sábado, junho 30, 2007

Portento


Portento é o adjectivo que considero justo para qualificar Patrick Wolf, um jovem inglês que completa hoje 24 anos de idade.

Nascido a 30 de Junho de 1983, escreve, compõe, canta e toca um número impressionante de instrumentos: harpa, clavinet, cravo, guitarra, piano, cítara, kantele, órgão, dulcimer dos apalaches, clavicórdio, harmónio, acordeão, teremin, ukulele, viola e violino, são alguns (muitos) deles.

Já com 3 álbuns gravados e vários singles e EP's, vale a pena ouvi-lo ( entre as dezenas disponíveis no You Tube escolhi Accident and Emergency):

Emergency

So come on
Give me the worst and then again
I'm feeling braver than I've ever been
From the skull down to the feet
all of the blood and sweat and meat
and for

Accident Emergency
Terrorist
Catastrophy
Dump this agony and misery
give me
Accident and Emergency

So what happnes when you lose everythin'
You just carry on and with a grin,
Sing!
For all that lovelife has to bring,
And just get yourself back into the ring,
Knock us out,
For

Accident and Emergency,
Terrorists,
Catastrophy,
From this agony and misery,
Hold on for
Accident and Emergency

'Coz if you never lose,
How you gonna know when you've won
And if it's never dark,
How you gonna know the sun,
When it shines,
Got to let it shine,

Accident and Emegency

Bring it out,
The best in me.
DA SOMBRA QUE SOMOS


Da Sombra Que Somos é o segundo livro de poesia de Maria Sofia Magalhães. Com a chancela da portuense Deriva Editores, o livro foi apresentado, ontem, na Livraria Barata, no número 11 da Avenida de Roma, em Lisboa.

Com o compromisso assumido de levar a minha Tita ao aeroporto da Portela pelas 20H00, ainda encontrei tempo para uma breve passagem pela Barata, para saudar a autora e adquirir o meu exemplar autografado. Não deu para esperar pela apresentação “oficial”, aprazada para as 18H30, mas fiz o que me era possível.

A 4 de Julho, no Porto, na Livraria Poetria (Palacete Balsemão à Praça Carlos Alberto), às 21H30, haverá nova apresentação. Para abrir o apetite, aqui fica o poema que deu nome ao livro:

Da sombra que passa
Em momentos de luz
A pele como a taça
Do mel que seduz

Da sombra que somos
Nos dias de mar
Momento em que fomos
Capazes de amar

Da sombra que dou
Quando olhas assim
Para quem te guardou
Nas sobras de mim

Maria Sofia Magalhães

sexta-feira, junho 29, 2007

Sólo tu amor y el agua Sólo tu amor y el agua....Octubre junto al río bañaba los racimos dorados de la tarde, y aquella luna odiosa iba subiendo, clara, ahuyentando las negras violetas de la sombra. Yo iba perdido, náufrago por mares de deseo, cegado por la bruma suave de tu pelo. De tu pelo que ahogaba la voz en mi garganta cuando perdía mi boca en sus horas de niebla. Sólo tu amor y el agua.....El río, dulcemente, callaba sus rumores al pasar por nosotros, y el aire estremecido apenas se atrevía a mover en la orilla las hojas de los álamos. Sólo se oía, dulce como el vuelo de un ángel al rozar con sus alas una estrella dormida, el choque fugitivo que quiere hacerse eterno, de mis labios bebiendo en los tuyos la vida. Lo puro de tus senos me mordía en el pecho con la fragancia tímida de dos lirios silvestres, de dos lirios mecidos por la inocente brisa cuando el verano extiende su ardor por las colinas. La noche se llenaba de olores de membrillo, y mientras en mis manos tu corazón dormía, perdido, acariciante, como un beso lejano, el río suspiraba..... Sólo tu amor y el agua... Pablo García Baena* *Poeta andaluz que celebra hoje 84 anos

quinta-feira, junho 28, 2007

Resiliência e drama ecológico Inegavelmente estamos enfrentando, com o aquecimento global já iniciado, uma situação dramática para o futuro do planeta e da humanidade. Não apenas os grupos ecológicos estão altamente mobilizados mas também grandes empresários e os Estados centrais e periféricos. Vivemos tempos de urgência pois não é impossível que a Terra, repentinamente, entre num estado de caos. Até que ele se transforme em generativo, como ele sempre é, podem ocorrer catástrofes incomensuráveis, atingindo a biosfera e dizimando milhões de seres humanos. Não consideramos esta situação uma tragédia cujo fim seria desastroso, mas uma crise que acrisola, deixa cair o que é agregado e acidental e libera um núcleo de valores, de visões e de práticas alternativas que devem servir de base para um novo ensaio civilizatório. Depende de nós fazermos com que os transtornos climáticos não se transformem em tragédias mas em crises de passagem para um nível melhor na relação ser humano e natureza. É neste contexto que convém trazer à baila o conceito de resiliência, não muito usado entre nós mas com crescente circulação em outros centros de pensamento. O termo possui sua origem na metalurgia e na medicina. Em metalurgia resiliência é a qualidade dos metais recobrarem, sem deformação, seu estado original após sofrerem pesadas pressões. Em medicina do ramo da osteologia é a capacidade dos ossos crescerem corretamente após sofrerem grave fratura. A partir destes campos, o conceito migrou para outras áreas como para a educação, a psicologia, a pedagogia, a ecologia, o gerenciamento de empresas, numa palavra, para todos os fenômenos vivos que implicam flutuações, adaptações, crises e superação de fracassos ou de estresse. Resiliência comporta dois componentes: resistência face às adversidades, capacidade de manter-se inteiro quando submetido a grandes exigências e pressões e em seguida é a capacidade de dar a volta por cima, aprender das derrotas e reconstituir-se, criativamente, ao transformar os aspectos negativos em novas oportunidades e em vantagens. Numa palavra, todos os sistemas complexos adaptativos, em qualquer nível, são sistemas resilientes. Assim como cada pessoa humana e o inteiro sistema-Terra. Os riscos advindos do aquecimento global, da escassez de água potável, do desaparecimento da biodiversidade e da crucificação da Terra que possui um rosto de terceiro-mundo e pende de uma cruz de padecimentos, devem ser encarados menos como fracassos e mais como desafios para mudanças substanciais que enriquecerão nossa vida na única Casa Comum. Resignar-se e nada fazer é a pior das atitudes pois implica renunciar à resiliência e às saídas criativas. Os estudiosos da resiliência nos atestam que para sermos resilientes positivamente precisamos antes de tudo cultivar um vínculo afetivo, no caso, com a Terra: cuidá-la com compreensão, compaixão e amor; aliviar suas dores pelo uso racional e contido de seus recursos, renunciando a toda violência contra seus ecossistemas; o Norte deve praticar uma retirada sustentável no seu afã de consumo para que o Sul possa ter um desenvolvimento sustentável e em harmonia com a comunidade de vida. Importa alimentar otimismo, pois a vida passou por inúmeras devastações e sempre foi resiliente e cresceu em biodiversidade. Decisivo é projetarmos um horizonte utópico que dê sentido às nossas alternativas que irão configurar o novo que nos salvará a todos. Importa manter a saúde num ambiente doentio e assim Gaia será também saudável e benevolente para com todos. Leonardo Boff Publicado no site do autor em 08/06/2007 e aqui afixado com a sua autorização

quarta-feira, junho 27, 2007

Guimarães Rosa


João Guimarães Rosa, nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, a 27 de Junho de 1908, e falecido no Rio de Janeiro, a 19 de Novembro de 1967, foi um médico, escritor e diplomata brasileiro.

A sua obra ficou marcada pela linguagem inovadora, utilizando elementos de linguagem popular e regional, com fortes traços de narrativa falada. A sua grande erudição permitiu-lhe criar inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintácticas, sendo considerado por muitos críticos um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Machado de Assis.

Na verdade, foi um autodidacta que começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando-se no francês quando ainda não tinha 7 anos, como se pode verificar neste trecho da entrevista que deu a uma prima, anos mais tarde:

"Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialectos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polaco, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distracção."

Matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais com 16 anos, tendo começado a exercer Medicina aos 22, no mesmo ano em que se casou com Lígia Cabral Penna, de 16 anos, de quem teve duas filhas.

Como diplomata, o seu primeiro cargo no estrangeiro foi o de Cônsul Adjunto do Brasil em Hamburgo, entre 1938 e 1942. Durante a Segunda Guerra Mundial auxiliou muitos judeus a fugirem para o Brasil através da emissão de vistos em número superior ao das cotas legalmente estabelecidas, tenho ganho, nos pós guerra, o reconhecimento do Estado de Israel.

Em 1963 foi eleito, por unanimidade, para a Academia Brasileira das Letras, mas adiou a cerimónia de posse, porque tinha medo de morrer nesse dia. Acabou por tomar posse apenas em 1967 e, por ironia do destino, faleceu 3 dias mais tarde.

