quarta-feira, agosto 12, 2015

Poema VI

Hoje pensar me dói como ferida.
O próprio poema não é poema.
Tem qualquer coisa de trágico.
De pétalas descidas.
De véu cobrindo o retrato
de um morto.
Hoje pensar me dói como ferida.
Mas é uma imposição - pensar.
Não quero estado de graça,
nem aceito determinismo.
Só a morte é irreversível.
A opressão do azul
aumenta meu conflito,
e é cruel escutar as razões
da razão.
Quisera repartir-me
no cristal da manhã.
Ser um pouco daquela rosa
tocada de irrealidade;
da tênue luz ferindo
o espelho do rio;
daquela estátua pudica
que parece ter ressuscitado
a inocência.
Mas em vez disso,
aqui estou:
queimada em pensamentos,
quebrados os instrumentos
do sonho.


(poetisa gaúcha nascida faz hoje 110 anos)

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