How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
terça-feira, maio 31, 2016
segunda-feira, maio 30, 2016
domingo, maio 29, 2016
Pressentimento
Tenho o
pressentimento de que viverei pouco.
Esta minha
cabeça, semelhante ao crisol,
Purifica e
consome.
Mas sem
nenhuma queixa, sem nenhum sinal de horror,
Quero para o
meu fim que em uma tarde sem nuvens,
Sob o
límpido sol,
Nasça de um
grande jasmim uma serpente branca
Que doce,
docemente, me pique o coração.
(poetisa
argentina nascida faz hoje 124 anos)
sábado, maio 28, 2016
Um homem não
chora
Acreditava
naquela história
do homem que
nunca chora.
Eu
julgava-me um homem.
Na
adolescência
meus filmes
de aventuras
punham-me
muito longe de ser cobarde
na arrogante
criancice do herói de ferro.
Agora tremo.
E agora
choro.
Como um
homem treme.
Como chora
um homem!
(José
Craveirinha nasceu faz hoje 94 anos)
sexta-feira, maio 27, 2016
quinta-feira, maio 26, 2016
Bacante
Ergue nas
mãos a taça transbordante
do vinho
capitoso; em desalinho,
desata a
cabeleira luxuriante
sobre o seu
corpo nu, de rosa e arminho.
Um perfume
oriental, sensualizam-te,
vai-se
impregnando no ar, devagarinho . . .
E, lasciva e
pagã, dança a bacante
embriagada
de música e de vinho!
Torcendo os
rins em lânguidos meneios
derrama
sobre os pequeninos seios
a sua taça
de cristal boêmia.
E há na
volúpia estranha dos seus passos
e nas
serpentes brancas dos seus braços
a eterna
sedução da eterna fêmea!
(poetisa
paulista nascida faz hoje 134 anos)
quarta-feira, maio 25, 2016
... Lá …
Como o vento
à noite,
no telhado
esse lamento
do mal que não tem cura;
"...
nada
do que foi
teu será
nada te
pertence já...
nenhuma
coisa passada te é futura..."
Escutas:
Pássaros da
noite em soltas alvoradas
ou fantasmas
loucos
de roxas
madrugadas.
Transidas de
escuros medos
de solidões
de lutas
de finitas
paixões
e de
segredos...
as fadas
chegam,
do lembrar:
"...Nada
é eterno teu...
só esse
luto!...
O futuro
perdeste-o no passado
Lá, no
caminho sagrado
passou-te ao
lado e
morreu..."
Escutas;
De longes e
ocultas fundas grutas...
que há em ti
desabitadas
veladas vêm
discretas
as vozes
secretas
das boas
fadas do antigo lar:
"...Não
esse luto!...
Lá, nessa
glória inteira da lembrança
do teu
paraíso longínquo de criança,
é teu o
absoluto..."
(poetisa
espinhense que hoje faz 85 anos)
terça-feira, maio 24, 2016
segunda-feira, maio 23, 2016
Estrelas
fixas
Quando já da
vida
a alma
tenha, com o corpo, partido,
e durma na
sepultura
nessa noite,
mais larga que as outras,
meus olhos,
que em recordação
do infinito
eterno das coisas,
guardarão
somente, como de um sonho,
a suave luz
de teus olhares profundos,
ao ir
decompondo-se
entre o
escuro fosso,
verão, no
ignorado da morte,
teus
olhos...destacando-se entre as sombras.
(poeta
colombiano falecido a 23 de maio de 1886)
domingo, maio 22, 2016
sábado, maio 21, 2016
sexta-feira, maio 20, 2016
Poema sobre
a recusa
Como é
possível perder-te
sem nunca te
ter achado
nem na polpa
dos meus dedos
se ter
formado o afago
sem termos
sido a cidade
nem termos
rasgado pedras
sem
descobrirmos a cor
nem o
interior da erva.
Como é
possível perder-te
sem nunca te
ter achado
minha raiva
de ternura
meu ódio de
conhecer-te
minha
alegria profunda.
(Maria
Teresa Horta faz hoje 79 anos)
quinta-feira, maio 19, 2016
Epígrafe
A sala do
castelo é deserta e espelhada.
Tenho medo
de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo
já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu
- e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro
tempo a luz que me ilumina -
Um som opaco
me dilui em Rei...
(Mário de
Sá-Carneiro nasceu a 19 de Maio de 1890)
quarta-feira, maio 18, 2016
Escada
De
transformar-se o amador na coisa amada
transformam-se
o pescador em peixe o capitão
em arma em
piano o pianista em desastre
o
equilibrista o arquiteto desaparecido
quem sabe
converteu-se em luz no livre
alto vão da
escada
e como ela
em espiral
transformam-se
em madrugada a namorada
em ácido o
químico em mágica o mágico em livro
o
bibliotecário em poeta o poema o poema em água
e por
virtude de muito imaginar hoje sou você
graça - de
ver em mim a parte desejada.
(poeta
carioca que hoje faz 55 anos)
terça-feira, maio 17, 2016
Canção
Punitiva
Atarda-me o
olhar naquela escarpa
(Distância
intranquila de sombra
Ou penas de
pássaros acamadas?)
