segunda-feira, junho 08, 2015

A Sofreguidão de um Instante

Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.

Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.

E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.

Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.


(José Jorge Letria faz hoje 65 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Beber o instante até ao fim.
Um belo poema.

Um abraço