Machado de Assis
E eu acrescento que, se o ridículo matasse, hoje as bandeiras portuguesas estariam a meia haste e teríamos um Presidente interino.
How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quarta-feira, setembro 30, 2009
terça-feira, setembro 29, 2009
segunda-feira, setembro 28, 2009
sábado, setembro 26, 2009
sexta-feira, setembro 25, 2009
A arma
O voto é a minha única arma e vou usá-la mais uma vez nas eleições do próximo Domingo.
Creio que a maioria dos amigos - elas e eles - que me visitam não têm dúvidas sobre o meu perfil de esquerda, mas sempre acrescento que nunca fui no apelo do voto útil e continuo a não ir, nem contra nem a favor, e a prestação dos eleitos com a ajuda do meu voto (e da minha companheira, penso) não me tem feito sentir que os nossos votos sejam um desperdício, muito pelo contrário.
Não tenho ambições de ser presidente de uma eléctrica espanhola, deputado europeu ou gerente de uma editora com nome esquisito mas, mesmo que as tivesse, prefiro, quando morrer, ir deitado de costas num caixão normal, em vez de ir deitado de lado num caixão em forma de meia lua feito por encomenda.
Como sou contestatário por natureza, há muitas coisas com que não concordo nas prestações parlamentares e nas propostas daqueles que vão receber os nossos votos; mas aquilo que nos aproxima ultrapassa largamente aquilo que nos separa.
Posso ser considerado burro, mas não me importo de ser burro ao lado (embora num plano muito inferior) do Zé Carlos, do Zé Gomes Ferreira, do Manuel da Fonseca, do Armindo Rodrigues, do Adriano e de tantos outros, presentes ou, infelizmente, já ausentes.
quinta-feira, setembro 24, 2009
As Armadilhas do Passado
Estudemos as coisas que já não existem. É necessário conhecê-las, ainda que não seja senão para as evitar. As contrafacções do passado tomam nomes falsos e gostam de chamar-se o futuro. Esta alma do outro mundo, o passado, é atreita a falsificar o seu passaporte. Precatemo-nos contra o laço, desconfiemos dela. O passado tem um rosto, que é a superstição, e uma máscara, que é a hipocrisia. Denunciemos-lhe o rosto e arranquemos-lhe a máscara.
Victor Hugo, in Os Miseráveis
quarta-feira, setembro 23, 2009
Velho Cego, Choravas
Velho cego, choravas quando a tua vida
era boa, e tinhas em teus olhos o sol:
mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas,
o que é que esperas, cego, que esperas da dor?
No teu canto pareces um menino que nascera
sem pés para a terra e sem olhos para o mar
como os das bestas que por dentro da noite cega
- sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar.
Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos até à vida nova,
velho cego, que esperas, que podes esperar?
Se pela mais torpe amargura do destino,
animal velho e cego, não sabes o caminho,
eu que tenho dois olhos to posso ensinar.
Pablo Neruda, in Crepusculário
(Tradução de Rui Lage)
terça-feira, setembro 22, 2009
segunda-feira, setembro 21, 2009
Os Juízos Ligeiros da Imprensa
Incontestavelmente foi a imprensa, com a sua maneira superficial e leviana de tudo julgar e decidir, que mais concorreu para dar ao nosso tempo o funesto e já irradicável hábito dos juízos ligeiros. Em todos os séculos se improvisaram estouvadamente opiniões: em nenhum, porém, como no nosso, essa improvisação impudente se tornou a operação corrente e natural do entendimento. Com excepção de alguns filósofos mais metódicos, ou de alguns devotos mais escrupulosos, todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente do penoso trabalho de reflectir. É com impressões que formamos as nossas conclusões. Para louvar ou condenar em política o facto mais complexo, e onde entrem factores múltiplos que mais necessitem de análise, nós largamente nos contentamos com um boato escutado a uma esquina. Para apreciar em literatura o livro mais profundo, apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo ondeante do charuto.
