da Paz, em Oslo, pedindo que o seu nome seja retirado da lista, pois não pode fazer parte de uma lista de laureados que inclua Simon Peres. LIBERDADE, APENAS LIBERDADE, É AQUILO QUE EU QUERO. Numa sociedade teocrática com0 é Israel, chama-se a esta atitude ter a coluna vertebral direita.

domingo, março 22, 2009

Ignorância Atrevida É a ignorância profunda que inspira o tom dogmático. Aquele que nada sabe pensa ensinar aos outros o que acaba de aprender; aquele que sabe muito mal chega a pensar que o que diz possa ser ignorado, e fala com maior indiferença. As maiores coisas só precisam de ser ditas de forma simples; elas estragam-se com a ênfase: é preciso dizer nobremente as pequenas; elas só se sustentam pela expressão, pelo tom e pela maneira. Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres" Retirado de O Citador (A propósito das tiradas inanes durante a visita papal a África)

sábado, março 21, 2009

A Central das Frases ...já te disse que são os do primeiro... ...e afinal não pudemos telefonar... ...ai nem queira saber o engenheiro... ...se me dão licença eu vou contar... ...penses nisso era só o que faltava... ...não as outras duas é que são as tais... ...mas o senhor presidente autorizava... ...na avenida centenas de pardais... ...de facto muito inteligente... ...ó filha por aqui fazes favor... ...que veio ontem para falar com a gente... ...é mesmo lá ao fim do corredor... Alexandre O’Neill

sexta-feira, março 20, 2009

Quem são os terroristas, afinal?
Várias organizações internacionais sempre afirmaram que Israel tinha massacrado deliberadamente civis palestinos, facto negado pelas forças de ataque israelitas, secundadas por vários auto-intitulados intelectuais de esquerda europeus de ascendência judia, que se desdobraram em louvaminhas a um alegado “alto nível de comportamento moral das tropas israelitas”, salmodiando na imprensa dita de referência as posições dos altos comandos dos invasores e dos governantes do estado terrorista. Mas os massacres de Janeiro na Faixa de Gaza estão, de novo, nos media de todo o mundo, após o jornal israelita Haaretz ter publicado, ontem, algumas declarações de militares que tomaram parte no assassinato deliberado de civis palestinos, chegando um deles a afirmar que “a vida dos palestinos é algo muitíssimo menos importante do que as vidas dos nossos soldados”. Os comandos militares ordenaram, de imediato, uma investigação, que se está mesmo a ver que não vai “descobrir” seja o que for, já que generais na reserva se apressaram a afirmar que vai ser difícil encontrar provas; entretanto, o enviado da ONU, Richard Falk, disse que parece ter havido crimes de guerra da maior magnitude. O assunto atingiu tais proporções que, além de chamadas na primeira página nos grandes jornais dos Estados Unidos ( The Ney York Times, Washington Post e Los Angeles Times) e britânicos (Times e Guardian), até o circunspecto Financial Times lhe dedicou alguma atenção. Bem pode o TPI – se para tanto tiver coragem, do que tenho sérias dúvidas - emitir um mandato de prisão internacional contra os assassinos responsáveis (Olmert, Barak, Livni e outros) que ousem pôr o nariz em alguns países da Europa, que a Mossad vem cá buscá-los! Imagem: Escola do ensino básico destruída na Faixa de Gaza durante a invasão sionista - Tyler Hicks/The New York Times

