sexta-feira, dezembro 21, 2007

O Natal da discórdia Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, diz o velho ditado. E eu tenho procurado não me precipitar e não escrever coisas que me forcem a dar o dito por não dito por escrever a quente e sem me documentar devidamente. Por enquanto, tenho conseguido. Vem isto a propósito de uma grossa polémica que está a ocorrer no Brasil. O projecto da adutora do Rio São Francisco, no nordeste brasileiro, que se destina a transvazar uma pequena parte daquele rio para zonas onde a água é escassa, é um projecto estruturante do governo de Lula da Silva. Dom Luís Cappio é um bispo brasileiro titular de uma diocese que já foi grande mas está agora em decadência, que se encontra há duas semanas em greve de fome (já é a segunda vez) contra o projecto, provavelmente até à morte por inanição – até onde disse que estava disposto a ir - considerando que é pouco provável que o governo recue. Muitas vozes se levantaram em seu apoio, desde o Movimento dos Sem Terra, passando por dois Teólogos da Libertação que muito respeito e de quem divulgo aqui textos com alguma frequência – Leonardo Boff e Frei Betto, até às mais variadas ONG’s que se dizem defensoras do ambiente. As muitas tomadas de posição que li deixaram-me sempre a impressão de que a bota não batia com a perdigota, porque sempre me soou algo estranha uma confluência de ataques a um governo provindos de pessoas que defendem interesses antagónicos. Li um primeiro artigo de Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, intitulado O bispo de Barra quer morrer, extremamente crítico da atitude do bispo e pensei cá para comigo: aqui há gato. As violentas críticas de que foi alvo na caixa de comentários do jornal digital em que escreve levaram-no a publicar um segundo artigo, intitulado precisamente O Natal da discórdia, cuja leitura recomendo vivamente, dado tratar-se de uma peça que me parece exemplar em termos de clareza. Embora se trate de um artigo longo, da sua leitura podem tirar-se vários ensinamentos, o menor dos quais não será, certamente, a vantagem de não escrever sobre aquilo que se não domina, principalmente quando se trata de pessoas que penso que agem de boa fé e que têm, seguramente, milhões de cidadãos que lhes dão ouvidos, sobretudo entre as populações menos letradas, como é o caso dos dois teólogos referidos.

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