sexta-feira, abril 03, 2015

Amar como as plantas

Amar como amam os mamoeiros
separados de muros
mas pulsando raízes, folha e frutos
no silêncio dos quintais

Amar como as plantas amam, ignoradas
pelos homens e os gatos.
Amor de êxtase, sem ferir
o sono dos ninhos
e o pudor dos outros animais.

Amar como os mamoeiros, angustiados
suando orvalho no amanhecer.
Fazer confidência, usando o código
fabuloso da abelha,
ou enviar convites para o sonho
no tráfego noturno das formigas.

Amar como amam as plantas, fecundar
no voo dos pássaros
e no vento cúmplice.

Amara como os mamoeiros amam
com esse amor casto e fundo,
amor de contida violência
com o silencioso orgasmo
da criação do mundo


(poeta mineiro nascido faz hoje 103 anos)

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