segunda-feira, setembro 08, 2014

Não estou só

Não estou só, porque o piano invisível
Está repetindo a valsa clássica daquela noite, há muito tempo.

Não estou só, porque há palavras que foram ditas e não morreram de todo.

Não estou só, porque as amadas mortas ainda estão falando ao meu ouvido;
Mocinhas vestidas de branco das cidadezinhas tranquilas estão sorrindo para mim;
Comovendo minha estátua e o retrato em cima da mesa.

Não estou só, porque os olhos do retrato estão perdidos no passado e no presente.

A sala é pequena. O mundo parou. Tudo parou. Ainda assim não estou só,
Porque a noite chora sangue no pingo da estrela,
Parado, no rasgão da janela que dá para o mundo.


(poeta baiano nascido faz hoje 102 anos)

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