sábado, março 16, 2013

Última paisagem

Quando eu morrer,
se morrer,
quero um dia de sol,
denso, cintilante,
escorrendo-me pelo corpo
seus dedos quentes.
E quero o vento,
um largo vento dos espaços,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
por outros continentes.
E quero a água,
violenta, fria, palpitante,
possuindo-me a alma
a transbordar dos poros.

Se nenhum amor me resguardar
em seu abraço
a dar-me sensação
de que possuo e pertenço
quero pegar a vida
palmo a palmo,
traço a traço,
num dia esfuziante de azul
com o mar na boca e nos braços.

Quando eu morrer,
se morrer,
eu que renasço a cada momento,
criando íntimos laços
por toda natureza,
eu que perduro no eterno
da intensidade,
quero morrer assim:
os olhos na distância
do entendimento
e o corpo penetrando na beleza,
passo a passo.
Meu fim transformado em luz
dentro de mim.


(poetisa paulista que hoje faria 80 anos)

1 comentário:

São disse...

Belo poema...

Bom sábado