quarta-feira, março 18, 2009

Miopia, crueldade ou...?
Nos últimos tempos, cada vez que o Papa abre a boca, infelizmente nunca entra mosca, saindo sempre asneira. Foi o que aconteceu mais uma vez com a suas declarações a bordo do avião que o levou aos Camarões, na sua primeira visita ao continente africano, a qual incluirá, também, Angola. Como responsável máximo da Igreja Católica, o Papa tem todo o direito de expressar a sua oposição ao uso do preservativo com base em alegados princípios morais, embora haja muita gente dentro da igreja - padres, freiras e simples leigos, entre os quais me incluo - que consideram tal invocação uma completa aberração. Mas já não tem o direito de, por má informação ou má fé, distorcer as provas científicas sobre o valor dos preservativos na diminuição do alastramento da SIDA. Segundo os mais diversos meios de informação (pesquisando no Google pelas palavra pope, condoms e AIDS obtêm-se nada menos de 1.260.000 resultados), o Papa disse que o problema da SIDA “não se pode resolver com a distribuição de preservativos; pelo contrário, isso aumenta o problema”. A primeira parte da afirmação é, naturalmente, verdadeira, já que o uso de preservativos, por si só, não vai parar a disseminação do HIV. Para travar a doença será necessário um grande esforço educacional, campanhas para reduzir o número de parceiros sexuais e para a adopção de práticas sexuais mais seguras, e muitos outros programas, desde a pesquisa de novos medicamentos até à procura de uma possível vacina, incluindo a distribuição maciça de preservativos e a informação sobre a forma correcta de os utilizar. Mas a segunda parte da afirmação é, muito lamentavelmente, completamente errada, dado não existir nenhuma prova de que o uso do preservativo agrave a epidemia e existem numerosas provas de que os preservativos são vantajosos em muitas circunstâncias. Não posso deixar de me interrogar sobre o que se esconderá por detrás das intenções do Papa ao fazer tais declarações no início da sua primeira deslocação ao continente onde se encontram mais de 22 milhões de seres humanos portadores do vírus HIV, cerca de 2/3 dos infectados a nível mundial. Será que desconhece o retrocesso que houve no Uganda quando uma ministra da Opus Dei resolveu incentivar o programa bushista “só abstinência” ou o massacre de mais de 5 milhões de sul-africanos por causa das políticas de Thabo Mbeki e da sua ministra da saúde? Será que é tão ignorante como o falecido Trujillo, que afirmou que vírus passava através do preservativo? Será que acha que os seus pares devem enganar maliciosamente os crentes, ao afirmar que os preservativos transmitem a Sida, como li que fizeram o cardeal Obando y Bravo da Nicarágua, Raphael Ndingi Mwana’a Nzeki, arcebispo de Nairobi, o cardeal queniano Maurice Otunga ou o cardeal Wamala do Uganda? Ou será que pensa como o arcebispo do Maputo, que dizem ter afirmado “conheço dois países na Europa que fabricam preservativos contendo o vírus da sida. Eles querem acabar com os africanos, é o seu programa. Se nós não nos prevenirmos, seremos exterminados dentro de um século”? É difícil acreditar que uma pessoa tida como “intelectualmente brilhante” comungue de tais disparates. Uma coisa, no entanto, é certa: o Papa é um mau homem de negócios, já que África é o continente onde o Igreja Católica mais tem crescido, com um aumento de 40% nas últimas duas décadas, e os seus ditames, se acatados, contribuirão para um genocídio acelerado. Cartoon: Peter Brookes/Times

terça-feira, março 17, 2009

O grau zero da política Conheci uma velhinha, que apenas sabia ler mal e escrever o seu nome, mas tinha um grande saber de experiência feito, a qual , enquanto outros diziam “não faças aos outros aquilo que não gostavas que te fizessem a ti”, preferia dizer “não penses dos outros aquilo que não gostavas que pensassem de ti”. Vem isto a propósito de uma figura da nossa praça, já com idade suficiente para não dizer asneiras e que, mesmo antes de começarem as campanhas eleitorais, conseguiu arrastar a discussão para o grau zero - ou abaixo de zero - da política, ao afirmar repetidas vezes que “se o Sócrates ganhar as eleições, vai-se vingar daqueles que lhe fizeram frente”. E não digo isto porque tenha votado no partido do Primeiro Ministro ou pense fazê-lo enquanto regular relativamente bem da cabeça. Não, nunca votei em nenhum partido que tenha sido (ou partilhado o) poder, incluindo na altura em que fui obrigado a votar, em 1973, porque estava no serviço militar e as urnas estavam no quartel. Digo-o porque tem de haver um mínimo de decoro na política e não é admissível que uma líder partidária fale, num discurso escrito, pior do que aquele deputado do seu partido que, no calor do debate parlamentar, mandou um adversário para um lugar onde ele forçosamente não cabia, nem que o dito cujo fosse de elefante. Porque a frase do deputado, sem o desculpabilizar, não passou de um desabafo malcriado, ao passo que as palavras da líder são um processo de intenções da mais requintada desvergonha. Se a avó, ex-ministra e ex-quadro superior do Banco de Portugal, toma este tipo de atitudes, que esperar dos imberbes netinhos da jota? Será que um dia destes, em vez de um pinóquio em pé teremos cartazes de um pinóquio de rabo para o ar a ser sodomizado?

