Eurídice
Temos um só
corpo
singular,
solitário
a alma teve
que baste
ali dentro
fechada
caixa com
olhos e orelhas
do tamanho
de um botão
e a pele –
costura após costura -
cobrindo a
estrutura óssea
sai da
córnea voando
para o
cálice celeste
para o
gelado raio
da roda
voadora das aves
e escuta
pelas grades
da sua cela
viva
o crepitar
do bosque e da seara
e a trombeta
dos sete mares
corpo sem
alma é pecado
é um corpo
sem camisa
nada feito
sem intenção
sem
inspiração, nenhuma linha
insolúvel
charada:
quem no fim
irá voltar
à pista de
dança quando
ninguém
houver para dançar?
sonhei com
uma alma outra
de um modo
outro vestida:
ardia na
fuga
da timidez à
esperança
espirituosa
e límpida
como o fogo
habita a terra
sobre a mesa
pondo lilases
para que
lembrada seja
corre,
criança, não pares
pela pobre
Eurídice
rola o arco
e a gancheta
no mundo
roda
até subires
uma oitava
no tom
alegre, e calma
porque a
cada passo a terra
faz soar
guizos nos teus ouvidos
(poeta russo
nascido a 24 de Junho de 1907)
1 comentário:
Excelente e sempre vivo
Abraço
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