O método do velho Cuvier, de julgar o mastodonte pelo osso, é o que adoptamos, com magnífica inconsciência, para decidir sobre os homens e sobre as obras. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que esplêndida facilidade exclamamos, ou se trate de um estadista, ou se trate de um artista: «É uma besta! É um maroto!» Para exclamar: «É um génio!» ou «É um santo!», oferecemos naturalmente mais resistência. Mas ainda assim, quando uma boa digestão e um fígado livre nos inclinam à benevolência risonha, também concedemos prontamente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa de louros ou a auréola de luz.
Eça de Queirós, in Cartas de Paris
domingo, setembro 20, 2009
VERDADEIRAMENTE
Contra o cidadão,
o pior dos males é a violência.
A pior violência, a mentira.
A pior mentira, a mentira política
- pois dela derivam todos
os outros males e mentiras.
Sei, bem sei, que se mente
até involuntariamente
inocentemente
inconscientemente.
Mente-se religiosamente.
Mente-se jornalisticamente.
Mas, principalmente, mente-se
politicamente
e, politicamente, mente-se
freqüentemente.
E porque mente assim assiduamente,
já não mente o político sorrateiramente,
“respeitosamente”:
ele mente deslavadamente
descaradamente
de-sa-ver-go-nha-da/mente.
E por mentir - politicamente -
tão repetidamente,
tão constantemente,
o político mente... impunemente.
E porque se mente - especialmente politicamente -
tão impunemente,
chegamos à conclusão de que
- paradoxalmente -
já não vivemos em um País de mentira:
vivemos em um País... demente.
Cidadão,
chegou a hora da verdade.
Ao votar na eleição,
não minta para você mesmo.
Vote com consciência.
Vote verdadeiramente.
Vote como quem dá uma porrada.
Pois pelo jeito, só assim, um dia,
toda mentira será castigada.
Edmilson Sanches*
*poeta brasileiro
sexta-feira, setembro 18, 2009
Questões de deontologia
No mesmo dia (ontem) em que o futuro ex-director do jornal do cavaquismo e ponta de lança da AIPAC em Portugal escrevia que o relatório da Comissão da ONU sobre os crimes de guerra cometidos pelos sionistas em Gaza não tinha credibilidade e que Israel tinha toda a razão em contestá-lo, o conceituado jornalista judeu Gideon Levy escrevia no jornal israelita Haaretz acerca do Juiz Richard Goldstone, líder da Comissão : ninguém pode seriamente dizer que Goldstone, um activo e ardente sionista, com profundas ligações a Israel, é um anti-semita. Isso seria ridículo.
A sorte de JMF é que o ridículo não mata porque, se o fizesse, era caso para dizer que tem mais vidas do que um gato. Mas hoje acabou por quase cometer um suicídio em pelota quando, depois de ter sido totalmente despido de credibilidade pelas revelações do DN sobre as pretensas escutas a Belém, veio acusar o SIS e dizer que aquele jornal infringiu a deontologia profissional.
Nos idos de 74/75 um grande crítico de televisão, infelizmente há muito desaparecido, baptizou de “vómito cor de rosa” um jornal impresso nessa cor que, tendo sido uma importante arma de combate à ditadura, se transformou, depois de Abril, num jornaleco tomado de assalto pelos arautos da “revolução a todo o vapor”. Se fosse vivo, o que chamaria Mário Castrim ao Público de hoje? Creio que “vómito cor de laranja” seria a escolha mais plausível.
quinta-feira, setembro 17, 2009
O manicómio
Parece que anda tudo doido.
O feirante quer ser primeiro ministro e afirma-se pronto para governar o país, supõe-se que com a filha do almirante como ministra do mar, o lampião Félix como ministro das finanças, a Seabra (MJ) como ministra da educação e o Casqueiro como ministro dos micro empresários e da extracção de sal em Rio Maior.
