Somos
somos apenas para dizer palavras  
e entregamos o nosso corpo nas ruas  
depois repousamos os músculos.  
não somos puros porque  
despidos depois de amar  
não permanecemos.  
nos perdemos na busca de símbolos:  
só as casas têm números  
só os homens têm nomes.  
queimadas as pálpebras nas cinzas do sono  
não sabemos que a madrugada se faz  
nas estrelas que gotejam sangue.  
morremos e não percebemos as semelhanças  
que há no peixe e no pássaro  
no musgo e no vento.  
possuímos um silêncio para os mortos  
e um tumulto para o que amamos.  
guardamos cores na lembrança  
e envelhecemos antes de sair da infância.  
refletimos o nosso medo e solidão  
nos muros, nos bichos, nas flores,  
sem sabermos que os mortos são fotogênicos  
sem acharmos a serenidade  
que faz este mar azul.
Carlos Cunha
(poeta maranhense nascido a 18 de Maio de 1933)
 
 
3 comentários:
lindo
bjinhos
Paula
Somos o que somos, simplesmente.
Há palavras que respiram
por guelras
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