As Coisas
Transitórias
Irmão,
nada é
eterno, nada sobrevive.
Recorda
isto, e alegra-te.
A nossa vida
não é só a
carga dos anos.
A nossa
vereda
não é só o
caminho interminável.
Nenhum poeta
tem o dever
de cantar a
antiga canção.
A flor
murcha e morre;
mas aquele
que a leva
não deve
chorá-la sempre...
Irmão,
recorda isto, e alegra-te.
Chegará um
silêncio absoluto,
e, então, a
música será perfeita.
A vida
inclinar-se-á ao poente
para
afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de
ser chamado do seu jogo
para beber o
sofrimento
e subir ao
céu das lágrimas ...
Irmão,
recorda isto, e alegra-te.
Apanhemos,
no ar, as nossas flores,
não no-las
arrebate o vento que passa.
Arde-nos o
sangue e brilham nossos olhos
roubando
beijos que murchariam
se os
esquecêssemos.
É ânsia a
nossa vida
e força o
nosso desejo,
porque o
tempo toca a finados.
Irmão,
recorda isto, e alegra-te.
Não podemos,
num momento, abraçar as coisas,
parti-las e
atirá-las ao chão.
Passam
rápidas as horas,
com os
sonhos debaixo do manto.
A vida,
infindável para o trabalho
e para o
fastio,
dá-nos
apenas um dia para o amor.
Irmão,
recorda isto, e alegra-te.
Sabe-nos bem
a beleza
porque a sua
dança volúvel
é o ritmo
das nossas vidas.
Gostamos da
sabedoria
porque não
temos sempre de a acabar.
No eterno
tudo está feito e concluído,
mas as
flores da ilusão terrena
são
eternamente frescas,
por causa da
morte.
Irmão,
recorda isto, e alegra-te.
(Rabindranath
Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861)
Tradução de
Manuel Simões
2 comentários:
Um grande poeta que me acompanha desde a juventude. Admirável.
Abraço
Admirável texto de alguém que sempre apreciei.
Boa tarde, Lino
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