quinta-feira, abril 02, 2015

À mesa

O pão é fresco e triste
e me interpela a voz de quem
ao lado não ocupa tua ausência.

O vinho é forte e triste,
justo cristal no copo
como a memória em mim.

Alto e triste é o relógio.
A morte diz nas horas:
- tempo que vai, não vem.

Talheres se descruzam
como destinos.

O guardanapo limpa
o silêncio dos lábios.

Mas é-me um compromisso
com a vida,
no prato raso como a esperança,
esta intacta maçã
queimando-se em doçura.


(escritora paraense nascida faz hoje 81 anos)

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