segunda-feira, dezembro 06, 2010

Símbolo d’arte

Se o meu verso não fora o agonizar de um lírio,
E o suave funeral de um crisântemo roxo,
Diluindo-se, murchando, à vaga luz de um círio,
Entre o planger de um sino e o gargalhar de um mocho;

Se, essas flores do mal, em pleno desabrocho,
Eu não sentira em mim, num êxtase e em delírio,
Meu orgulho de rei julgara vesgo e frouxo,
Pois a glória de um sol não vale esse martírio.

Se, na terra que piso, algum prêmio ambiciono,
É o deserto, a cabala, o claustro, a esfinge, o outono,
O calmo encanto da noite e a augusta paz da morte...

E o meu símbolo d'arte, o ideal que me fascina,
É a tristeza a florir a graça feminina,
Como um farol pressago a iluminar o norte!


(poeta brasileiro falecido a 6 de Dezembro de 1935)

1 comentário:

Manuel Veiga disse...

admirável soneto. em chave de oiro...

abraços