segunda-feira, novembro 30, 2015

A Ponte

Verte em mim beijos de orvalho
          E virá a madrugada
Pelo espírito desperto.
          Adorna a fronte curvada
Com louro, para que eu veja,
          Mesmo sorrindo em dor, minha sombra coroada.

Embora a cabeça penda,
          Teus pés, calçados de esp’rança,
Passam e são eloquentes
          No modo em que o passo avança.
Algures na relva se fundem
          Com aquela parte de mim que outros sentidos alcança.

Sejamos sempre os amantes
          Longe da carne, a ceder,
Amantes de um modo novo
          Onde não há fala ou ver.
Vagos assim nosso amor
          Não nosso já, tão-só um hálito do Puro Ser.


(Fernando Pessoa faleceu faz hoje 80 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Poema com Pessoa dentro.

Abraço