Consciência Cósmica

Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir , se me restasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

João Guimarães Rosa

(Magma- Editora Nova Fronteira)

terça-feira, junho 26, 2007

A mão da limpeza O branco inventou que o negro Quando não suja na entrada Vai sujar na saída, ê Imagina só Vai sujar na saída, ê Imagina só Que mentira danada, ê Na verdade a mão escrava Passava a vida limpando O que o branco sujava, ê Imagina só O que o branco sujava, ê Imagina só O que o negro penava, ê Mesmo depois de abolida a escravidão Negra é a mão De quem faz a limpeza Lavando a roupa encardida, esfregando o chão Negra é a mão É a mão da pureza Negra é a vida consumida ao pé do fogão Negra é a mão Nos preparando a mesa Limpando as manchas do mundo com água e sabão Negra é a mão De imaculada nobreza Na verdade a mão escrava Passava a vida limpando O que o branco sujava, ê Imagina só O que o branco sujava, ê Imagina só Eta branco sujão Gilberto Gil* *No dia do seu 65º aniversário Cantam Gilberto Gil e Chico Buarque

segunda-feira, junho 25, 2007

You’re So Vain You walked into the party Like you were walking onto a yacht Your hat strategically dipped below one eye Your scarf it was apricot You had one eye in the mirror As you watched yourself gavotte And all the girls dreamed That they'd be your partner They'd be your partner, and.... You're so vain You probably think this song is about you You're so vain I'll bet you think this song is about you Don't you? Don't you? You had me several years ago When I was still quite naive Well you said that we made such a pretty pair And that you would never leave But you gave away the things you loved And one of them was me I had some dreams They were clouds in my coffee Clouds in my coffee and.... You're so vain You probably think this song is about you You're so vain I'll bet you think this song is about you Don't you? Don't you? Well I hear you went up to Saratoga And your horse naturally won Then you flew your Lear jet up to Nova Scotia To see the total eclipse of the sun Well, you're where you should be all of the time And when you're not you're with Some underworld spy Or the wife of a close friend Wife of a close friend, and.... You're so vain You probably think this song is about you You're so vain I'll bet you think this song is about you Don't you? Don't you? Carly Simon*

No dia do 62º aniversário - Clique no nome ou título para ouvir

domingo, junho 24, 2007

Earthly If I'd been destined at birth To lie in the lap of the gods, I'd have been reared by a heavenly wet-nurse On the holy milk of the clouds. I'd be god of a stream or a garden, Keeping watch over graves or the corn, - But no - I'm a man, I don't need immortality: A heavenly fate would be awful. I'm glad no one stitched my lips in a smile, Remote from earth's bile and salt. So off you go, violin of Olympus, I can do without your song. Arseny Tarkovsky* (no centenário do seu nascimento) * Poeta russo e pai do realizador Andrei Tarkovsky

sábado, junho 23, 2007

Acorda, Portugal! Pela sua relevância, transcrevo mais uma reflexão afixada no Diário Aberto do Padre Mário de Macieira da Lixa em 20 do corrente:
A Europa comunitária volta a estar em peso em Portugal, quando, por estes dias, o nosso primeiro-ministro assumir a presidência da União Europeia. Aliás, pode dizer-se que já cá está em peso, uma vez que ele já começou, há semanas, a multiplicar viagens e contactos, como preparação para a presidência. Temo, por isso, que o país fique ainda mais à deriva do que já está, durante os próximos seis meses da presidência portuguesa da União. Por outro lado, não vejo que a presidência nos diga respeito a todos, como povo. Não somos tidos nem achados. Provavelmente, só teremos de pagar a factura. No que respeita a tomar decisões, não existimos. Tratam-nos como coisas. Provavelmente, é assim nos 27 países que constituem a União. Se é, estamos perante um verdadeiro desastre europeu. Os cidadãos europeus, de que tanto se fala com orgulho na voz, não passam duma ficção. Tudo acontece nas nossas costas. Sem nós. Reduzem-nos a meros espectadores. Os executivos, e só eles, correm de um lado para o outro. De avião em avião. Multiplicam encontros e reuniões. Parece que trabalham muito. Que estão muito preocupados com o nosso bem-estar e a nossa felicidade. Mas a verdade é que não querem nada connosco. Somos zeros à esquerda. Numa Europa de executivos e de multinacionais, somos zeros à esquerda. O que é gravíssimo. E já nem protestamos. Parece até que preferimos que as coisas sejam assim. Puxar pela cabeça, ter ideias, avançar sugestões e propostas, elencar problemas, encontrar soluções, assumir novas práticas, desencadear dinâmicas de intervenção, numa palavra, sermos cidadãs, cidadãos europeus no pleno sentido da palavra, não é connosco. Com que facilidade abdicamos das nossas capacidades e renunciamos aos nossos deveres comunitários! Castraram-nos e nós consentimos e ainda votamos a favor de quem assim nos trata. Nem sequer nos damos conta de que uma Europa assim é um tremendo desastre. Os executivos cozinham tudo nas nossas costas e, quando dermos por isso, já estaremos com a corda na garganta. Tudo seria diferente, se nenhum passo importante fosse dado na Europa sem a nossa efectiva participação, sem a efectiva participação das cidadãs, dos cidadãos dos 27 países membros. Não apenas dos executivos. Para cúmulo, ainda mais de uns executivos do que de outros. Porque os executivos dos países mais ricos e mais poderosos pesam mais do que os executivos dos países pobres e pequenos como Portugal. Mostra-me o teu orçamento do país e dir-te-ei quanto vales. E é por isso que, mesmo numa União de países, como a Europeia, os grandes continuarão a comer os pequenos, à semelhança do que sucede com os peixes no oceano. Só que as sociedades e os países e a Europa não são meros oceanos. Mas até parece. Porque os executivos fazem tudo para nos manter à margem de tudo. Deliberações, decisões, é só com eles. Nós somos meros consumidores de eleições, cidadãs, cidadãos sem alma, sem garra, sem projectos comuns. Simplesmente passivos. Atentos e reverentes. Submissos. Não há Europa comunitária, enquanto não houver cidadãs, cidadãos participativos. Nada pode ser decidido nas nossas costas. Se consentimos, uma e outra vez, cometemos uma espécie de suicídio colectivo. Demitimo-nos da dimensão maior que nos cabe como pessoas humanas, como cidadãs, cidadãos. Os executivos agradecem. Porque assim ninguém os atrapalha. E eles podem decidir à vontade. Segundo os interesses das grandes multinacionais. Ao serviço das quais todos eles mais ou menos estão. Não sabiam? Quando não são os cidadãos, elas e eles, que governam os países, os continentes e o mundo, as multinacionais ocupam tudo como um enorme polvo e decidem de acordo com os seus interesses corporativos e egoístas. Os executivos dos diferentes países, entregues a si próprios e uns aos outros, sem os respectivos povos, caem fatalmente sob a alçada dos do Dinheiro e do Poder que nunca se submetem a eleições, nem nunca mostram a cara, porque nunca tiveram cara para mostrar. São máfias. De colarinho branco e de mãos bacteriologicamente limpas – os horrendos crimes de sangue que cometem encomendam-nos sempre aos executivos dos países! – sempre sem rosto. Infelizmente, hoje, nem as Igrejas que estão na Europa comunitária se mostram capazes de agitar estas águas paradas em que nos fazem viver. Basta ver como as conferências episcopais dos diversos países e a própria Conferência Episcopal ao nível do continente continuam a passar ao lado de toda esta problemática. Por exemplo, a Conferência Episcopal Portuguesa está, nestes dias, reunida mais uma vez em Fátima. Pensam que é a Europa e a presidência portuguesa da União Europeia que (pre)ocupa os nossos bispos? Nada disso. O que os (pre)ocupa, nesta altura do ano, é “o ministério do Bispo e a arte de presidir e de comunicar”. Vejam só! E, para isso, ainda estão a ser ajudados por especialistas de diversas áreas, como a liturgia, a comunicação social ou o mundo da cultura. Querem, no dizer do respectivo secretário, o Bispo D. Carlos, “apresentar correctamente a fé”. Mas que Fé, pergunto eu? E, comigo, podem perguntar também os portugueses, elas e eles. Sabem ao menos os bispos portugueses que uma Fé que não for jesuânica, comunhão efectiva com a mesma Fé de Jesus, é sempre fonte de alienação e ópio do povo? Temo bem que eles ainda não saibam, porque se neles actuasse já a mesma Fé de Jesus, outro, muito outro seria o seu comportamento pastoral no país. Muito mais profético, muito mais maiêutico, muito mais socrático, muito mais libertador e transformador da sociedade. Quando acordaremos, como país, como sociedade, como Europa comunitária? Quem nos há-de acordar? Onde estão as sentinelas dos povos que façam soar o alarme? Vamos a caminho do abismo e ninguém nos adverte? Onde estão os intelectuais portugueses e europeus? Já se congregaram e funcionam como um todo, como um só corpo na União Europeia? Já se assumem como intelectuais orgânicos? Ou só cuidam dos seus problemas corporativos, de melhores e mais pingues vencimentos mensais? Já têm consciência de que um intelectual que se preze tem que colocar os interesses dos povos acima dos seus próprios interesses? Ou desconhecem que a quem muito foi dado, muito será pedido? Não sabem que são responsáveis pelos seus povos? Se não sabem e muito menos praticam esta responsabilidade, então são intelectuais vendidos aos executivos e às multinacionais da nossa desgraça. Pode-se muito bem atar-lhes uma pesada mó de moinho ao pescoço e lançá-los ao mar. Para que morram como funcionários dos executivos e ressuscitem como seres humanos, irmãos e irmãs dos seus povos, verdadeiros intelectuais orgânicos, mártires vivos a favor dos seus povos. É por aqui que sempre procurei ir, como padre/presbítero da Igreja do Porto. Quando percebi que a instituição eclesiástica queria que eu fosse um seu funcionário atento e reverente, não me submeti. Também não renunciei. Ocupei os postos que me confiaram, mas sem nunca trair o povo no meio de quem vivia e para quem trabalhava. Acabei sempre a servir o povo, mais do que a instituição. E esta, obviamente, não me perdoou. E desde muito cedo deixou de me confiar novas tarefas. Mas já não conseguiu asfixiar-me, porque eu já não conseguia viver sem povo. É nele que continuo a ter os pés, as raízes. É por ele que respiro. Assim deverão ser todos os intelectuais. E todos os homens, todas as mulheres que adquiriram um pouco mais de saber e de consciência crítica do que a generalidade das populações. Os que não forem assim, desumanizam-se e vendem a sua alma aos executivos. Deixam de ser. Tornam-se uns abortos, em lugar de seres humanos. Como os executivos a quem servem. Acorda, Portugal! Acorda, meu Povo! Não vês que te estão a anestesiar todos os dias, para que tu nunca te apercebas para onde te estão a levar?

