terça-feira, dezembro 04, 2007

Eles continuam por aí


Christine Castillo Comer, a simpática senhora da fotografia ao lado, considerada a maior especialista do Estado do Texas em questões de educação em ciências, foi professora de ciências durante 27 anos e directora de ciência da Agência de Educação do Texas durante 9 anos, até que foi obrigada a demitir-se em 7 de Novembro passado.

Barbara Carrol Forrest é uma reputada filósofa estado-unidense, professora de filosofia na Southeastern Louisiana University e co-autora do livro Cavalo de Tróia do Criacionismo – A Cunha do Desígnio Inteligente.

Qual a relação entre as duas personagens?

Embora para a imensa maioria de nós, portugueses e europeus, a teoria da evolução das espécies não mereça qualquer contestação, o mesmo não se passa nos Estados Unidos, onde cerca de metade da população acredita piamente que a terra e todos os seres vivos foram criados recentemente, numa data localizada algures ente dez mil e seis mil anos, e os criacionistas (apoiados pelo inefável Mr. W. Bush) querem introduzir o Desígnio Inteligente* (o termo filosófico para Intelligent Design, muitas vezes traduzido por “Desenho Inteligente”) no currículo escolar de ciências, como alternativa à evolução.

Barbara Forrest, uma das maiores críticas do Desígnio Inteligente, proferiu uma palestra em Austin, no Texas, no passado dia 2 de Novembro, organizada pelo Centro Nacional para a Educação em Ciência, um grupo defensor da teoria da evolução. Christine Castilho Comer, que tinha recebido do Centro uma mensagem electrónica sobre a palestra, reencaminhou-a para uma comunidade online local, como sempre fazia com todos os assuntos ligados à ciência, fosse o aquecimento global, a investigação em células estaminais, ou outros, sem que daí lhe tivesse alguma vez advindo qualquer problema.

Cerca de uma hora depois de ter reencaminhado a mensagem, Christine foi chamada e informada de que Lizette Reynolds, vice comissária para os programas e política estadual e antiga conselheira de Bush enquanto governador do Texas, tinha visto uma cópia da mensagem e tinha-se queixado, apelidando-a de “uma ofensa que exige que se lhe ponha termo”.

Poucos dias depois, Christine foi forçada a demitir-se do seu cargo, que lhe garantia um rendimento anual de 60.000 dólares, apenas por bem desempenhar as suas funções de defender o correcto ensino da ciência aos alunos do ensino básico e secundário. Não faz a mínima ideia do modo como Lizette Reynolds teve um acesso tão rápido à mensagem, mas não deixou de se interrogar: “O que é isto, polícia do pensamento, ou quê?”.

*Quem se interessar pelos argumentos que refutam o Desígnio Inteligente, tem aqui um excelente ensaio sobre o assunto, de acesso livre.

(Imagem de Erich Schlegel para o The New York Times)

1 comentário:

Anónimo disse...

Como é triste o pensamento Americano...
Como cientista nem acredito que se possa censurar a ciência desta maneira :|