terça-feira, junho 16, 2015

Paraíso

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


(David Mourão-Ferreira faleceu faz hoje 19 anos)

2 comentários:

Mar Arável disse...

O nosso amigo poeta

sempre vivo

Flor de Jasmim disse...

Como o tempo passa! Gosto de ler David Mourão.

Beijinho lino
Adélia