sexta-feira, junho 22, 2007

Apelo II No dia 22 de Junho de 1940 foi assinado o Armistício entre a Alemanha e a França, que estabelecia as condições oficiais da ocupação alemã e do qual resultou uma França dividida em duas grandes zonas: a zona ocupada e a chamada zona livre sob a autoridade do regime colaboracionista de Vichy. Na noite dessse mesmo dia, Charles de Gaulle, a partir dos microfones da BBC, dirigiu um segundo Apelo aos cidadãos franceses, este com uma audição muito maior do que o primeiro, já aqui referido:
Appel du 22 juin
22 juin 1940
Le gouvernement français, après avoir demandé l’armistice, connaît maintenant les conditions dictées par l’ennemi. Il résulte de ces conditions que les forces françaises de terre, de mer et de l’air seraient entièrement démobilisées, que nos armes seraient livrées, que le territoire français serait totalement occupé et que le Gouvernement français tomberait sous la dépendance de l’Allemagne et de l’Italie. On peut donc dire que cet armistice serait, non seulement une capitulation, mais encore un asservissement. Or, beaucoup de Français n’acceptent pas la capitulation ni la servitude, pour des raisons qui s’appellent l’honneur, le bon sens, l’intérêt supérieur de la Patrie. Je dis l’honneur ! Car la France s’est engagée à ne déposer les armes que d’accord avec les Alliés. Tant que ses Alliés continuent la guerre, son gouvernement n’a pas le droit de se rendre à l’ennemi. Le Gouvernement polonais, le Gouvernement norvégien, le Gouvernement hollandais, le Gouvernement belge, le Gouvernement luxembourgeois, quoique chassés de leur territoire, ont compris ainsi leur devoir. Je dis le bon sens ! Car il est absurde de considérer la lutte comme perdue. Oui, nous avons subi une grande défaite. Un système militaire mauvais, les fautes commises dans la conduite des opérations, l’esprit d’abandon du Gouvernement pendant ces derniers combats, nous ont fait perdre la bataille de France. Mais il nous reste un vaste Empire, une flotte intacte, beaucoup d’or. Il nous reste des alliés, dont les ressources sont immenses et qui dominent les mers. Il nous reste les gigantesques possibilités de l’industrie américaine. Les mêmes conditions de la guerre qui nous ont fait battre par 5 000 avions et 6 000 chars peuvent nous donner, demain, la victoire par 20 000 chars et 20 000 avions. Je dis l’intérêt supérieur de la Patrie ! Car cette guerre n’est pas une guerre franco-allemande qu’une bataille puisse décider. Cette guerre est une guerre mondiale. Nul ne peut prévoir si les peuples qui sont neutres aujourd’hui le resteront demain, ni si les alliés de l’Allemagne resteront toujours ses alliés. Si les forces de la liberté triomphaient finalement de celles de la servitude, quel serait le destin d’une France qui se serait soumise à l’ennemi ? L’honneur, le bon sens, l’intérêt de la Patrie, commandent à tous les Français libres de continuer le combat, là où ils seront et comme ils pourront. Il est, par conséquent, nécessaire de grouper partout où cela se peut une force française aussi grande que possible. Tout ce qui peut être réuni, en fait d’éléments militaires français et de capacités françaises de production d’armement, doit être organisé partout où il y en a. Moi, Général de Gaulle, j’entreprends ici, en Angleterre, cette tâche nationale. J’invite tous les militaires français des armées de terre, de mer et de l’air, j’invite les ingénieurs et les ouvriers français spécialistes de l’armement qui se trouvent en territoire britannique ou qui pourraient y parvenir, à se réunir a moi. J’invite les chefs et les soldats, les marins, les aviateurs des forces françaises de terre, de mer, de l’air, où qu’ils se trouvent actuellement, à se mettre en rapport avec moi. J’invite tous les Français qui veulent rester libres à m’écouter et à me suivre. Vive la France libre dans l’honneur et dans l’indépendance ! (se preferir, pode ler o Apelo na versão inglesa ou espanhola)

quinta-feira, junho 21, 2007

Father’s Old Blue Cardigan Now it hangs on the back of the kitchen chair where I always sit, as it did on the back of the kitchen chair where he always sat. I put it on whenever I come in, as he did, stamping the snow from his boots. I put it on and sit in the dark. He would not have done this. Coldness comes paring down from the moonbone in the sky. His laws were a secret. But I remember the moment at which I knew he was going mad inside his laws. He was standing at the turn of the driveway when I arrived. He had on the blue cardigan with the buttons done up all the way to the top. Not only because it was a hot July afternoon but the look on his face— as a small child who has been dressed by some aunt early in the morning for a long trip on cold trains and windy platforms will sit very straight at the edge of his seat while the shadows like long fingers over the haystacks that sweep past keep shocking him because he is riding backwards. Anne Carson in Men in the Off Hours.
ESPINOSA Gosto de ver-te, grave e solitário, Sob o fumo de esquálida candeia, Nas mãos a ferramenta de operário, E na cabeça a coruscante idéia. E enquanto o pensamento delineia Uma filosofia, o pão diário A tua mão a labutar granjeia E achas na independência o teu salário. Soem cá fora agitações e lutas, Sibile o bafo aspérrimo do inverno, Tu trabalhas, tu pensas, e executas Sóbrio, tranqüilo, desvelado e terno, A lei comum, e morres, e transmutas O suado labor no prêmio eterno. Machado de Assis
Mr. W. volta a atacar

Que me relevem o vulto enorme das letras brasileiras, Machado de Assis, nascido a 21 de Junho de 1839, e a muito interessante poetisa e ensaísta canadiana, Anne Carson, que hoje celebra 57 anos de idade, mas vou ficar-me pela afixação, daqui a pouco, de um poema de cada um deles.

É que Mr. W. – como jocosamente o trata a colunista da “má língua” do The New York Times, Maureen Dowd – voltou a atacar ontem à tarde.

Numa cerimónia realizada na Casa Branca (imagem ao lado), anunciou o seu novo veto a uma lei que permitiria a utilização de fundos federais na investigação em células estaminais embrionárias. A lei, que tinha sido vetada pela primeira vez o ano passado (quando os Republicanos eram maioritários nas duas Câmaras que a tinham aprovado), contou com o apoio de uma maioria significativa quer na Câmara dos Representantes quer no Senado, mas esse apoio não foi suficiente para ultrapassar o veto presidencial, já que nos Estados Unidos o presidente tem o poder de vetar uma lei quantas vezes entender, a menos que esta seja aprovada por maioria qualificada (creio que de 2/3) nas duas Câmaras.