segunda-feira, março 16, 2009

Para a fotografia
Parece que o único resultado da reunião do passado Sábado entre os ministros das finanças (e respectivos assessores) dos G20, destinada a preparar a cimeira a realizar em 2 de Abril, foi a fotografia de conjunto. Com efeito, enquanto os Estados Unidos, a Inglaterra e o Japão puseram a tónica nos estímulos dos governos, na esperança de reavivar o consumo, a União Europeia e os europeus continentais mostraram-se desconfiados das medidas de despesa que aumentam o défice e pugnaram por uma maior regulação e supervisão para prevenir uma maior deterioração da economia global. Na minha modesta opinião, ao contrário do que sucede nos Estados Unidos (nada sei do Japão), na União Europeia há regulação mais do que suficiente da actividade financeira e órgãos de supervisão adequados. Parece é que a supervisão anda vendada e ninguém faz cumprir a legislação ou, nas poucas ocasiões em que o fazem, ficam-se por multas pouco mais do que simbólicas, que são aplicadas às empresa, não aos infractores. Quando, nos Estados Unidos, faliram a Enron e a Worldcom, os seus responsáveis levaram entre 15 e 25 anos de prisão. Pelo velho continente, não consta que ninguém tenha sido condenado, antes pelo contrário. Os responsáveis pelo afundanço do Northern Rock, na Inglaterra? Ninguém sabe. O responsável pelos milhares de milhões de perdas do Royal Bank of Scotland? Uma reforma de quase um milhão de euros/ano. Os responsáveis por uma filial na Inglaterra da AIG, que provocaram mais de cem mil milhões de prejuízos? Foram “penalizados” com quase cem milhões em bónus de desempenho - parece que a recompensa por prejuízos gigantescos faz parte dos contratos. Os responsáveis pela insolvência do Hypo alemão? Como diz que disse? Os responsáveis pelas crises do Fortis e do Dexia, que levou à necessidade de intervenção dos governos? Nicles! Face às suas homólogas europeias, até parece que a justiça portuguesa tenta funcionar. Pelo menos há um preso preventivo.
Um poeta maldito António Botto morreu no Rio de Janeiro há 50 anos, na maior miséria, vítima de acidente de viação. Homossexual assumido desde muito cedo, foi afastado, por isso, da função pública, decidindo em 1947 emigrar para o Brasil, para fugir á homofobia do botas e companhia. Como está convicto Eduardo Pitta, que actualmente dirige a reedição da sua obra completa, se Botto tivesse nascido nos Estados Unidos ou na Inglaterra “seria hoje estudado em todas as universidades”. Por cá, foi privado do seu emprego, obrigado a fugir e esquecido durante longos anos. Anda vem... Anda vem..., porque te negas, Carne morena, toda perfume? Porque te calas, Porque esmoreces, Boca vermelha - rosa de lume? Se a luz do dia Te cobre de pejo, Esperemos a noite presos num beijo. Dá-me o infinito gozo De contigo adormecer Devagarinho, sentindo O aroma e o calor Da tua carne, meu amor! E ouve, mancebo alado: Entrega-te, sê contente! - Nem todo o prazer Tem vileza ou tem pecado! Anda, vem!... Dá-me o teu corpo Em troca dos meus desejos... Tenho saudades da vida! Tenho sede dos teus beijos! António Botto

domingo, março 15, 2009

Diferenças Enquanto a primeira dama (a fingir) de um rico e poderoso país plantado no cu da Europa exibia as suas peles por ruas e eventos da Alemanha…
…a primeira dama (a sério) de um pequeno e pobre país encravado entre o Atlântico ocidental e o Pacífico oriental, vestia avental e calçava luvas para servir refeições a sem abrigo.
Perspectivas…

sábado, março 14, 2009

Encontro Procuro os que sabem de mim. Os que disseram ter me ouvido falar. Os que me encontram, quando me perco. Em quantos poemas estou presente? Em qual deles era verdade? Perco-me um pouco todo dia, para me encontrar em tantos outros. Não revelo, nem disfarço. Apenas passo. Mas há momentos em que me demoro. Celso Brito* *poeta brasileiro