Pena de mim
mesmo enquanto lembro
No pálido
ar, homem obscuro,
A sua
imagem, inacessível.
Desconheço o
azul de mulher tão lívida.
O coração é
uma pequenina pedra rosa.
As minhas
lágrimas são de metal.
(poeta
espinhense que hoje faz 68 anos)
segunda-feira, maio 16, 2016
Crepúsculo
A tarde e o
silêncio...
Janelas
fechadas,
vidraças
coloridas
no
crepúsculo vermelho, pérola e violeta.
Gritos
roucos de buzina,
apitos
longínquos de fábricas,
murmúrio de
vozes,
aéreo
murmúrio indeciso.
Os grilos
começam a trilar.
Calaram-se
as cigarras
nas árvores
pesadas...
Outra vez
a tarde e o
silêncio...
Nas ruas
compridas
dança a
poeira dourada do crepúsculo.
Quando
virás? Ainda voltarás?
Ah! ninguém
sabe como é lindo o crepúsculo
quando há
lágrimas nos olhos!
A tarde e o silêncio...
Dança a
poeira nas ruas compridas.
A noite cai
sobre as árvores pesadas...
(poeta
carioca nascido a 16 de Maio de 1893)
domingo, maio 15, 2016
Os Instantes
Superiores da Alma
Os instantes
Superiores da Alma
Acontecem-lhe
- na solidão -
Quando o
amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram
para muito longe -
Ou quando -
Ela Própria - subiu
A um plano
tão alto
Para
Reconhecer menos
Do que a sua
Omnipotência -
Essa
Abolição Mortal
É rara - mas
tão bela
Como
Aparição - sujeita
A um Ar
Absoluto -
Revelação da
Eternidade
Aos seus
favoritos - bem poucos -
A Gigantesca
substância
Da
Imortalidade
(poetisa
estado-unidense falecida a 15 de Maio de 1886)
Tradução de
Nuno Júdice
sábado, maio 14, 2016
A zanga
A palavra
que disse em raiva
pesa menos
que uma semente de salsa,
mas por ela
passa a estrada
que leva à
minha sepultura,
naquele
talhão comprado
nas encostas
salgadas de Truro
onde os
pinheiros dominam a baía.
Estou já
meio-morto que chegue,
desviado da
minha própria natureza
e da minha
força de viver.
Se pudesse
chorar, chorava.
Mas sou
velho demais para ser
a criança de
alguém.
Liebchen,
com quem me
vou zangar
senão nos
murmúrios do amor,
essa chama áspera
e irregular?
(poeta estado-unidense
falecido faz hoje 10 anos)
sexta-feira, maio 13, 2016
Vermeer de
delft
É a manhã no
copo:
Tempo de
decifrar o mapa
Com seus
amarelos e azuis,
De abrir as
cortinas - o sol frio nasce
Nos
ladrilhos silenciosos -,
De ler uma
carta perturbadora
Que veio
pela galera da China:
Até que a
lição do cravo
Através dos
seus cristais
Restitui a
inocência.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 115 anos)
quinta-feira, maio 12, 2016
Agora Mesmo
Está gente a
morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a
morrer e nós também
Está gente a
despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já
passou Este gesto também
Ninguém se
banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio
te despedes de ti próprio
Não és o
mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás
diferente neste verso e vais com ele
Os amantes
agarram-se desesperadamente
Eis como se
beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que
ninguém eles sabem que estão a despedir-se
A Terra gira
e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é
possível parar o turbilhão
Há um
ciclone invisível em cada instante
Os pássaros
voam sobre a própria despedida
As folhas
vão-se e nós
Também
Não é vento
É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo
e para todo o sempre
Amen
(Manuel
Alegre faz hoje 80 anos)
Respiro e
Vejo
Respiro e
vejo. A noite e cada sol
vão rompendo
de mim a todo o instante,
tarde e
manhã que são tecido tempo,
chuva e
colheita. O céu, repouso e vento.
Vergel de
aves. Vou entre viveiros,
a caçar com
o olhar, passarinhagem
dos
pequeninos sóis e das estrelas
que emigram
neste céu de goiabeiras.
mas sigo a
jardinagem, podo o tempo,
o desgosto
do espaço, a sombra e o fogo,
as florações
da luz e da cegueira.
E, no dia,
suspensa cachoeira,
neste jogo
sagrado, vivo e vejo
o que veio
em meus olhos desenhado.
(escritor
paulista que hoje faz 85 anos)
quarta-feira, maio 11, 2016
Joconda
Essa que
deve ser silenciosa
como um
perfume embriagante e raro,
doce - como
a tristeza vagarosa,
alegre -
como o azul do céu mais claro
Essa que é
tolo Amor, sendo incerteza,
toda luz e
mistério e graça e alma,
forma
florida e vaga da Beleza
num sorriso
tino, e triste e calma
Essa que eu
adivinho e, vaga, ondeia
pela minha
emoção, na minha ideia,
no meu Amor,
na minha Arte e em mim;
talvez seja
- quem sabe? a refletida
infinita
saudade de outra vida
mais perfeita
do que esta e de onde eu vim!
