quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Insônia

As horas mortas
morrem em candelabros
de pé

a sala dorme recostada
em mal
dormidas noites

a cama deita na memória
sonhos
que a deitaram

a mesa geme
o tilintar
de corpos

os copos bebem
velho sabor
rançoso

os pratos roçam
doces canções
ridículas

os doces roncam
novo saber
agrícola

a casa varre
a solidão
aos gritos

sobe lá fora a dor
intestinal
do mundo

treme a descarga
num estertor
de pranto

rola a viola
em tão plangente
surdo

os grilos metem
o dedo
na garganta

o galo crispa
seu silêncio
fundo

a luz furtiva
como
num delito

fantasmas cantam
a ressurreição
da falha

cachorros lambem
seu pesadelo
aflito

os gatos rasgam
a comunhão
da carne


(poeta paulista que hoje faz 70 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Um excelente poema, que não deve ser lido ao anoitecer.

Abraço