sexta-feira, março 13, 2009

Públicas virtudes, vícios privados Uma das coisas que mais me enoja é a hipocrisia. Talvez por ter nascido numa família bastante pobre que, à míngua de meios materiais, tinha profundamente arreigados os valores da honradez e da franqueza; ou talvez por ter vivido a infância e a adolescência a ouvir os relatos das acções revolucionárias de um nazareno de há dois mil anos, que não perdia uma oportunidade para desancar a hipocrisia de escribas e fariseus, de tal forma que as palavras fariseu e hipócrita se tornaram sinónimos nas línguas latinas. Vem isto a propósito de um estudo, levado cabo por Benjamin Edelman, da Harvard Business School, sobre o consumo de pornografia nos Estados Unidos entre 2006 e 2008, nos lares com acesso a banda larga. Publicado no Journal of Economic Perspectives, o estudo mostra que os Estados tradicionalmente dominados pelos republicanos são mais propensos ao consumo de filmes pornográficos online. Ora, como se sabe, esses Estados são, precisamente, os mais conservadores e defensores dos valores familiares tradicionais, aqueles em que, porque a Janet Jackson mostrou uma mama na final da Super Bowl aqui há alguns anos, as pessoas obrigaram as grandes estações de televisão a transmitir os grandes espectáculos desse tipo com um diferimento de tempo suficiente para cortar as imagens que as “ofendem”. A análise das receitas de cartões de crédito de um grande fornecedor de pornografia colocou o ultra-conservador Utah no topo do consumo com 5,47 subscrições por 1000 lares com acesso por banda larga, contra 1,92 por 1000 no Montana, que ocupa o último lugar. Mas, como revelou a New Scientist, há uma tendência política mais ampla, já que 8 dos 10 Estados que mais consomem pornografia votaram John McCain (as excepções foram a Florida e o Hawai), enquanto 6 dos 10 Estados que consomem menos optaram por Barack Obama. E a contradição entre o que se defende publicamente e o que se pratica em privado é mais clara dado o estudo ter mostrado que quanto mais religioso é um Estado mais pornografia consome: Estados onde a maioria dos residentes concordou com a afirmação “eu tenho valores dos tempos antigos acerca da família e do casamento” efectuarem 3,6 mais subscrições por mil habitantes do que Estados onde a maioria dos residentes discordou da afirmação; uma diferença similar surgiu para a afirmação “a SIDA talvez seja um castigo de Deus pelo comportamento sexual imoral”.

quinta-feira, março 12, 2009

PÁRIAS Somos poucos cada vez menos Somos loucos cada vez mais Somos além dessa matéria óbvia que nos faz dizer - tá tudo bem Celso Borges* *poeta brasileiro

quarta-feira, março 11, 2009

Vestido de Armani e Confiança
O nata cá do burgo acha que fica bem dizer que não gosta de futebol, apesar de eu estar disposto a apostar, dobrado contra singelo, que a maioria dela, a cada jogo transmitido pela televisão, se senta no sofá a roer as unhas e a soltar impropérios perante tudo o que corre mal ao seu clube do coração. Pela minha parte, que nunca roí as unhas e não faço parte do escol (apesar de muitos conhecidos, pelo que me ouvem e porque sabem o que eu sei, jurarem a pés juntos que sou mais culto que grande parte dos integrantes da fina flor), não tenho pejo em afirmar que gosto de futebol. Não de qualquer jogo, mas de uma partida bem jogada, sem recurso a violência desmedida, com os participantes a darem o litro até ao apito final, com o árbitro a apitar estritamente o necessário e os treinadores a saberem ler o jogo. Naturalmente, gosto de vários outros desportos, quando praticados por actores de qualidade. De um contra-relógio individual ou de uma subida de montanha no ciclismo, de um jogo do torneio das nações no râguebi, de uma partida de basquetebol da NBA, de hóquei em patins, de hóquei no gelo, de várias modalidades de atletismo, patinagem e natação, e até da belíssima dança dos pés dos pugilistas profissionais, principalmente dos super-pesados. Infelizmente, tenho poucas oportunidades de ver bom desporto, porque não estou disposto a pagar as mensalidades dos canais desportivos da Cabo, pelo menos enquanto estiver no activo. Hoje deu-me para falar de futebol, a propósito do jogo do dia, que se desenrolará em Manchester, apesar de não o poder ver. Dos intervenientes no activo, há dois que merecem a minha consideração: um - o Luís Figo - pelo modo recatado como soube gerir a sua carreira excepcional e outro – o José Mourinho – pela sua qualidade e irreverência. Pode ser que um dia, se vier a ganhar juízo, o puto da Madeira venha a fazer parte da lista. Tempos houve em que julgava o José Mourinho arrogante, e tinha de fazer das tripas coração para lhe reconhecer razão quando trabalhava para o Pinto da Costa. Depois foi para o estrangeiro e, longe das lutas caseiras, deu para perceber que a aparente arrogância era algo de especial, de muito positivo. Pois o José Mourinho foi hoje notícia de relevo naquele que é o diário dos bem pensantes de Nova Iorque e, provavelmente, o jornal mais reputado do mundo, com três chamadas na primeira página da versão digital do jornal e três artigos do respectivo produtor do desporto: um relativamente extenso e encomiástico artigo intitulado Um Treinador Vestido de Armani e Confiança, uma extensa entrevista ao “Special One”, José Mourinho, e uma curta nota sobe o boneco que o imita no “Special 1 TV”, transmitido por um canal por cabo inglês. Eu gostei do que li.