A dama do antigamente, émula entusiasta do arremedo de democracia jardinista, vive no tempo dos Filipes, insulta os espanhóis e acirra-lhes os ânimos do PNR (a ver se eles fecham mais um bocadinho a torneira dos rios partilhados) e despreza os emigrantes, pelo menos os cabo-verdianos e os ucranianos.
Parafraseando o José Régio, não sei quem deve governar, só sei que estes dois, não! Chegou-nos um Tenreiro e um botas. Como escreveu o BB, esta senhora não serve para nos governar. E este senhor também não, acrescento eu.
quarta-feira, setembro 16, 2009
O último poema
Somos cinco mil
nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil,
quantos seremos no total,
nas cidades e em todo o país?
Só aqui dez mil mãos que semeiam
e fazem andar as fábricas.
Quanta humanidade,
com fome, frio, pânico, dor
pressão moral, terror e loucura!
Seis de nós se perderam
no espaço das estrelas.
Um morto, um espancado como jamais imaginei
que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores
um saltando no vazio,
outro batendo a cabeça contra a parede,
mas todos com o olhar fixo da morte.
Que espanto causa o rosto do fascismo!
Levam a cabo os seus planos com precisão fantástica,
sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é acto de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus?
Para isso os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número
que não cresce
e que lentamente quererá mais a morte.
Mas prontamente me golpeia a consciência
e vejo esta maré sem pulsar,
mas com o pulsar das máquinas
e os militares mostrando seu rosto de matrona,
cheio de doçura.
E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia!
Somos dez mil mãos a menos
que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do companheiro Presidente
golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim o nosso punho golpeará novamente.
Como me sai mal o canto
quando tenho de cantar o espanto!
Espanto como o que vivo
como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos
momentos do infinito
em que o silêncio e o grito
são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi,
O que tenho sentido e o que sinto
Fará brotar o momento...”
Victor Jara (Estádio de Santiago do Chile, 1973)
terça-feira, setembro 15, 2009
A password
Uma engenheira informática estava a ajudar um colega da empresa a configurar o computador e perguntou-lhe que password ele queria utilizar. O homem, tentando atrapalha-la, disse pénis.
Ela, sem dizer uma palavra e sem se rir, introduziu a password. Quase que morria de riso quando o computador deu a resposta:
PASSWORD REJEITADA: TAMANHO INSUFICIENTE
segunda-feira, setembro 14, 2009
Não Te Rendas Jamais
Procura acrescentar um côvado
à tua altura. Que o mundo está
à míngua de valores
e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus
a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez
dos filisteus. Ergue-te desse oceano
que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto
do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo
e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes.
Não te rendas jamais, nunca te entregues,
foge das redes, expande teu destino.
E caso fiques tão só que nem mesmo um cão
venha te lamber a mão,
atira-te contra as escarpas
de tua angústia e explode
em grito, em raiva, em pranto.
Porque desse teu gesto
há de nascer o Espanto.
Eduardo Alves da Costa *
*poeta carioca
sábado, setembro 12, 2009
Sim, não, sim, não, sim, não, não, sim
A vida é assim - às vezes é o sim que manda, às vezes é o não que dita as regras.
A vida é assim - às vezes é o sim que vem, quando esperávamos o não, ou é o não que aparece de repente, quando achávamos que já era sim.
A vida é assim - uma resposta negativa, um pedido atendido, um sim, um não... alegria, frustração, vitória, decepção, e depois outro não, e logo a seguir aquele sim! E um não de novo, e, no fim do dia, um silencioso sim.
A vida é assim - é rodízio de sins e nãos; é revezamento incansável, gangorra, ora sim, ora não; sim na hora do sim, não na hora do não.
A vida é assim - o avião pousou tranquilamente, ponto para o sim; do jardim fomos expulsos, ponto para o não; conseguimos fechar um negócio, ponto para o sim; nossa proposta foi negada, ponto para o não.
