Meio-dia
O morro coxo cochila
O sol resvala devagarzinho pela rua
torcida como uma costela
Aquela casa de janelas com dor-de-dente
amarrou um coqueiro do lado.
Um pé de meia faz exercícios no arame.
Vizinha da frente grita no quintal:
-João! Ó João!
Bananeira botou as tetas do lado de fora
Mamoeiros estão de papo inchado
Negra acocorou-se a um canto do terreiro
Pôs as galinhas em escândalo
Lá em baixo
passa um trem de subúrbio riscando fumaça
Á porta da venda
negro bocejou como um túnel.
(poeta brasileiro falecido a 2 de Junho de 1984)
1 comentário:
Um perfeito retrato do quotidiano, algo muito difícil de fazer em prosa, mais ainda em poema.
Um abraço!!!
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