(poeta
amarantino nascido a 11 de Maio de 1889)
terça-feira, maio 10, 2016
O Poema
Ensina a Cair
O poema
ensina a cair
sobre os
vários solos
desde perder
o chão repentino sob os pés
como se
perde os sentidos numa
queda de
amor, ao encontro
do cabo onde
a terra abate e
a fecunda
ausência excede
até à queda
vinda
da lenta
volúpia de cair,
quando a
face atinge o solo
numa curva
delgada subtil
uma vénia a
ninguém de especial
ou
especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
(Luiza Neto
Jorge nasceu faz hoje 77 anos)
segunda-feira, maio 09, 2016
domingo, maio 08, 2016
sábado, maio 07, 2016
Desejo
Indomável
Como corre a
gazela
pela sombra
dos bosques,
enlouquecida
pelo próprio perfume,
assim corro
eu, enlouquecido,
nesta noite
do coração de maio
aquecida
pela brisa do Sul.
Perdi o
caminho
e erro ao
acaso.
Quero o que
não tenho,
e tenho o
que não quero.
A imagem do
meu próprio desejo
sai do meu
coração
e, dançando
diante de mim,
cintila uma
e outra vez,
subitamente.
Quero
agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe,
chama-me outra vez
do atalho
...
Quero o que
não tenho
e tenho o
que não quero.
(Rabindranath
Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861)
Tradução de
Manuel Simões
sexta-feira, maio 06, 2016
Aparecimento
de Cristo à Virgem
Não penses
que morri por ter partido
ou que parti
só por ter morrido.
Onde estive
não estive e onde estou
não estive
nunca. Não penses que me vês
só por me
veres, ou que por não me veres
eu não
existo. Nem penses que existo
se me vires,
ou mesmo que existes
por me
veres. Não penses que me amas
porque amas
o que os teus sentidos
de mim
sentem. Nem penses que me sentes
ou me amas
só porque me sentiste e amaste.
Não somos
nada e tudo somos sempre,
embora
sempre eterna seja a eternidade
e a nossa
eternidade não exista.
(poeta
portuense que hoje faz 63 anos)
quinta-feira, maio 05, 2016
Bairro
Em teu corpo
enfim repousarei
Das pedras
ásperas
Que mal sei
pisar?
Das guerras,
dos cilícios,
Dos ecos a
doerem nos ouvidos
Como
pedradas.
E dos tédios
que sangram?
Ah,
finalmente
Ao desfolhar
teu corpo desfolhado
- Mas inda
fresco e belo -
A vida será
minha?
(poeta
aljustrelense nascido a 5 de Maio de 1923)
quarta-feira, maio 04, 2016
Caminhos
Brancos
Chamaram-me
e não sei que voz
era aquela
que lá ao longe ouvia...
e não sei
onde foi nem em que dia,
nem se era
só por mim ou se por todos nós,
Nasceu a lua
e a voz chamou-me
ainda outra
vez. Ergui-me e caminhei.
Ouvira bem:
agora era o meu nome.
O resto
ainda não sei.
Há quantos
sóis, há quantas luas foi?
Outros
ouviram e vim eu sozinho.
Hoje o mesmo
cansaço a todos dói
mas não dou
por inútil o caminho.
(Branquinho
da Fonseca nasceu faz hoje 111 anos)
terça-feira, maio 03, 2016
O lugar em
que temos razão
Do lugar em
que temos razão
jamais
crescerão
flores na
primavera.
O lugar em
que temos razão
está
pisoteado e duro
como um
pátio.
Mas dúvidas
e amores
escavam o
mundo
como uma
toupeira, como a lavradura.
E um
sussurro será ouvido no lugar
onde houve
uma casa
que foi
destruída.
(Yehuda
Amichai nasceu faz hoje 92 anos)
segunda-feira, maio 02, 2016
domingo, maio 01, 2016
1º. MAIO
Há Maio em
cada rosto
em cada
olhar
que passa
pelo asfalto da Avenida
Há Maio em
cada braço
que se ergue
há Maio em
cada corpo em cada vida
Há Maio em
cada voz
que se
levanta
há Maio em
cada punho que se estende
há Maio em
cada passo
que se anda
há Maio em
cada cravo que se vende
Há Maio em
cada verso
que se canta
há Maio em
cada uma das canções
há Maio que
se sente
e contagia
no sorriso
feliz das multidões
Há Maio nas
bandeiras
que flutuam
e mancham de
vermelho
o céu de
anil
Há Maio de
certeza
em cada
peito
que sabe
respirar o ar de Abril
Mas há Maio
sobretudo
no poema
que se
escreve sem ler o dicionário
porque Maio
há-de ser
mais do que
um grito
porque Maio
é ainda necessário
Canto Maio e
se canto
logo existo
que o meu
canto de Maio é solidário
com o canto
que escuto
e em que
medito
e que sai da
boca do operário
Fernando Peixoto
(poeta
portuense)
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