segunda-feira, maio 03, 2010

Citações roubadas

Quem é original neste mundo? Quem tem o dom inimitável? Quem é capaz de dormir em paz, com a certeza de não ter copiado a palavra do outro, o pensamento do vizinho, a idéia do colega?  

Desisti dessa pretensão de dizer o que ninguém disse antes. De fazer a abordagem que não deixasse margem à dúvida de que eu (este eu que é meu!) penso por conta própria.  

Bela ilusão achar que vou achar um modo inconfundível de escrever. Bela vaidade de fugir à vaia que todos os plagiadores merecem, em meio a alguns aplausos... Bela pretensão que me provoca essa tensão diária, e que aumenta um pouco minha pobre auto-estima.  

Eu, com boas ou más intenções, não importa, sei perfeitamente o quanto é belo e inútil o meu esforço. O esforço de jamais repetir o que outros já produziram em verso e prosa é um esforço belo e inútil. Inútil e belo.  

No entanto, há um jeito que dê jeito nessa história mais ou menos bem contada. Se não posso ser original, que ao menos aproveite a originalidade alheia, com a consciência (pesada!) de quem sabe que nada vem do nada.  

Por isso eu aviso, e dispenso as aspas e o anticaspa. As citações abaixo foram roubadas, furtadas, arrebatadas de outros escritores, pensadores, de outros autores, de pessoas conhecidas ou anônimas.  

Foram roubadas de vocês, de todos nós:  

Cito, logo existo.  

A ocasião faz a citação.  

Só sei que não sei citar a mim mesmo.

Minha terra tem palmtops onde canta, como nunca, Michael Jackson.  

Citar os outros é pensar por conta alheia, e roubar citações sem dizer quem as inventou... é atuar por conta própria.  

Ler é ingressar num mundo de vitórias e derrotas, no qual os sentimentos mais variados vêm à tona.  

Escrever é lembrar-se... para enfim esquecer.  

Cuidado com o que você diz: as suas mentiras podem se tornar a verdade dos outros.  

A vida em sociedade obriga-nos à informação mútua, ou nos tornaremos uns espiões dos outros.  

A primeira coisa a entender com urgência é que não entendemos tudo.
Citar os outros é não citar a si mesmo, e citar os outros sem revelar autores... é recitar o mesmo.  

Caminhando e citando e perseguindo novas citações.  

Estamos condenados à citação.  

O inferno é a citação dos outros.  

Quem cita por último cita melhor. 


*professor e escritor

Publicado no jornal digital Correio da Cidadania

4 comentários:

jrd disse...

E o que há de novo sobre a terra?...

Sofá Amarelo disse...

Não há mal em citar, aliás, passamos o tempo a citar , já pouco se inventa hoje e citar algo que outros inventaram mais não que reforçar as suas ideias ... não há mal em citar...

O Puma disse...

Citemo-nos

de preferencia

a nós proprios

Helenice Priedols disse...

Faltou esta:
Copiar de um é plágio. Copiar de muitos é pesquisa.

Abraços.

PAZ e LUZ