quinta-feira, fevereiro 03, 2011


ANATOMIA

Um poema é uma guerra: nele e nela
se desintegram a palavra e a vida
e o que resta é perda que ressuscita:

ler um poema de certo modo o mata,
pois morre o que não se pensou ao ler,
embora a leitura aos poucos esclareça

o que se pensou jamais se fosse ler.
Poema é duelo plural e infinitivo:
é, acrobática, sobre o papel a escrita

ao mesmo tempo enigma, estigma, ígnea.
Ler o poema, mas não resolvê-lo:
isso acontece há muito tempo,

e somos nós que estamos lá dentro.
O poema nos faz e desfaz, a guerra também,
e é com palavra e arma que sabemos

o quanto nos resta de sonho e de renascimento.


(Luis Felipe Silvério Fortuna nasceu no Rio de Janeiro a 3 de Fevereiro de 1963)

3 comentários:

O Puma disse...

A poesia não resolve

questiona

desafia

e já é tanto

Manuel Veiga disse...

"somos nós que estamos lá dentro..."

excelente. "invejável" poema.

abraços

Unknown disse...

Também postei esse poema sobre o fazer poético em meu blog. Adorei!!!