terça-feira, março 10, 2009

Contrastes “Se nós nos juntarmos e tirarmos esta nação das profundezas desta crise, se pusermos o nosso povo de regresso ao trabalho e religarmos o motor da nossa prosperidade, se confrontarmos sem medo os desafios do nosso tempo e convocarmos aquele espírito duradoiro de uma América que não desiste, então algum dia, daqui a anos, os nossos filhos podem dizer aos filhos deles que este foi um tempo em que fizemos, nas palavras esculpidas nesta própria Câmara, alguma coisa diga de ser lembrada” Barack Obama, discurso sobre o Estado da Nação, 23 de Fevereiro de 2009 “O país está de tanga! O país esta de taaangaa!!!” Durão Barroso, PM do rectângulo, Abril de 2002 “Os gajos do continente estão sempre a roubar a Madeira. O Sócrates é um ۺۻ∞∩╒≡♪שּׁאַﭫﭳﮯﺺگ !!♪♫ AJJ em todos as intervenções públicas dos últimos 4 anos “As obras públicas só dão emprego a cabo-verdianos e ucranianos”. “Seria escandaloso que o primeiro-ministro não participasse na Cimeira Europeia, onde se vai discutir a crise mundial, para estar numa festa do Partido Socialista”. “O governo só se preocupa com a imagem”. "O casamento é para procriar." Manuela Ferreira Leite – ideias dispersas para acabar com a crise (a Cimeira Europeia foi um lauto almoço em Bruxelas, à custa dos contribuintes) “Tenho muitas dúvidas de que a Coreia do Norte não seja uma democracia” Bernardino Soares, no Parlamento “Gosto de malhar na oposição de esquerda” Augusto Santos Silva, em reunião da JS “Não podemos deixar que vençam aqueles que fazem política com base na calúnia e nos ataques pessoais”. “É uma campanha negra!” José Sócrates, no Congresso do PS ( a festa da D. Manuela) “Experimentem pôr 2 coelhos numa toca e de certeza teremos coelhinhos, se lá puserem um coelho e uma coelha. Agora ponham 2 notas de 100 euros numa caixinha. Não acontece nada. O capital sozinho não produz nada” Francisco Louçã - RTPN - 7/02/2009 “Vai para o c***lho” José Eduardo Martins, deputado do PSD, invectivando o colega do PS, Afonso Candal

segunda-feira, março 09, 2009

Alcateia Eu, sendo crente, não aceito como meus pastores os lobos a que o amigo Samuel se refere aqui. Não conheço a Constituição brasileira, pelo que não sei se a mesma permite privar alguém da cidadania; mas, se o permitir, o Governo de Lula devia retirá-la ao execrável arcebispo José Cardoso Sobrinho e expulsá-lo do Brasil, por insurreição a soldo de estado estrangeiro. Ao que chegou uma arquidiocese que teve à frente um homem como Hélder da Câmara! Para cúmulo, o homem da cúria fazedor de bispos ainda veio apoiar a iniciativa. Não se pode capá-los?
Elegia para Charles Bukowski Ele dizia que um poema eram poetas egoístas, amargurados traduzidos em loucos recados Nove de março eu tomava um porre saudando outros que tomastes em vida Vomitei luas impossíveis Fui de tudo e fiquei sem nada A madrugada crescia na rua teus passos desapareciam de nós Vários porres pelo porre enquanto Bukowski morre Zeca de Magalhães* *poeta brasileiro