A vida é assim - sim em latim e em mandarim, não em alemão e em catalão.
A vida é assim - ao nascer, ganhamos um sim, que certamente vai se transformar em muitos nãos ao longo da vida; ao morrer, ganhamos um não, que pode ser o começo de muitos eternos sins.
A vida é assim - queremos crer que nenhum não é definitivo, e torcemos para que o sim reveja sua opinião.
A vida é assim - o sim se esconde dentro do não, e o não dentro do sim.
A vida é assim - o sim comendo capim e pudim, o sim tocando tamborim, o sim e o seu festim.
A vida é assim - o não comendo macarrão e mamão, o não tocando violão, o não e sua comemoração. Pois também o não comemora o que tem de positivo.
A vida é assim - o sim para mim, o não para você, o não para mim, o sim para você.
A vida é assim - o sim na televisão, o não no camarim.
A vida é assim - o sim às vezes é ruim e o não é a salvação.
A vida é assim - o sim prepara o não, o não antecipa o sim, o sim convida o não, o não seduz o sim, o sim engravida o não, o não tem um filho sim...
A vida é assim.
Ou não é vida.
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
sexta-feira, setembro 11, 2009
Allende
Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla,
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que congregar todos los odios
y además los aviones y los tanques,
para batir al hombre de la paz
tuvieron que bombardearlo hacerlo llama,
porque el hombre de la paz era una fortaleza.
Para matar al hombre de la paz
tuvieron que desatar la guerra turbia,
para vencer al hombre de la paz
y acallar su voz modesta y taladrante
tuvieron que empujar el terror hasta el abismo
y matar más para seguir matando,
para batir al hombre de la paz
tuvieron que asesinarlo muchas veces
porque el hombre de la paz era una fortaleza.
Para matar al hombre de la paz
tuvieron que imaginar que era una tropa,
una armada, una hueste, una brigada,
tuvieron que creer que era otro ejército,
pero el hombre de la paz era tan sólo un pueblo
y tenía en sus manos un fusil y un mandato
y eran necesarios más tanques más rencores
más bombas más aviones más oprobios
porque el hombre de la paz era una fortaleza.
Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla,
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que afiliarse siempre a la muerte
matar y matar más para seguir matando
y condenarse a la blindada soledad,
para matar al hombre que era un pueblo
tuvieron que quedarse sin el pueblo.
Mário Benedetti
Cartoon: Ivan Lira
quinta-feira, setembro 10, 2009
Contratados
Longa fila de carregadores
domina a estrada
com os passos rápidos
Sobre o dorso
levam pesadas cargas
Vão
olhares longínquos
corações medrosos
braços fortes
sorrisos profundos como águas profundas
Largos meses os separam dos seus
e vão cheios de saudades
e de receio
mas cantam
Fatigados
esgotados de trabalhos
mas cantam
Cheios de injustiças
calados no imo das suas almas
e cantam
Com gritos de protesto
mergulhados nas lágrimas do coração
e cantam
Lá vão
perdem-se na distância
na distância se perdem os seus cantos tristes
Ah!
eles cantam...
Agostinho Neto
quarta-feira, setembro 09, 2009
O flato mestre
A máscara da mentira disfarçada de verdade é como um peido de tamancos em pessoa de corre-corre : quando se solta, faz estrondo, cheira mal e borra a cama.
terça-feira, setembro 08, 2009
segunda-feira, setembro 07, 2009
Eco
a construção do eco
tijolo por tijolo de escuro
a cortina embebe o sentido
se embota em silêncios taciturnos
dois mil passos até a casa
a rua em quase solidão
pisar na manhã molhada
a madrugada urde fumaças
chaminés são quase árvores
rouba-se o tempo de uma lágrima
tempo dos que já se foram
a lama da ordem chama-se caos
lembrar é já ter esquecido
a chave preciosa enche a manhã
Edson Bueno de Camargo*
*poeta brasileiro
domingo, setembro 06, 2009
O estado mínimo
A dona Mané quer implantar o estado mínimo no rectângulo tuga, ao mesmo tempo que promete resolver o problema do desemprego, o que é um atentado à inteligência dos seus concidadãos, já que um estado mínimo implicará um aumento exponencial do desemprego, como passo demonstrar.