Na sua mensagem de veto ao Congresso, Mr W. disse que a lei tinha ultrapassado um limite ético. “O Congresso enviou-me legislação que iria forçar os contribuintes Americanos, pela primeira vez na nossa história, a financiar a destruição deliberada de embriões humanos”. Mais uma vez, para aplacar a ira de alguns fanáticos religiosos, fez tábua rasa da opinião da grande maioria dos seus compatriotas, mesmo dos seus votantes.

É preciso ter em conta que a lei não previa tal coisa, pois apenas autorizava a utilização de embriões excedentários das clínicas de fertilização, os quais, de qualquer forma, vão ser destruídos porque já não servem para nada. E que são um conjunto de células – a investigação apenas utiliza embriões com menos de 14 dias – que de humano apenas têm o facto de serem algo pertencente à espécie “homo sapiens”.

Ainda tentou mitigar a desilusão ao falar no incentivo a novos estudos focados na derivação de células estaminais a partir do líquido amniótico, da placenta ou da pele. Só que isso não constitui novidade, pois tal investigação já se faz e não foram anunciados novos investimentos, além de que a maioria dos especialistas, incluindo os membros do seu Conselho de Ética, são unânimes na afirmação de que as células estaminais embrionárias são aquelas que oferecem melhores e mais rápidas possibilidades de aplicação terapêutica.

Os doentes de Parkinson, os diabéticos e tantos outros seres humanos afectados com doenças graves para as quais se poderia encontrar cura lá terão de esperar pelo próximo inquilino da Casa Branca. Sim, porque não tenhamos dúvidas de que nesta e em muitas outras áreas ainda são os Estados Unidos quem “puxa a carroça”.

quarta-feira, junho 20, 2007

Os 10 (novos) mandamentos O Vaticano anda preocupado com as mortes na estrada. Tanto que o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes divulgou ontem um documento de 58 páginas intitulado Orientações para a Pastoral da Estrada em que uma das quatro partes é dedicada aos Utilizadores da Estrada (as outras são dedicadas à Prostituição de Rua, aos Meninos de Rua e aos Sem Abrigo). Ainda não tive tempo de ler todo o documento, que só encontrei disponível em italiano e inglês, pelo que vou apenas referir-me aos 10 mandamentos para o bom condutor. Na versão oficial inglesa, são assim definidos: I. You shall not kill. II. The road shall be for you a means of communion between people and not of mortal harm. III. Courtesy, uprightness and prudence will help you deal with unforeseen events. IV. Be charitable and help your neighbour in need, especially victims of accidents. V. Cars shall not be for you an expression of power and domination, and an occasion of sin. VI. Charitably convince the young and not so young not to drive when they are not in a fitting condition to do so. VII. Support the families of accident victims. VIII. Bring guilty motorists and their victims together, at the appropriate time, so that they can undergo the liberating experience of forgiveness. IX. On the road, protect the more vulnerable party. X. Feel responsible towards others. Como se pode ver, nada que o bom senso e os Códigos da Estrada não imponham já aos automobilistas, mas que continuarão, sobretudo o V, a ter muitos prevaricadores. Quer na Itália, onde aspirar a ter um Ferrari para demonstrar poder e influência (e impressionar as senhoras) é considerado um direito de nascença para os homens, quer nos vários países onde os gestos insultuosos (principalmente os dois dedos – mindinho e indicador – abertos, na testa), os gritos, as imprecações e a utilização das viaturas para actividades de natureza mais “íntima”são o dia a dia. Parece que agora os padres vão mesmo ter de saber o Código da Estrada, para poderem aplicar aos “pecadores” penitências condicentes com a gravidade das faltas cometidas.

terça-feira, junho 19, 2007

Construção Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contramão atrapalhando o sábado Chico Buarque de Holanda

(clique no título ou no nome do cantautor para ouvir)

Tanto mar


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim.

No 63º do Chico, ouça aqui o Tanto mar

segunda-feira, junho 18, 2007

O Apelo


O Apelo de 18 de Junho é o nome dado ao discurso que o General De Gaulle pronunciou a partir da BBC, em Londres, no dia 18 de Junho de 1940.

Gravado cerca das 18H00, foi difundido nesse dia pelas 22H00 e repetido no dia seguinte por volta das 16H00. Desde esse dia, aquele Apelo radiofónico é considerado dos mais célebres da história da França.

Este discurso foi um Chamamento à resistência do povo francês, após a derrota face à invasão nazi e à capitulação de Pétain, no dia anterior.

Em 2005 o discurso foi foi incluído pela Unesco no Programa Memórias do Mundo, no qual se recolhem, desde 1997, os documentos considerados de interesse universal, a fim de garantir a sua protecção.

Appel du 18 juin

Charles de Gaulle

18 juin 1940

Les chefs qui, depuis de nombreuses années, sont à la tête des armées françaises, ont formé un gouvernement. Ce gouvernement, alléguant la défaite de nos armées, s’est mis en rapport avec l’ennemi pour cesser le combat.

Certes, nous avons été, nous sommes, submergés par la force mécanique, terrestre et aérienne, de l’ennemi.

Infiniment plus que leur nombre, ce sont les chars, les avions, la tactique des Allemands qui nous font reculer. Ce sont les chars, les avions, la tactique des Allemands qui ont surpris nos chefs au point de les amener là où ils en sont aujourd’hui.

Mais le dernier mot est-il dit ? L’espérance doit-elle disparaître ? La défaite est-elle définitive ? Non !

Croyez-moi, moi qui vous parle en connaissance de cause et vous dis que rien n’est perdu pour la France. Les mêmes moyens qui nous ont vaincus peuvent faire venir un jour la victoire.

Car la France n’est pas seule ! Elle n’est pas seule ! Elle n’est pas seule ! Elle a un vaste Empire derrière elle. Elle peut faire bloc avec l’Empire britannique qui tient la mer et continue la lutte. Elle peut, comme l’Angleterre, utiliser sans limites l’immense industrie des États-Unis.

Cette guerre n’est pas limitée au territoire malheureux de notre pays. Cette guerre n’est pas tranchée par la bataille de France. Cette guerre est une guerre mondiale. Toutes les fautes, tous les retards, toutes les souffrances, n’empêchent pas qu’il y a, dans l’univers, tous les moyens nécessaires pour écraser un jour nos ennemis. Foudroyés aujourd’hui par la force mécanique, nous pourrons vaincre dans l’avenir par une force mécanique supérieure. Le destin du monde est là.

Moi, Général de Gaulle, actuellement à Londres, j’invite les officiers et les soldats français qui se trouvent en territoire britannique ou qui viendraient à s’y trouver, avec leurs armes ou sans leurs armes, j’invite les ingénieurs et les ouvriers spécialistes des industries d’armement qui se trouvent en territoire britannique ou qui viendraient à s’y trouver, à se mettre en rapport avec moi.

Quoi qu’il arrive, la flamme de la résistance française ne doit pas s’éteindre et ne s’éteindra pas.

Demain, comme aujourd’hui, je parlerai à la Radio de Londres.
Olhar longe para frente Depois da publicação dos dados atemorizantes do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) que prevêem grandes transtornos no sistema-Terra e no sistema-vida, o Brasil está ganhando mais e mais interesse internacional. Não é para menos: é a potencia mundial das águas, dotado com a maior biodiversidade do mundo, contendo em seu território as maiores florestas húmidas da Terra, com a maior área agricultável de todo o planeta, com climas para todo tipo de produção de alimentos e fibras. E ainda detém abundantíssima biomassa com tecnologia avançada, capaz de apresentar uma alternativa à matriz energética dominante de base fóssil. Diante desta constatação, o país precisa de um olhar de águia, que vê longe para não cair num auto-engano que o fará desperdiçar uma chance histórica única de ocupar um papel importante na configuração de um novo mundo que há de vir. O risco reside na tentação de o Brasil se contentar apenas com um olhar de galinha que vê perto, ao oferecer uma alternativa intrassistêmica de matriz energética para que a atual civilização consumista, perdulária e anti-ecológica possa continuar. Isso suporia a convicção de que ela tenha ainda futuro, possa ganhar mentes e corações para seus ideais e ser benéfica para a humanidade e para a Terra. Ora, exatamente isso ela não é. Sua vigência e prolongamento pode representar, de forma crescente, uma ameaça ao futuro comum dos humanos e do sistema-Gaia. Não que o Brasil deixe de se valer de suas vantagens comparativas naturais e tecnológicas. Ele deve ajudar a enfrentar a crise energética mundial como passo para um patamar mais alto, visando alcançar um novo paradigma de relação com a natureza, de produção e de consumo. Por isso o Brasil deve olhar mais longe, para além das urgências momentâneas e mirar o novo que ele, mais que outros países, é chamado a moldar. Ele precisa de uma inteligência estratégica pós-relatório do IPCC. Pode vigorosamente animar a elaboração de um novo paradigma civilizatório que tenha como eixo articulador a sustentação de toda a vida e não a acumulação de bens materiais e de serviços. O que está em jogo agora é Gaia e a Humanidade. Seu futuro não é mais garantido pela conjunção de energias e fatores que até agora lhes davam sustentabilidade. A humanidade só viverá se fizer um ato político coletivo de querer viver junto com toda a comunidade de vida. Bem dizia a Carta da Terra:"a escolha a fazer é esta: ou formamos uma aliança para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscamos a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida". Temos fundado temor de que nos estratos estratégicos do Governo falta esta consciência. Vejamos o que consta no atual orçamento: o Ministério do Meio Ambiente tem seus recursos cortados na ordem de 32,7%, passando de 651,2 para 438,5 milhões de reais, menos que o Esporte 643,9 milhões e 13 vezes menos que o Ministério da Defesa que é de 5,82 bilhões de reais. Por que esta diferença? Não temos um inimigo externo potencial. O que temos é o real inimigo global que nos ataca por todos os lados: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Devemos contra-atacar em todas as frentes para garantirmos um efeito global. Caso contrário, a arca de Noé afundará, carregando consigo todos os orçamentos para coisas que não são realmente decisivas. Leonardo Boff Publicado no site do autor em 01/06/2007 e aqui afixado com a sua autorização.