domingo, março 08, 2009

Cheiro O cheiro O sabor da tua boca A baunilha a camélia desfolhada A saliva a saber a leite morno Escutando o rumor das tuas asas Maria Teresa Horta
As minhas rosas Uma rosa Remembrance para a minha mulher Uma rosa Keep In Touch para a minha filhota Uma rosa Blusette para as amigas que me visitam
Uma rosa Seashell para todas as minhas amigas

sábado, março 07, 2009

Saudade A colcha caída, sem mãos para cobrir-me o corpo exausto de não viver repete: onde estas? O amor é feito de hojes Célia Lamounier de Araújo* *poetisa brasileira

sexta-feira, março 06, 2009

Se a moda pega...
O Eduskunta (Parlamento da Finlândia) aprovou uma lei polémica, pioneira na Europa, que autoriza as empresas e organismos públicos a investigar os registos de correio electrónico dos seus empregados para evitar a fuga de segredos industriais. Eu nunca quis ter um Nókia. Seria presságio? Notícia aqui
Adeus, Gucci! Eu chamei capitalismo Gucci à última era do capitalismo. Ele nasceu em meados da década de oitenta - filho bastardo de Roanld Reagan e Margareth Thatcher, com Milton Friedman como fada padrinho e Bernard Madoff como imagem de marca. Foi uma era em que as proposições fundamentais eram que os mercados se podiam auto-regular, os governos deviam ser liberalistas e os seres humanos não eram nada mais do que instrumentos racionais de maximização de lucros; um tempo em que era menos vergonhoso estar endividado do que não ter os últimos ténis Nike ou a última mala de mão Gucci. Para ler aqui, um interessante artigo da economista e escritora inglesa Noreena Hertz, uma das maiores especialista em globalização económica, cuja leitura julgo que será útil mesmo para os que pensam que não há volta a dar ao sistema e que um outro mundo é possível.

quinta-feira, março 05, 2009

Injustamente esquecido Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello morreu há 25 anos. Conheci-o no início da minha adolescência, na primeira metade da década de sessenta, quando se dava ao trabalho de divulgar o folclore português, sobretudo o minhoto, nas festas anuais dos concelhos do distrito de Viana do Castelo, seu distrito de adopção. Sempre com o seu inseparável cigarro (só não os acendia uns nos outros porque um aristocrata não faz isso) e o mesmo ar altivo que mostrava na TV, mas uma pessoa extremamente delicada e com a maior paciência do mundo para explicar o segredo do folclore aos putos. Autor de uma obra riquíssima, tem sido injustamente ignorado, talvez por alguma conotação com o regime pelo facto de ter sido membro dos Júris dos prémios do secretariado da propaganda nacional. Se teve mais alguma conivência, não sei nem me interessa muito. Lembro-me dele porque sempre o considerei um homem bom e porque me ensinou imensas coisas e, não tendo feito de mim um grande seguidor do folclore, tornou-me num indefectível da música de raízes celtas e de toda a música étnica de qualidade (a minha paixão pelo canto gregoriano, pela clássica, pelo rock e pelo jazz, sem esquecer tudo o que é música não pimba de fala portuguesa, veio doutras influências). Cisne Amei-te? Sim. Doidamente! Amei-te com esse amor Que traz vida e foi doente... À beira de ti, as horas Não eram horas: paravam. E, longe de ti, o tempo Era tempo, infelizmente... Ai! esse amor que traz vida, Cor, saúde... e foi doente! Porém, voltavas e, então, Os cardos davam camélias, Os alecrins, açucenas, As aves, brancos lilases, E as ruas, todas morenas, Eram tapetes de flores Onde havia musgo, apenas... E, enquanto subia a Lua, Nas asas do vento brando, O meu sangue ia passando Da minha mão para a tua! Por que te amei? - Ninguém sabe A causa daquele amor Que traz vida e foi doente. Talvez viesse da terra, Quando a terra lembra a carne. Talvez viesse da carne Quando a carne lembra a alma! Talvez viesse da noite Quando a noite lembra o dia. - Talvez viesse de mim. E da minha poesia... Pedro Homem de Mello
Mais dois Depois de Jean-Moise Braitberg ter solicitado a retirada do nome do seu avô do Museu Yad Vashem, foi a vez de os irmãos Michael Neumann e Ocha Neumann exigirem ao Presidente do estado de Israel e ao Director do Museu que de lá seja retirado o nome da sua avó, morta pelos nazis no campo de concentração de Theresienstadt. Depois dos resultados das eleições em Israel, com a extrema direita a ganhar uma relevância que não augura nada de positivo para a política da região, é reconfortante verificar que cada vez mais judeus se opõem às atrocidades de um estado pária gerado e criado a partir do sentimento de culpa da chamada civilização ocidental. Imagem: À esquerda, soldados nazis revistam judeus; à direita, soldados sionistas revistam palestinos.

