quarta-feira, abril 08, 2015

Drama na cela disciplinar

A aranha monstruosa está com apepsia:
Dou-lhe a aprazada mosca sempre à hora habitual,
Mas não galga o violino como já fazia,
Solerte, amarela e negro, para a fatal
Deglutição. E só já reage à terceira
Fumarada do meu cigarro. Enfim, zangada:
Não me lembrei ver se aquela insulsa rameira,
Já tonta, que lhe dei, estaria tocada
Pelo insecticida de horas antes. Farricoco
De moscardos a boa vida ou domador
Falhado, restam-me as paredes e eu - oco
No cerne - estes fonemas a doer, o calor
E o frio; a loucura, os janízaros bem pouco
Amigos, a colite, os versos sem valor...


(poeta angolano que hoje faria 82 anos)

1 comentário:

jrd disse...

A poesia pode ser um retrato cruel da reclusão.

Abraço