quinta-feira, junho 02, 2011


Meio-dia

O morro coxo cochila
O sol resvala devagarzinho pela rua
torcida como uma costela

Aquela casa de janelas com dor-de-dente
amarrou um coqueiro do lado.

Um pé de meia faz exercícios no arame.

Vizinha da frente grita no quintal:
-João! Ó João!

Bananeira botou as tetas do lado de fora
Mamoeiros estão de papo inchado

Negra acocorou-se a um canto do terreiro
Pôs as galinhas em escândalo

Lá em baixo
passa um trem de subúrbio riscando fumaça

Á porta da venda
negro bocejou como um túnel.


(poeta brasileiro falecido a 2 de Junho de 1984)

1 comentário:

Sofá Amarelo disse...

Um perfeito retrato do quotidiano, algo muito difícil de fazer em prosa, mais ainda em poema.

Um abraço!!!