domingo, junho 17, 2007

Taj Mahal


Em 17 de Junho de 1631, ao dar à luz o seu décimo quarto filho, no caso uma filha, morreu Arjumand Banu Begum , conhecida como Mumtaz Mahal.

A sua morte, como a de tantos milhões de mulheres que morreram e morrem de parto, não seria recordada se ela não fosse uma das esposas do imperador mongol, Shah Jahan.

Mumtaz Mahal era uma princesa persa que se casou com o imperador mongol em 1612, com a finalidade de garantir a paz entre os povos.

Se bem que não fosse a sua única esposa, Shah Jahan enamorou-se pedidamente por ela, de tal modo que, após a sua morte, dedicou o resto da sua vida à construção do opulento mausoléu que ficou conhecido como o Taj Mahal, no qual trabalharam cerca de 20.000 operários indús e persas durante 20 anos.

sábado, junho 16, 2007

Presídio Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo. Que dizer do pescoço, às vezes mármore, às vezes linho, lago, tronco de árvore, nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...? E o ventre, inconscientemente como o lodo?... E o morno gradeamento dos teus braços? Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne: é também água, terra, vento, fogo... É sobretudo sombra à despedida; onda de pedra em cada reencontro; no parque da memória o fugidio Vulto da Primavera em pleno Outono... Nem só de carne é feito este presídio, pois no teu corpo existe o mundo todo! David Mourão-Ferreira (No 11º aniversário do seu falecimento)

sexta-feira, junho 15, 2007

Almada Negreiros


Artista multifacetado - pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista - José Sobral de Almada Negreiros, nascido em S. Tomé a 7 de Abril de 1893, faleceu em Lisboa há 37 anos, no dia 15 de Junho de 1970.

Em 1913 apresentou na Escola Internacional de Lisboa a sua primeira exposição individual composta por 90 desenhos, na qual travou conhecimento com Fernando Pessoa, com quem editou a Revista Orpheu, em 1915, juntamente com Mário de Sá Carneiro e Luís de Montalvor.

Júlio Dantas, médico, poeta, jornalista e dramaturgo, a maior figura da intelectualidade da época, afirmou que a revista era feita por gente sem juízo. Com 22 anos apenas, irónico, mordaz e provocador, Almada respondeu com o Manifesto Anti-Dantas, onde escreveu: “Basta pum basta!!!Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim!” O Manisfesto pode ser ouvido aqui, na superior interpretação do grande Mário Viegas.

Após ter passado um ano em Paris para onde foi em 1919, em 1927 parte para Espanha, donde regressará 5 anos depois.

Em 1933, por intermédio de António Ferro, com quem tinha colaborado anos antes, tendo desenhado, até, a capa do seu livro Arte de Bem Morrer, Almada elaborou o cartaz para o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional): Votai uma nova Constituição. É uma colaboração que se inicia. Não com subserviência. Não sem críticas. Mas colaboração, apesar de tudo. Uma mancha que, sendo significativa, não é suficiente para obscurecer toda a sua arte.

A sombra sou eu

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

Almada Negreiros

quinta-feira, junho 14, 2007

O Nosso Amamos o que não conhecemos, o já perdido. O bairro que já foi arredores Os antigos que não nos decepcionaram mais porque são mito e esplendor. Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler. A saudade, não a leitura, da segunda parte do Quixote. O oriente que, na verdade, não existe para o afegão, o persa ou o tártaro. Os mais velhos com quem não conseguiríamos conversar durante um quarto de hora. As mutantes formas da memória, que está feita do esquecido. Os idiomas que mal deciframos. Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais do que um hábito. Os amigos que não podem faltar porque já morreram. O ilimitado nome de Shakespeare. A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa. O xadrez e a álgebra, que não sei. Jorge Luis Borges (no 21º aniversário da sua morte) Tradução de Cleber Teixeira, Walter Costa e Raúl Antelo

quarta-feira, junho 13, 2007

10º Aniversário


















Morreu aos 51 anos de idade, vitimado por um linfoma, no dia 13 de Junho de 1997.

Chamava-se Alberto Raposo Pidwell Tavares, mas ficou conecido pelo pseudónimo de Al Berto.

Infinita melancolia

os ossos encheram-se de lodo e
eu comprei um albatroz empalhado
para te vigiar a alma - ao anoitecer

é com os dedos incendiados que enterro
os dias - esta poeira brilhante
que se desprende dos cedros e cai
na fissura entre a máscara e o rosto

um lume maligno solta-se então das águas
a pele adquire o sabor do estuque e do bolor
não há morte ou paixão
que esta cidade não conheça - mas o corpo

não se lembra de tudo - a noite ardendo
desperta o coração - este palácio de plâncton
e de fantasmas com asas de sombra

depois
talvez se ouça o canto quase límpido
do mundo - cinzas onde mergulho
para abrir o tempo e visitar tuas mãos
que a lucidez do amor escureceu
Al Berto - últimos poemas

terça-feira, junho 12, 2007

Sempre actual


O Zé Povinho faz hoje 132, pois apareceu pela primeira vez no 5º exemplar d'A Lanterna Mágica a 12 de Junho de 1875, num desenho alusivo aos impostos que então, como agora, massacravam os portugueses.

Saído da pena de Rafael Bordalo Pinheiro, o sucesso do Povinho foi tal que o autor acabou por recriar no barro, em tinteiros, cinzeiros e apitos, aquela que é, ainda hoje, figura-símbolo do povo português.



POIS BONS-DIAS MEUS SENHORES...

Ainda não se deram bem conta da minha existência. E sou personagem importante, o meu nome é Zé Povinho. Lá mais para o fim do século hei-de ser bem representado mas quem me vai dar vida ainda não nasceu.

O país anda às voltas. Parece que não se entendem. Isto do Rei ter fugido para o Brasil veio trazer grandes complicações. Ora uns, ora outros, todos querem o poder.

Como se não bastasse a política, juntou-se-lhe uma guerra de irmãos - D. Pedro (o Liberal), D. Miguel (o Absolutista). E o poder vai saltando de mãos durante algum tempo até que as coisas se estabilizem.

No meio cá ando eu. Lá vou observando o que se passa. Não sou político, mas vou tirando as minhas conclusões. Não é que elas valham muito agora, mas há-de chegar um dia que todos encherão a boca com o meu nome. Aguento como posso, e quando as coisas me irritam, encho-me de força. Arreda que vai tudo em frente. Não acreditam?
Pois bem, eu vos conto.

Lá por volta de 1842, estava tudo mais sereno quando um camponês, vindo da Beira, faz um golpe de direita que o leva ao poder. Não, não é o tal, este chama-se Costa Cabral e é formado em Direito e o outro será em Finanças. Só que às vezes, com homens da mesma laia, a história repete-se...

A ditadura não é do meu agrado. Em 1846 vem a proibição de enterrar os mortos nas igrejas. Mais me faz desconfiar a história dos registos de propriedades. Só me faltava agora virem mandar nas nossas terras, e ao que consta querem vendê-las aos estrangeiros. Eu rebento. Pego nas forquilhas, nas enxadas, e vou em frente. Não é o governo que se vem meter agora nos meus assuntos. A revolta é geral. Depressa se espalha pelo país. Começo lá no Norte e vou descendo por aí abaixo. Chamam-lhe Maria da Fonte. Mas eu acho que sou apenas eu - o povo. Repito: o meu nome é Zé Povinho, pois então!

Tudo se complica, depressa a revolta se transforma em guerra civil - é a Patuleia.


