O Cálice
Poema dedicado à minha irmã (a segunda de oito) , falecida ontem em França aos 78 anos de idade
De coração estilhaçado a razão do cérebro comanda
pode ser um buraco que vigilante e armado
defende até à morte a trincheira conquistada
no azul lunar do céu na longínqua dança das ondas
quase adormecerá… os neurónios realinham
ninguém o engana tanto, amordaça seu desejo
como a razão que o cega
Do abstracto tece a cortina ao corpo frio suado
à língua seca… e haverá sempre novo dia e outro
a máscara tem-na colada ao rosto
jogos de palavras e neurónios seu ofício
Desgraçada da que lhe viu o rosto, lhe lê os olhos
conhece brechas na trincheira - instante eterno partida
(nunca servirá dois cálices à lareira sabendo-a só
e se a campainha tocar atenta na chuva na janela
duas três vezes e decide ser ilusão do vinho forte
do cansaço vento, com o tempo quiçá da idade)
e há um corpo que agoniza sem o sangue
do vinho que ele em cálice solitário derrama
gritando pela urgência do amor na vida
quando o teme mais que à própria morte…
(Maria José Lascas Fernandes nasceu em Montemor-o-Novo a 20 de Janeiro de 1962)
7 comentários:
Meu querido amigo
Conheço bem o sabor da dor da perda!
Deixo o meu abraço solidário.
Lhe deixo um abraço solidário nesta memória de perda e desejo paz a sua irmã.
Pungente é o poema.
Abraço
Abraço e coragem.
Meu caro lino
Um abraço forte e solidário.
Carlos
Os meus sentimentos.
LUIZ
Quebrado é o tempo
da infância.
Lamento a perda quando se assim sente - o poema vibra no escuro.
Abç
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