Deixa de haver estado civil, passando o estado do cidadão a ser mínimo, em vez de solteiro, casado, viúvo, divorciado, amigado, amancebado ou unido de facto; ora, a inexistência de estado civil tornará desnecessária a actualização de certos documentos, com incidência desastrosa no número de trabalhadores de conservatórias, notários e lojas do cidadão.
Os portugueses passarão a ter um estado de saúde mínimo, em vez de terem um estado de saúde mau, bom ou assim-asssim, pelo que não precisam de ser tratados com urgência: o encerramento de postos de saúde, hospitais, clínicas, consultórios, laboratórios, etc. será inevitável, com o consequente cortejo de despedimentos em massa.
Todas as vias rodoviárias e ferroviárias passam a dispensar qualquer manutenção desde que apresentem um estado mínimo de operacionalidade: mais desemprego.
A brigada de trânsito pode ser extinta, pois deixará de haver excessos de velocidade (o estado da velocidade será mínimo), os condutores apresentarão sempre um estado mínimo em termos de consumo de bebidas alcoólicas, os pneus estarão num estado mínimo de conservação e a viatura, desde que ande, terá um estado mínimo de operacionalidade. Despedimentos na polícia, fecho de fábricas de pneus, de oficinas de reparação de automóveis e de todos os centros de IPO; desemprego a rodos.
A educação passará, também, a ser de um estado mínimo, pelo que mais de metade dos professores passarão a excedentários e irão para o desemprego. A qualidade da justiça será reduzida a um estado ainda mais mínimo, lançando no desemprego juízes, advogados e pessoal dos tribunais.
E podia continuar, mas estes poucos exemplos já nos devem levar para uma taxa de desemprego de mais de 25%. Isso trará convulsões sociais, que serão facilmente resolvidas reduzindo a democracia a um estado mínimo, isto é, suspendendo-a pelo tempo necessário para pôr o país na ordem. O que a dona Mané deve achar bem, mas que aumentará ainda mais o desemprego, pois a Assembleia da República será inútil e as autarquias também. E fecharão as fábricas de gipes, pois o homem de Boliqueime já não precisará deles para transportar as leis que tem de analisar nas férias. Até nem sei se, num estado mínimo, não será melhor eliminar também o órgão Presidência da República e alugar o palácio de Belém ao pai do Afonsinho que, com a ajuda dos seus compadres de além fronteiras, poderá pagar uma renda bem elevada. A bem da nação.
sábado, setembro 05, 2009
«céu muito nublado»
dizia assim o meteorologista
apontando com a vara
para aquilo que convictamente
intitulava de sistema frontal.
leigo em questões do tipo olhei o céu:
um acinzentado enjoativo cobria-o.
optando pela lei do menor esforço
olhei em frente:
um homem sem pés pedia a quem passava
uma coisa que chamava de compaixão.
um pouco mais à frente três crianças
sujas e semi-esfarrapadas
clamavam que a senhora caridade
lhe saciasse a fome alimentícia
pois a outra já ninguém lhe podia tirar
era doença hereditária.
voltei a fixar o céu:
realmente estava nublado.
o meteorologista tinha razão.
só foi pena que tivesse sido incompleto.
António Pires Vicente*
*poeta brigantino
sexta-feira, setembro 04, 2009
Retratos
...a dr.ª Manuela Ferreira Leite é o retrato a sépia e em oval do conservadorismo mais serôdio, mais anacrónico, desde o 25 de Abril. Claro que é uma questão de idade e a marca de uma educação residual e nunca seminal. O espanto é que seja seguida, nesta absurda caminhada para trás, por um grupo de pessoas, cuja singularidade sem igual espelha o que de pior, mais obscuro e mais arbitrário ainda existe em certos sectores da sociedade portuguesa.
