terça-feira, dezembro 24, 2013

enquanto é tempo

ninguém foi ver se eu estava na esquina
ou se, pelo menos, minha palavra estava
e dizia a que veio
batendo de frente
de perfil
de quina

a poesia é um escândalo
atrás do outro
o poeta, um bando
movido à cicatriz
e perdigoto

misto de mártir e meretriz
um poço
um passo
carne de pescoço
alma que foi pro espaço

todo santo dia
morre um de tanto beber
outro de atrofia
poucos de tanto escrever
muitos que ainda iriam ser
e não foram nem sombra
do que poderiam ter sido

ah! não farei um último pedido
a vida é um não sei
e a gente sabe
que é de lei
usar antes que acabe

antes que o peito
como um pneu furado
se esvazie, de tal jeito,
que o coração
ainda vivo
seja prensado, paralisado
sem emoção
sem motivo
sem ar
sem ter conjugado
na primeira pessoa
o verbo amar


(poeta paranaense nascido a 24 de Dezembro de 1950)

2 comentários:

Lídia Borges disse...

"ah! não farei um último pedido
a vida é um não sei
e a gente sabe
que é de lei
usar antes que acabe"

Assim seja, então!:)
Feliz Natal!

Um beijo

jrd disse...

É preciso apanhar o amor antes que o tempo fuja.

Abraço