Atropelamento
e Fuga
Era preciso
mais do que silêncio,
era preciso
pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de
nervos, um incêndio,
portas a
bater, correrias.
Mas ficaste
calada,
apetecia-te
chorar mas primeiro tinhas que arranjar o cabelo,
perguntaste-me
as horas, eram 3 da tarde,
já não me
lembro de que dia, talvez de um dia
em que era
eu quem morria,
um dia que
começara mal, tinha deixado
as chaves na
fechadura do lado de dentro da porta,
e agora ali
estavas tu, morta (morta como se
estivesses
morta!), olhando-me em silêncio estendida no asfalto,
e ninguém
perguntava nada e ninguém falava alto!
(Manuel
António Pina nasceu faz hoje 70 anos)
2 comentários:
Como um silêncio "sobre rodas"...
Abraço
Sempre gostei de ler as suas crónicas na "Visão"
Bons sonhos
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