Continue a ler aqui o saboroso texto de Cristina Vaz
É tempo de dizer basta! Porque estou plenamente de acordo com os dizeres do Padre Mário de Macieira da Lixa, transcrevo, na íntegra, o seu "desabafo" de 4 de Junho:
Um mês depois, os pais da menina inglesa desaparecida na Praia da Luz, no Algarve, insistem na mediatização do seu drama. Para seu mal. E para mal de toda a sociedade portuguesa. Deveriam ter-se limitado a confiar o caso à investigação policial e sair de cena, logo após o primeiro momento do sucedido. Deveriam ter regressado ao país e ao exercício da sua profissão de médicos. Pelos vistos, ninguém os convenceu nesse sentido. E agora, nem eles sabem como desligar-se do teledrama em que se meteram e alimentam. O caso tornou-se num beco sem saída. Profundamente doentio para eles e para a generalidade da sociedade. A toda a hora e instante, mexem na ferida. E não a deixam cicatrizar. Doentiamente, querem obrigar a vida a parar. E a impor o seu drama a toda a sociedade portuguesa e ocidental. Para tanto, não hesitam em sair por aí a viajar pelos países, com os jornalistas à perna. Já foram a Roma falar com o papa Bento XVI que, estranhamente, se prestou a conversar uns segundos com eles, perante as câmaras de televisão. E ainda aceitou fazer de conta que abençoou uma foto da menina, como quem força simbolicamente o seu aparecimento. Tudo em vão, evidentemente. Há outros dramas, todos os dias, iguais a este e piores do que este. Mas, de há um mês para cá, ninguém os vê ou ouve falar deles. Só este tem espaço nas televisões. Estamos, por isso, à beira de nos tornarmos numa sociedade em estado de esquizofrenia. E sem saída. Primeiro, quiseram-nos convencer que o caso era não de polícia e de investigação policial, mas de rezas. Bastaria multiplicar as rezas na igreja paroquial da Praia da Luz, as missas católicas, as vigílias, conseguir que o país inteiro rezasse pelo menos uma ave-maria, que a menina apareceria como por milagre. Foi mobilizada a senhora de Fátima. O dia 13 de Maio passado foi o dia escolhido pelos devotos para a menina aparecer. Os milhares de pessoas concentrados em Fátima – a alienação é característica das multidões e dos rebanhos humanos, a consciência crítica e a lucidez só se manifestam em minorias esclarecidas e sábias – rezaram que se fartaram para que a senhora de Fátima trouxesse a menina de volta. Parece que a todo o momento, ela deveria descer como uma aparição naquele recinto público da nossa vergonha, trazida em braços por uns anjos. Tudo em vão. A senhora mostrou mais uma vez o que eu não me canso de dizer que ela é: uma senhora cega, surda e muda. E cruel. Ainda não sabiam? Pois se ela não foi capaz de valer nem sequer às crianças a quem se diz que apareceu e deixou morrer duas delas de pneumónica, como é que iria agora valer a uma criança inglesa desaparecida/raptada em Portugal, quando os respectivos pais descuidadamente jantavam com outros ingleses seus amigos num restaurante das redondezas da casa onde a menina se encontrava sozinha com os outros irmãos gémeos? Por quanto tempo mais vamos ter de suportar as televisões do país a falar deste drama e a mostrar os pais da menina de mão dada a entrar no avião e a sair do avião e os cabelos da mãe da menina enfeitados por fitinhas amarelas e verdes, as cores da esperança, respectivamente, em Inglaterra e Portugal? Livrem-nos deste teledrama, por favor! Tenham piedade de nós, antes que acabemos todos deprimidos e sem esperança. Exijam à Polícia que faça o seu trabalho sem mediatização, mas com eficiência. Que deixem de esperar por milagres que nunca acontecem, a não ser que nós os façamos acontecer com o nosso engenho e arte. E o nosso esforço. Exijam que a Polícia apure as suas técnicas, pois para isso existe e é contratada. Deixem-se de rezas manifestamente pagãs, que em lugar de ajudarem, só alienam quem as faz. Deixem-se de invocar o santo nome de Deus em vão. Deixem-se de correr para o templo da paróquia da Praia da Luz. Reconheçamos, isso sim, que a sociedade que estamos a criar é uma sociedade inumana, propícia ao aparecimento de monstros humanos, em lugar de seres humanos. E mudemos de rumo e de postura. Sejamos humanos, a começar pelas opções de modelos económicos e políticos que informam as nossas sociedades ocidentais. É sabido que quem semeia ventos colhe tempestades, e que quem semeia economias e políticas sem entranhas de humanidade colhe monstros humanos. Mudemos de rumo e de posturas. Reaprendamos a ser humanos. E as nossas crianças poderão voltar a ficar sozinhas em casa, porque quem lhes aparecer nunca será para lhes fazer mal, só poderá ser para brincar com elas e saborear da sua saudável e fecunda companhia. Haja, pois, quem convença os pais da menina inglesa desaparecida a regressarem ao seu país, para retomarem a sua vida de profissionais da medicina. Agora sem a filha que descuidadamente deixaram que fosse raptada. Mas com os dois gémeos que lhes restam e que precisam da sua presença e do seu cuidado.

segunda-feira, junho 11, 2007

Índios, afrodescendentes e missão da Igreja Seguramente os bispos latino-americanos em Aparecida ao abordar o tema central da missão da Igreja devem se ter confrontado com a questão histórica ainda não resolvida acerca da forma como foram tratados os índios e os afrodescendentes. O cristianismo em geral se mostrou sempre sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico face à alteridade cultural. O outro (o indígena e negro) foi considerado o inimigo, o pagão e o infiel. Contra ele se moveram "guerras justas" e se lhe leu o requerimiento (um documento em latim no qual se devera reconhecer o rei como soberano e o papa como representante de Deus) e caso não fosse aceite se legitimava o sometimento forçado. Não devemos jamais esquecer que nossa sociedade está assentada sobre grande violência, sobre o colonialismo que invadiu nossas terras e obrigou a falar e a pensar nos moldes do outro, sobre o etnocídio indígena com sua quase exterminação, sobre o esclavagismo que reduziu milhões de pessoas a "peças", sobre a dependência atual dos centros metropolitanos que dificulta nosso caminho autônomo e até quer nos reduzir à prescindência. As desigualdades sociais, as hierarquias discriminatórias e a falta de sentido do bem comum se alimentam ainda hoje deste substrato cultural perverso. Por isso com espanto ainda recentemente escutámos que a primeira evangelização não foi uma "imposição nem uma alienação" e que seria "um retrocesso e uma involução" querer resgatar as religiões dos ancestrais. Face a isso não podemos deixar de escutar a voz das vítimas que ecoam até aos dias de hoje, testemunhas do reverso da conquista, como aquela do profeta maia Chilam Balam de Chumayel :"Ai! Entristeçamo-nos porque chegaram…vieram fazer nossas flores murchar para que somente a sua flor vivesse…vieram castrar o sol". E sua lamúria continua:"Entre nós se introduziu a tristeza, se introduziu o cristianismo…Esse foi o princípio de nossa miséria, o princípio de nossa escravidão". Segundo Oswald Splengler em A Decadência do Ocidente, a invasão ibérica significou o maior genocídio da história humana. A destruição foi da ordem de 90% da população. Dos 22 milhões de astecas em 1519 quando Hernán Cortés penetrou no México, só restou um milhão em 1600. E os sobreviventes, no dizer de Jon Sobrino, teólogo censurado recentemente pelo Vaticano, são povos crucificados que pendem da cruz; a missão da Igreja é baixá-los da cruz e fazê-los ressuscitar. Mas a esperança dos indígenas não morreu. Em algumas comunidades andinas dos antigos incas, celebra-se, de tempos em tempos, um ritual de grande significação: amarra-se um condor, a águia dos Andes, no dorso de um touro bravio. Trava-se, diante da multidão, uma luta feroz e dramática, até que o condor com suas potentes bicadas extenua e derruba o touro. Este então é comido por todos. Trata-se de uma metáfora: o touro é o colonizar espanhol e o condor o inca do altiplano andino. Processa-se uma reversão simbólica: o vencedor de ontem é o vencido de hoje. O sonho de liberdade triunfa, pelo menos, simbolicamente. A missão da Igreja é de justiça, não de caridade: reforçar o resgate das culturas antigas com sua alma que é a religião. E em seguida estabelecer um diálogo no qual ambos se complementam, se purificam e se evangelizam mutuamente. Leonardo Boff Publicado no site do autor em 25/05/2007 e aqui afixado com sua autorização.

domingo, junho 10, 2007

Camões


Nos últimos dias quase não tenho visto televisão. Mas ontem, enquanto esperava pelo jogo anual organizado pela Fundação do Luís Figo, vi, de relance, uma notícia que me deixou profundamente triste.

Tratou-se de uma cerimónia em que participavam o Presidente da República e o segundo candidato mais votado, na qual se pôde ouvir os dois a "recitar" versos da primeira estrofe do primeiro Canto dos Lusíadas.

Mal vai um país quando o seu Presidente não faz a mínima ideia do que é recitar alguns alexandrinos da epopeia nacional.

Não se pode exigir ao Professor Cavaco Silva que "diga" poemas da mesma forma que os "diz" Manuel Alegre. Este, além de ser um poeta que vive a poesia, sabe dizê-la como poucos. Só o Mário Viegas, O Ary, o Armando Caldas e poucos mais (que eu conheça ou tenha conhecido) tinham uma semelhante capacidade de "dizer".

Mas a um Presidente da República pede-se que saiba, ao menos, ler bem lido. Até podia ter treinado em casa, pois um ano e tal de mandato já foi tempo suficiente para ler os Lusíadas, saber quantos Cantos tem e não tartamuderar ao ler os quatro primeiros versos. Podia, mesmo, ter pedido ajuda à Dra. Maria que, segundo consta, é pessoa dada às letras. Ter-nos-ia poupado a tão triste figura. É que ser um bom economistas (mesmo na perspectiva liberal), não é, forçosamente, sinónimo de ser um "iliterata" literário.

quarta-feira, junho 06, 2007

Meio da vida


Johann Christian Friedrich Hölderlin foi um grande poeta lírico alemão, cujo trabalho une as escolas clássica e romântica.

Nascido a 20 de Março de 1770 em Lauffen, junto ao rio Neckar e falecido a 6 de Junho de 1843 em Tübingen, ficou praticamente esquecido durante todo o século XIX, apesar de Friedrich Nietzsche ter tido uma grande admiração por ele .

Foi já em pleno século XX que a sua poesia foi redescoberta e valorizada, sendo hoje considerado um dos maiores poetas líricos da poesia alemã e universal.

Durante os seus estudos em Tübingen foi amigo e companheiro de quarto dos futuros filósofos Georg Hegel e Friedrich Schelling, tendo-se influenciado mutuamente. Tem-se, até, especulado que terá sido provavelmente Holderlin quem apresentou a Hegel as ideias de Heráclito acerca da união dos contrários, que o filósofo desenvolveria na sua teoria da dialéctica.

Em 1807 Hölderlin enlouqueceu, passando os 36 anos seguintes entregue aos cuidados da esposa e de um admirador.

Meio da vida

Com peras amarelas
E repleta de rosas silvestres
A terra estende-se por cima do lago,
Vós graciosos cisnes!
E embriagados de beijos
Molhais a cabeça
Na sagrada e sóbria água.

Pobre de mim ! onde irei buscar
Quando for Inverno, as flores e
Onde o brilho do Sol
E as sombras da terra ?
Frios e mudos,
os muros erguem-se;
ao vento, as bandeiras tilintam.

Friedrich Hölderlin

(Tradução de Luís Costa)
Dia D


Após um adiamento de 24 horas devido às condições climatéricas, iniciou-se no dia 6 de Junho de 1944 a Operação Overload, nome de código da Batalha da Normandia, cujo arranque deu início à libertação do continente Europeu da ocupação Nazi.

Quase três milhões de soldados aliados, partindo de vários portos e aeródromos da Inglaterra, cruzaram o canal em direcção às praias da Normandia, na França dominada pelo exército alemão, naquela que ainda é a maior invasão marítima da história.

Dezenas de milhares de soldados aliados morreram ou ficaram feridos nas praias de Omaha, Utah, Juno, Gold e Sword, bem como nas operações que se lhe seguiram, até à derrota final da besta nazi.

A todos os que deram a vida ou lutaram heroicamente por uma Europa livre, o meu reconhecimento. Aos líderes da União Europeia, num espaço cada vez menos europeu e menos unido, a exigência de que saibam ser merecedores dos sacrifícios de há 63 anos.

terça-feira, junho 05, 2007

da morte escura Chamava-se Federico Garcia Lorca e nasceu em Fuente Vaqueros, pequena localidade da Andaluzia, em 5 de Junho de 1898. Pouco depois ter completado 38 anos, foi executado com um tiro na nuca, cobardemente e sem qualquer julgamento, tendo o seu corpo sido escondido numa vala comum algures na Serra Nevada, onde ainda permanece. A mando de um general às ordens de Franco, no início de uma Guerra Civil que assassinou centenas de milhares de lutadores pela liberdade e contra a instauração de uma ditadura. Ditadura que saiu da Falange vencedora, aspergida com água benta pelo episcopado espanhol, e que alguns negam que tenha existido, como negam que em Portugal tenha existido uma de igual calibre. Uma vida muito curta, mas que lhe permitiu ser considerado o maior autor espanhol desde Miguel de Cervantes. Para que, como em Portugal, a memória não se apague do outro lado da fronteira. Quero dormir o sono das maçãs, afastar-me do tumultuar dos cemitérios. Quero dormir o sono do menino que queria cortar o coração no alto mar. Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue; que a boca podre continua a pedir água. Não quero conhecer os martírios que a erva dá, nem a lua com boca de serpente que trabalha antes do amanhecer. Quero dormir um pouco, um pouco, um minuto, um século; mas todos saibam que não morri ainda; que há um estábulo de oiro nos meus lábios; que sou o pequeno amigo vento do Oeste; que sou a imensa sombra de minhas lágrimas. De madrugada, cobre-me com um véu, porque me lançará punhados de formigas, e molha com água dura meus sapatos para que resvale a pinça de seu lacrau. porque quero dormir o sono das maçãs para aprender um pranto que me limpe de terra; porque quero viver com o menino escuro que queria cortar o coração no alto mar. Federico Garcia Lorca

segunda-feira, junho 04, 2007

No País dos Sacanas Jorge de Sena, nascido em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e falecido em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978, é um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da nossa cultura do século XX. Licenciado em engenharia civil, dedicou-se à carreira de escritor tendo sido, para além de poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos. Trabalhando como engenheiro na Junta Autónoma das Estradas entre 1948 e 1959, tinha um posicionamento político livre e denunciador, o que lhe acarretou perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Em 1959, receando as consequências políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado em que esteve envolvido, a 11 de Março desse ano, exilou-se no Brasil, onde se dedicou ao ensino da Literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, São Paulo, em 1964, tendo obtido, também, o Diploma de Livre-Docência, para cujo efeito teve de adquirir a nacionalidade brasileira. O golpe militar de 1964 e a subsequente alteração da situação política no Brasil fizeram com que, em 1965, se mudasse para os Estados Unidos, com Mécia de Sena e os seus nove filhos. Em Outubro desse ano passou a integrar o corpo docente da Universidade de Wisconsin, Madison, onde foi nomeado professor catedrático efectivo (1967), transitando, em 1970, para a Universidade da California, Santa Barbara (UCSB). O poema No País dos Sacanas foi escrito em Outubro de 1973 e é um libelo contras as classes política e económica dominantes. Mas, decorridos mais de 33 anos, ainda é de extrema actualidade. Que adianta dizer-se que é um país de sacanas? Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas, e todos estão contentes de se saberem sacanas. Não há mesmo melhor do que uma sacanice para poder funcionar fraternalmente a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais, para além das rivalidades, invejas e mesquinharias em que tanto se dividem e afinal se irmanam. Dizer-se que é de heróis e santos o país, a ver se se convencem e puxam para cima as calças? Para quê, se toda a gente sabe que só asnos, ingénuos e sacaneados é que foram disso? Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora. Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice, porque no país dos sacanas, ninguém pode entender que a nobreza, a dignidade, a independência, a justiça, a bondade, etc., etc., sejam outra coisa que não patifaria de sacanas refinados a um ponto que os mais não são capazes de atingir. No país dos sacanas, ser sacana e meio? Não, que toda a gente já é pelo menos dois. Como ser-se então nesse país? Não ser-se? Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia. Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma. Jorge de Sena 10/10/1973

domingo, junho 03, 2007

João XXIII


Morreu há 44 anos, no dia 3 de Junho de 1963.

O seu papado foi curto (menos de 5 anos), mas influenciou o caminho da Igreja de uma forma profunda.

Eleito como um Papa de transição, tornou-se no Papa da revolução, ao convocar o Concílio Ecuménico Vaticano II, pelo qual deu a vida.

Na verdade, contra a vontade dos médicos, recusou-se a ser submetido a uma intervenção cirúrgica, que poderia ter-lhe prolongado a vida, porque não queria estar afastado dos trabalhos do "seu" Concílio.

Concílio cujas decisões têm, progressivamente, estado a ser atraiçoadas pelos saudosistas do poder absoluto da oligarquia eclesiástica que, por palavras, apregoam a intervenção dos leigos mas, pelas sua obras, tudo fazem para o regresso da velha ordem.

Talvez devessem recordar-se das palavras do sábio "velhinho": O evangelho não muda, nós é que mudamos e aperfeiçoamos a nossa compreensão sobre ele.

sábado, junho 02, 2007

Nanotecnologia: "o pequeno Irmão?" Nos últimos anos, está ocorrendo de forma extremamente acelerada, não uma nova onda tecnológica mas um verdadeiro tsunami tecnológico. É a nanotecnologia. Trata-se de uma tecnologia que produz elementos e coisas não presentes na natureza a partir do mais pequeno, como átomos e células que são colocados em lugares desejados. Um nanômetro é um bilionésimo de metro. A Wikipédia da internet nos informa que "para se perceber o que isto significa, imagine uma praia com 1000 km de extensão e um grão de areia de 1 mm; este grão está para esta praia como um nanômetro está para o metro". Trata-se, pois, de uma tecnologia do ínfimo, tão revolucionária que poderá tornar, em breve, a maioria das tecnologias obsoletas, especialmente aquelas aplicadas à agricultura, à indústria farmacêutica, à informática, à microeletrônica e aos computadores. Já existem atualmente cerca de 720 produtos em nanoescala, desde camisas e calças feitas com fibras à prova de amassamento e de manchas (compráveis no Shopping Eldorado de São Paulo), protetores solares, alimentos, até nanotubos de carbono substituindo o cobre e sendo dez vezes mais eficientes na condução da eletricidade. Na nanotecnologia convergem a física, a química e a biologia, produzindo organismos ou partículas invisíveis com uma altíssima mobilidade. Por obedecerem às leis da física quântica são por isso imprevisíveis. Especialmente a nanobiotecnologia começa a conhecer avanços insuspeitados. Criam-se, por exemplo, nanodispositivos que circulam no sangue e que podem detectar doenças ou fazer reparos em órgãos afetados. Todo o conteúdo da Biblioteca Nacional com seus milhões de livros pode caber num nanoaparelho do tamanho de um caramelo de doce de leite. Há grandes incertezas e riscos associados a este tipo de tecnologia. Nanossensores que hoje controlam todo o processo da assim chamada "agricultura inteligente", podem ser usados para controlar populações e pessoas. Seria a entronização "do pequeno Irmão" que realizaria as funções do "grande Irmão" de A. Huxley. Como são aparelhos invisíveis e microscópicos não há como defender-se deles. Por isso a urgência de se observar o princípio de precaução e de se exigir do poder público códigos regulatórios. Se para todos os problemas sempre há uma solução adequada, quem sabe, pelo caminho da nanotecnologia não poderemos responder às três grandes questões que nos afligem: a escassez de recursos naturais, as mudanças climáticas e o aquecimento global. Com ela poder-se-iam produzir abundantíssimos alimentos, a recuperação dos solos e da natureza. Nanopartículas poderiam ser postas nas superfícies do oceano ou na estratosfera para resfriar a Terra e equilibrar os climas. No mar entre a Nova Zelândia e a Antártida foram espalhadas partículas de 20 nanômetros de ferro com o objetivo de produzir plancton que, por sua vez, sequestraria o dióxido de carbono, reduzindo assim a temperatura. O efeito foi tão surpreendente e aterrador que um dos cientistas disse:"se tivesse meio petroleiro de nanopartículas poderia causar uma nova era glacial no planeta". Essas reflexões possuem caráter meramente inicial e fragmentário. Mas seu objetivo é despertar as pessoas para os riscos e as virtualidades que nos são oferecidas pela nanotecnologia e sua possível resposta ao clamor ecológico.

Leonardo Boff Publicado no site do autor em 23/03/2007 e aqui afixado com a sua autorização.

sexta-feira, junho 01, 2007

Sgt. Pepper


Há 40 anos (dia 1 de Junho de 1967 em Inglaterra e dia seguinte nos Estados Unidos), os Beatles lançaram o seu oitavo álbum, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, considerado por críticos proeminentes e publicações da especialidade como a sua “opus magnum” e o mais influente álbum de todos os tempos.
Imediatamente após ter sido posto à venda, o álbum converteu-se num enorme êxito. Inovador em todos os sentidos, desde a estrutura e técnicas de gravação (foi o primeiro a ser gravado em 8 pistas, com duas consolas de 4 pistas cada uma), até à qualidade da capa (com os “fab four” fotografados diante de uma colagem de caras célebres – por exemplo, Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, W.C. Fields, Diana Dors, Bob Dylan, Karlheinz Stockhausen, Sigmund Freud, Aleister Crowley, Edgar Allan Poe, Karl Marx, Oscar Wilde, Marlon Brando, Stan Laurel e Oliver Hardy, Lenny Bruce, Shirley Temple, D. H. Lawrence, Cassius Clay e Gandhi), passando pela inclusão (pela primeira vez) das letras das canções, o seu efeito artístico influenciou quase todos os álbums pop e rock editados posteriormente.

Perante a dificuldade em escolher a letra de uma das 12 canções (são 13, mas o tema que dá título ao álbum surge duas vezes), optei pela última, uma verdadeira obra de arte na interpretação original.

A Day In The Life

I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well I just had to laugh
I saw the photograph

He blew his mind out in a car
He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure if he was from the House of Lords.

I saw a film today oh boy
The English Army had just won the war
A crowd of people turned away
But I just had a look
Having read the book, I'd love to turn you on...

Woke up, fell out of bed,
Dragged a comb across my head
Found my way downstairs and drank a cup,
And looking up I noticed I was late.

Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke,
and somebody spoke and I went into a dream

I read the news today oh boy
Four thousand holes in Blackburn, Lancashire
And though the holes were rather small
They had to count them all
Now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall.
I'd love to turn you on.

John Lennon e Paul McCartney
Vestido azul


Hoje é o Dia Mundial da Criança, instituído pela UNICEF. Mais um dia para que os adultos recordem o que nunca deveriam esquecer e para que se façam muitas promessas. A maioria das quais não passará disso mesmo – promessas.

Nos tempos que correm, não podemos “meter-nos” com uma criança, na rua, sem sermos olhados de soslaio e com receio pelos circunstantes; é difícil falarmos de crianças sem corrermos o risco de ver as nossas conversas gravadas e devassadas em qualquer tribunal; é quase impossível escrevermos sobre crianças sem nos sujeitarmos ao confisco dos nossos computadores.

Por isso, não vou escrever sobre as crianças. Fico-me pela reprodução de um texto que foi enviado já há bastante tempo para a minha caixa de correio electrónico.

Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita.
Ela frequentava a escola local.
Sua mãe não tinha muito cuidado e a criança quase sempre se apresentava suja.
Suas roupas eram muito velhas e maltratadas.

O professor ficou penalizado com a situação da menina. “Como é que uma menina tão bonita, pode vir para a escola tão mal arrumada?”
Separou algum dinheiro do seu salário e, embora com dificuldade, resolveu comprar-lhe um vestido novo.
Ela ficou linda no vestido azul.

Quando a mãe viu a filha naquele lindo vestido azul, sentiu que era lamentável que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão suja para a escola.
Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos, cortar suas unhas.

Quando acabou a semana, o pai falou: “Mulher, você não acha uma
vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este, caindo aos pedaços?
Que tal você ajeitar a casa?
Nas horas vagas, eu vou dar uma pintada nas paredes, consertar a cerca e plantar um jardim.”

Logo mais a casa se destacava na pequena vila pela beleza das flores que enchiam o jardim, e o cuidado em todos os detalhes.
Os vizinhos ficaram envergonhados por morar em barracos feios e resolveram também arrumar as suas casas, plantar flores , usar pintura e criatividade.
Em pouco tempo o bairro estava todo transformado.

Um homem, que acompanhava os esforços e as lutas daquela gente, pensou que eles bem mereciam um auxilio das autoridades.
Foi ao prefeito expor suas idéias e saiu de lá com autorização para formar uma comissão para estudar os melhoramentos que seriam necessários no bairro.

A rua de barro e lama foi substituída por asfalto e calçadas de pedra.
Os esgotos a céu aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares de cidadania.
E tudo começou com um vestido azul.

Não era intenção daquele professor consertar toda a rua, nem criar um organismo que socorresse o bairro.
Ele fez o que podia, deu a sua parte.
Fez o primeiro movimento que acabou fazendo com que as outras pessoas se motivassem a lutar por melhorias.

Será que cada um de nós está fazendo a sua parte no lugar em que vive?
Por acaso somos daqueles que somente apontam os buracos da rua, as crianças à solta sem escolas e a violência do trânsito?

Lembramos que é difícil mudar o estado total das coisas.

Que é difícil limpar toda a rua, mas é fácil varrer a nossa calçada.
É difícil reconstruir um planeta, mas é possível dar um vestido azul.
Há moedas de amor que valem mais do que os tesouros bancários, quando endereçadas no momento próprio e com bondade.
Você acaba de receber um lindo vestido azul.!!!!!

Autor brasileiro desconhecido