quarta-feira, maio 18, 2011


Somos
  
somos apenas para dizer palavras 
e entregamos o nosso corpo nas ruas 
depois repousamos os músculos. 
não somos puros porque 
despidos depois de amar 
não permanecemos. 
nos perdemos na busca de símbolos: 
só as casas têm números 
só os homens têm nomes. 
queimadas as pálpebras nas cinzas do sono 
não sabemos que a madrugada se faz 
nas estrelas que gotejam sangue. 
morremos e não percebemos as semelhanças 
que há no peixe e no pássaro 
no musgo e no vento. 
possuímos um silêncio para os mortos 
e um tumulto para o que amamos. 
guardamos cores na lembrança 
e envelhecemos antes de sair da infância. 
refletimos o nosso medo e solidão 
nos muros, nos bichos, nas flores, 
sem sabermos que os mortos são fotogênicos 
sem acharmos a serenidade 
que faz este mar azul.

Carlos Cunha

(poeta maranhense nascido a 18 de Maio de 1933)

3 comentários:

Sensualidades disse...

lindo

bjinhos
Paula

jrd disse...

Somos o que somos, simplesmente.

Mar Arável disse...

Há palavras que respiram

por guelras