quinta-feira, março 03, 2016

Exílio
A Alberto de Serpa

Porque esquecemos os gestos exactos
e a pureza da linguagem revelada
e despertos na noite dos tempos
aguardamos não sei que manhã clara?
são tão inúteis nossos gestos!
Não entendemos nenhuma fala.

Porque esquecemos os símbolos dos astros.
o aviso das estrelas e dos ventos?
Porque criamos um deus implacável
que nos exige o ouro, a mirra, o incenso?
E conscientes do bem e do mal
Procuramos o mal como um aturdimento?

Expulsou-nos do claro Paraíso
o anjo chamejante das batalhas,
cujo gládio, na encruzilhada do destino,
a cada instante rasga novos mapas.
Nós aqui estamos esperando. Que esperamos
se não temos esperança em nada?


(escritora vianense nascida faz hoje 97 anos)

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