Vida
Vida: 
sensualíssima
mulher de carnes maravilhosas 
cujos passos
são horas 
cadenciadas 
rítmicas 
fatais. 
A cada
movimento do teu corpo 
dispersam
asas de desejos 
que me roçam
a pele 
e encrespam
os nervos na alucinação do «nunca mais». 
Vou seguindo
teus passos 
lutando e
sofrendo 
cantando e
chorando 
e ficam
abertos meus braços: 
nunca te
alcanço! 
Meu suplício
de Tântalo. 
Envelheço...
E tu, Vida,
cada vez mais viçosa 
na oscilação
nervosa 
das tuas
ancas fecundas e sempre virgens! 
À punhalada
dilacero a folhagem 
e abro
clareiras 
na floresta
milenária do meu caminho. 
Humildemente
se rasga e avilta 
no roçar dos
espinhos 
minha carne
dorida. 
E quando
julgo chegada a hora 
meu abraço
de posse fica escancarado no ar! 
Olímpica 
firme 
gloriosa 
tu passas e
não te alcanço, Vida. 
Caio suado
de borco 
no lodo... 
O vento da
noite badala nos ramos 
sarcasmos
canalhas. 
Não avisto a
vida! 
Tenho medo,
grito. 
Creio em
Deus e nos fantásticos ecos 
do meu grito
que vêm de
longe e de perto 
do sul e do
norte 
que me
envolvem 
e esmagam: 
- maldita
selva, maldita selva, 
antes o
deserto, a sede e a morte! 
(escritor
alentejano nascido há 101 anos)
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário