terça-feira, agosto 19, 2014

Valsa nos ramos

Caiu uma folha.
E duas.
E três.
Na lua nadava um peixe.
A água dorme uma hora
e o mar branco dorme cem.
A dama
estava morta na rama.
A monja
cantava dentro da toronja.
A menina
pelo pinho ia até à pinha.
E o pinho
buscava a plúmula do trino.
Mas o rouxinol
chorava suas feridas em redor do sol.
E eu também
porque caiu uma folha
e duas
e três.
E uma cabeça de cristal
e um violino de papel.
E a neve poderia com o mundo,
se a neve dormisse todo o mês,
e os ramos lutavam com o mundo,
um a um,
dois a dois
três a três.
Oh duro marfim de carnes invisíveis!
Oh golfo sem formigas ao amanhecer!
Chegará um torso de sombra
coroado de louros.
Será o céu para o vento
duro como uma parede
e os ramos arrancados
irão dançar com ele.
Um a um
em volta da lua,
dois a dois
em volta do sol,
e três a três

para que os marfins adormeçam bem.


(poeta andaluz assassinado faz hoje 78 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Eterno na memória da poesia hispânica.
Um abraço