quarta-feira, setembro 23, 2009

Velho Cego, Choravas Velho cego, choravas quando a tua vida era boa, e tinhas em teus olhos o sol: mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas, o que é que esperas, cego, que esperas da dor? No teu canto pareces um menino que nascera sem pés para a terra e sem olhos para o mar como os das bestas que por dentro da noite cega - sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar. Porque se conheces o caminho que leva em dois ou três minutos até à vida nova, velho cego, que esperas, que podes esperar? Se pela mais torpe amargura do destino, animal velho e cego, não sabes o caminho, eu que tenho dois olhos to posso ensinar. Pablo Neruda, in Crepusculário (Tradução de Rui Lage)

2 comentários:

jrd disse...

Porque confessa que viveu.

Mar Arável disse...

Os cegos nem sempre são invisuais