quinta-feira, fevereiro 21, 2008

A ciência do palavrão


Sempre me interroguei sobre os motivos pelos quais, na aldeia minhota onde nasci ( e em tantas outras, portuguesas ou não), não havia (e continua a não haver), meio termo: palavrão, ou se dizia ou se ficava calado.

Não era uma questão religiosa, pois toda a gente era “obrigatoriamente” católica praticante e fazia, no mínimo, a “desobriga” e a comunhão Pascais.

Também não era uma questão cultural nem de estatuto social, pois a “linguagem de carroceiro”, não era proporcional, nem directa nem indirectamente, ao nível cultural ou financeiro (ambos bastante reduzidos mas, mesmo assim, com gradações significativas) dos falantes.

Na casa onde nasci e me criei o palavrão, até o mais suave, era interdito aos residentes, mesmo que fosse corrente no linguajar de tantos que por lá passavam a ajudar nos trabalhos agrícolas.

Lembro-me de a minha falecida mãe, certa vez, ter perguntado a um adulto por que razão é que ele dizia tantas asneiras e da sua resposta imediata: Ó tia Rosa (era assim que eram tratados os mais velhos): para mim, dizer “c******” é como para a tia Rosa dizer “ai, Jesus!” e dizer “estou f*****” é como a tia Rosa dizer “valha-me Deus!”

E se calhar, era mesmo, como parece comprovar um artigo (ou melhor, dois) que li recentemente.

Por que diabos “merda” é palavrão? Aliás, por que a palavra “diabos”, indizível décadas atrás, deixou de ser um? Outra: você já deve ter tropeçado numa pedra e, para revidar, xingou-a de algo como “filha-da-puta”, mesmo sabendo que a dita nem mãe tem.

Pois é: há mais mistérios no universo dos palavrões do que o senso comum imagina. Mas a ciência ajuda a desvendá-los. Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte dentro do cérebro. Enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões “moram” nos porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. É o fundo do cérebro, a parte que controla nossas emoções. Trata-se de uma zona primitiva: se o nosso neocórtex é mais avantajado que o dos outros mamíferos, o sistema límbico é bem parecido. Nossa parte animal fica lá.

Continue a ler este interessante artigo na Super Interessante brasileira. Pode, também, ler esta curiosa análise do palavrão feita por Steven Pinker, Professor de Psicologia em Harvard.

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