sexta-feira, março 22, 2013

Canção a meia voz

A minha vida é sempre ontem
E o meu desejo, amanhã.
Hoje é uma coisa parada.
Nada sei nem faço nada.
Certeza é palavra vã.

Não sou. Ou fui ou serei.
Se ao menos tivesse fé!
Corro atrás duma quimera.
Ou então fico-me à espera,
Porém à espera de quê?

Porque abri as minhas mãos
E deixei fugir o instante
Que havia nelas ainda?
Agora o nada não finda
E o tudo é sempre distante!

Virás tu ao meu encontro,
Ou sou eu que devo achar-te?
Quem pudera descansar!
Ver, ouvir e não pensar!
Ser aqui e em toda a parte!

Chego tarde ou muito cedo.
Ou paro aquém ou além.
Houvesse algo para mim
Sem ter principio nem fim,
Sem ser o mal nem o bem!


(poeta madeirense nascido a 22 de Março de 1897)

1 comentário:

Justine disse...

Muito bom, este poema!