quarta-feira, março 04, 2009

Nádegas a Declarar Gabriel o Pensador faz hoje 35 anos. Como seu fá desde o primeiro disco, aqui fica para ler e ouvir a excelente sátira Nádegas a Declarar, do seu disco com o mesmo nome lançado em 1999. Ordem e progresso, sua bunda é um sucesso Nádegas a declarar, nádegas a declarar Nádegas a declarar? Claro que não! Eu tenho opinião nesse papo de bundão E vou dizer, mas primeiro você, Fernanda Primeiro as damas, o que que cê manda? Aí, Gabriel, vou logo deixar claro, não é lição de moral Todo mundo tá sabendo que sambar é tropical No país do futebol e carnaval Mexer essa bundinha até que é natural No meu ponto de vista, sem quer ser feminista A bundalização é bastante estimulada Por essa cultura machista, cê sabe... tá cheio de porco-chauvinista Por isso que esse papo não é só pras menininhas É pra todos esses caras que dão força, que dão linha No concurso, na promessa de futuro No programa de TV e no rádio toda hora pra você A-aha! Arrebita a rabeta! A-aha! E me diz, meu bem, o que mais que você tem? A-aha! Arrebita a rabeta! Arrebita bem a bunda, vagabunda, que a bunda é tudo de bom que você tem O que que você tem de bom além do bumbum? Um talento, algum dom? Ou as suas qualidades estão limitadas ao balanço dessa bunda arrebitada? O que é que você tem além da bunda? Pense bem que a pergunta é profunda Não, não é isso menina! Eu não tô falando da sua virilha Que deve ser uma maravilha, mas seu cérebro é menor do que um caroço de ervilha Ô minha filha, acorda pra vida! A sua bunda tá em cima, mas sua moral tá caída A dignidade tá em baixa Você só rebola, só rebola, só rebola e se rebaixa E se encaixa no velho perfil: Mulher objeto em pleno ano dois mil E um, e dois, e três Sempre tem alguém pra ser a bunda da vez Te chamam de celebridade e você acredita Enche o rabo de vaidade e arrebita Você tira até retrato três por quatro de costas Pensa com a bunda e quando abre a boca só sai bos... Talvez você nem seja tão piranha Mas qualquer concurso miss bumbum que tem, você se assanha A-aha! E tira foto fazendo pose de garupa de moto A-aha! Vai sair na revista e o povo vai dizer que você é artista Porque agora bunda é arte, é cultura, é esporte É até filosofia, quase uma religião E se você tiver sorte pode ser seu passaporte para a fama Ou pra cama, pode ser seu ganha-pão Bunda conhecida, bunda milionária Bonitinha mas ordinária Que nem otária na TV, de perna aberta Queima o filme das mulheres e se acha muito esperta Vai, vai lá! Vai entrar na dança, vai usar a poupança Vai ficar orgulhosa sem saber o mau exemplo que tá dando pras crianças Adolescentes, adultas e adultos retardados Que idolatram um simples rebolado (Bando de bundão!!) Aplaudindo a atração (Não pelas idéias mas pelo burrão) (- "Ordem e progresso, sua bunda é um sucesso... - Ai, nádegas a declarar!") (Lombo ambulante, burrão ignorante!!) Sua bunda é alucinante A rabeta arrebenta mas beleza não é tudo Além da forma tem que ter conteúdo Senão você se torna descartável Que nem uma boneca inflável Então encare a realidade com o seu olho da frente E veja a vida de uma forma diferente Porque uma mulher decente pode ser muito mais atraente que uma bunda sorridente Então, garota sangue bom Se liga na missão, se liga nesse toque Ser ou não ser, eis a questão A vida é bem mais que um número no Ibope Deixe a sua mente bem ligada ou vai ficar injuriada Reclamando que não é valorizada Pára pra pensar, bota a bunda no lugar E a cabeça pra funcionar Solta essa bundinha, solta o verso Solta a rima minha filha, solta o verbo na cara do Brasil Que atrás de você virão mais de mil Eu também não sou chegado em celulite Mas eu vou te dar um palpite, exercite a tua mente E não se irrite se eu tô sendo muito franco Mas atualmente ela só pega no tranco Amanhã você vai olhar pra trás E vai ver que o seu colã já não entra mais Vai querer fazer uma lipo, vai querer meter silico E vai continuar pagando mico Ordem e progresso, sua bunda é um sucesso Nádegas a declarar, nádegas a declarar...

