sexta-feira, dezembro 09, 2011

Dá-me a Tua Mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.


(poetisa brasileira de origem ucraniana, falecida a 9 de Dezembro de 1977)

6 comentários:

jrd disse...

POrque há sempre "um e meio"

Manuel Veiga disse...

e nesse "quase-nada" tudo se decide...

abraço

Flor de Jasmim disse...

"existe sempre" que vamos sentir que existe sempre.
Beijo bom fim de semana lino

Jorge Sader Filho disse...

Lispector foi uma poetisa completa.
Um marco na literatura brasileira.

Abraço,
Jorge

São disse...

Tenho que ler um livro desta escritora...

Bom fim de semaana

Sofá Amarelo disse...

Quando o silêncio é o ruído que queremos ouvir, há sempre um intervalo no espaço entre grãos de areia!