domingo, março 10, 2013

O dom da vida

O dom da vida se imodera e precipita
com a ânsia tanta de se rever ao espelho
que denuncia o velho que me vou tornando.
Ocupo ainda o espaço que me foi dado,

descoheço os que vão chegando e já não
vejo os que ao meu lado me abandonaram.
Sou um estranho num mundo desordenado,
uma ave atrasada de seu bando, mas vivo

sem préstimo e sem comando, sem o fado
de súbito interrompido, menor ou corrido.
Ido passado que me agasta e resta, ida
aresta que me ilumina, lâmina e níquel.

Venho daquele tropel que me poupou a hora
da queda, trago a seda esvoaçante e nunca
rasgada em parte alguma, intacta figura
solitária. A lendária altura não me chamou,
o amor me doou.


(Dórdio Leal Guimarães nasceu faz hoje 75 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Um poeta que devia ser melhor conhecido.
Belo poema.

Abraço