Baptista Bastos - in Jornal de Negócios
quinta-feira, setembro 03, 2009
Micro, pequenas e médias
Tempos houve em que apenas um partido de esquerda falava das pequenas (onde se incluíam as micro) e médias empresas, da necessidade de as apoiar, do número de postos de trabalham que representam e da sua importância para a economia.
Os outros, ou se abstinham ou, o que era pior, faziam chacota dizendo que Portugal era um país sem ambição, em que todos queriam ser pequenos e médios e ninguém queria ser grande. Essa era a linguagem utilizada há 10/15 anos pelo pai espiritual da política económica do Paulinho das feiras.
De repente descobriram que falar de micro, pequenas e médias empresas é uma espécie de filão que esperam renda muitos dividendos. De tal forma que os partidos da direita se digladiam pelos direitos de autor da mais pomposa frase sobre o assunto. Parece que não há espelhos no Caldas e na São Caetano.
Imagem: Vasily Fedosenko/Reuters
quarta-feira, setembro 02, 2009
Doze recomendações
Seis coisas a fazer:
1 - Ajudar as pessoas nas suas tarefas diárias (colher, juntar lenha, carregar água, costurar, etc.).
2 - Sempre que possível comprar mercadorias para aqueles que vivem longe dos mercados (facas, sal, agulhas, fios, canetas, papel, etc.).
3 - Nas horas livres, contar pequenas estórias divertidas e simples, úteis à Resistência, mas não revelar segredos.
4 - Ensinar à população a escrita nacional e a higiene básica.
5 - Estudar os costumes de cada região para se familiarizar com eles, de forma a criar uma atmosfera de simpatia no início e então explicar às pessoas gradualmente que diminuam as suas superstições.
6 - Mostrar às pessoas que você é correcto(a), diligente e disciplinado(a).
...e seis a evitar:
1 - Não danificar de nenhuma maneira a terra e as plantações ou as casas e bens das pessoas.
2 - Não insistir em comprar ou tomar emprestado o que as pessoas não desejam vender ou emprestar.
3 - Não levar galinhas vivas para as casas das pessoas nas montanhas.
4 - Nunca faltar com a palavra.
5 - Não ofender a fé e os costumes das pessoas (como mentir perante o altar, levantar os pés mais alto que o coração, tocar música em casa, etc.)
6 - Não fazer ou falar coisas que façam as pessoas pensarem que as desprezamos.
As doze recomendações acima expressas
São do alcance de todos.
Os que amam seu país
Nunca as esquecerão.
Quando as pessoas têm um hábito,
São todas como uma só,
Com bons combatentes e boas pessoas
Tudo será recompensado com o sucesso.
Apenas quando tem uma raiz firme pode uma árvore viver muito
E a vitória é construída com as pessoas como seu alicerce.
Ho Chi Minh
terça-feira, setembro 01, 2009
A campanha negra
Ainda a campanha eleitoral não começou e já cheira a campanha negra, uma chunguice que eu abomino.
Se aparecessem por aí com a teoria da cabala, ainda vá que não vá. Cabala é uma coisa fina, tipo Madona a descer para o palco em mini traje de lantejoulas, com a cabeça a rodopiar à procura do seu Jesus Luz.
Agora campanha negra tem uma conotação rasca com os piores bonecos de Patópolis, nomeadamente a maga Patalógika, toda de negro vestida, ou a desgrenhada madame Min a correr atrás do Mancha Negra, o seu eterno amor não correspondido.
Façam-nos, por isso, o favor de subir um pouco o nível. Se nos querem tratar como miúdos, ao menos dêem-nos a Pequena Sereia ou o Dumbo.
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