terça-feira, março 03, 2009

Sem rumo Há 3 semanas o conceituado jornalista francês Eric Le Boucher publicava, na edição francesa da Slate Magazine, uma coluna em que batia forte e feio na curteza de vistas dos políticos da União Europeia e na sua incapacidade de tomar medidas para fazer face à crise, chegando ao ponto de dizer: Será necessário recorrer ao FMI para meter na ordem a zona euro? Será necessário chegar a essa vergonha? A crise era a oportunidade para desenvolver um maior federalismo económico, orçamental e político. Isso pode ainda acontecer? Pessoalmente, já não acredito. Estamos à espera dos verdadeiros mestres da saída da crise: os Americanos e os Chineses. Mais de uma semana depois, uma tradução inglesa do artigo era publicada no sítio da Slate Magazine Americana com o “sugestivo” título Europa para a América: Nós Rendemo-nos. Pode pensar-se que os jornalistas do Tio Sam gostam de zurzir na Velha e (para eles) Conservadora Europa e alguns até gostam mesmo, ou por só verem o próprio umbigo ou por serem incapazes de entender o modelo europeu. Mas neste caso, para além do autor ser europeu, até penso que o título da tradução adere bem à realidade. Face à possibilidade de bancarrota de vários membros da União e com a Ucrânia perto de ter de suspender os pagamentos ao exterior (com o inevitável corte do gás russo), os dirigentes dos 27 apenas encontraram a alternativa de um lauto almoço em Bruxelas, certamente regado com bons vinhos oferecidos pelos “agricultores” franceses, que "mamam" mais de 40% do orçamento comunitário na famigerada PAC que ninguém tem a coragem de mandar desta para melhor. Depois de bem comidos e melhor bebidos, arrotaram para o umbigo uns dos outros, disseram umas banalidades para comunicação social ver e regressaram felizes aos seus quintais, para tratar dos seus nabos, das suas cebolas e dos seus tomates. Quando se derem conta, a crise comeu a hortaliça toda e já só existem urtigas. Depois queixem-se de que os Chineses vieram tomar conta disto!

segunda-feira, março 02, 2009

Palavra Forte respeitada temida, como o diabo postergada definidora de rumo marco nem sempre acertada incisiva acima de tudo doída como profunda ferida ácida, amarga tantas vezes embargada por lágrimas: adeus Cecília Quadros* *poetisa brasileira

domingo, março 01, 2009

Malabarismos Para um tripeiro, o cúmulo do malabarismo é pôr um pé no pináculo da Torre dos Clérigos, outro na antena de TV do Monte da Virgem, e lavar o cu no rio Douro. Para um alfacinha, o cúmulo do contorcionismo é pôr uma mão no zimbório da Basílica da Estrela, outra no nariz do Cristo Rei, e lavar os “tomates” no rio Tejo. Para alguns intelectuais pequenos burgueses, o cúmulo da desfaçatez é terem consumido grande parte da vida a defender ideias verdadeiramente de esquerda e acabarem por vender a pouca honra que lhes restava a troco de um lugar certo no Parlamento Europeu.