How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sábado, maio 31, 2014
sexta-feira, maio 30, 2014
quinta-feira, maio 29, 2014
Nocturno
Por onde
quer que minha alma
navegue, ou
ande, ou voe, tudo, tudo
é seu. Que
tranquila
em toda a
parte, sempre;
agora na
alta proa
que em duas
pratas abre o azul profundo,
descendo ao
fundo ou subindo ao céu!
Oh, que
serena a alma
quando se
apoderou,
como rainha
solitária e pura,
do seu
império infindo!
(poeta
andaluz falecido faz hoje 56 anos)
Tradução de José Bento
quarta-feira, maio 28, 2014
Carreira de
Gaza
Escusado
fazer pontaria.
Chusmas de
rajadas acertam sempre.
Povo armado
de maternitude e velhice
esgota a
lotação das carreiras de Gaza
rumo à
saudade de onde saiu.
Objectivo
estratégico de maternitude
machibombo
da carreira de Gaza
atingido em
cheio calcinou.
A mãe que
dava o peito ao bebé de três meses
foi removida
assim mesmo.
(José
Craveirinha nasceu faz hoje 92 anos)
terça-feira, maio 27, 2014
Manhã
-
Bom-dia. Diz-me um guarda.
Eu não
ouço... apenas olho
das chaves o
grande molho
parindo um
riso na farda.
Vómito
insuportável de ironia
Bom-dia, por
que bom-dia?
Olhe, senhor
guarda
(no fundo a
minha boca rugia)
aqui é
noite, ninguém mora,
deite esse
bom-dia lá fora
porque lá
fora é que é dia!
(poeta
moimentense nascido faz hoje 102 anos)
segunda-feira, maio 26, 2014
Vertigem
Uma semana
só. Nem mais um dia
durou aquela
estranha sensação
que nos
aproximava, nos unia...
e amor não
era e nem era paixão.
Algo em mim
te agradava, te atraía.
Tu tinhas
para mim tal sedução
que,
tendo-te ao meu lado, eu me sentia
a mulher
mais feliz da criação.
Uma semana
só... No meu caminho
um vislumbre
de sol e de carinho:
uma sombra,
talvez, na tua estrada...
Sete dias
ardentes de Novembro...
Deves ter
esquecido. E eu só me lembro
que nunca
fui com tanto amor beijada!
(poetisa
paulista nascida faz hoje 132 anos)
domingo, maio 25, 2014
A FORMA
JUSTA
Sei que
seria possível construir o mundo justo
As cidades
poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto
dos espaços e das fontes
O céu o mar
e a terra estão prontos
A saciar a
nossa fome do terrestre
A terra onde
estamos -se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a
cada um a liberdade e o reino
- Na concha
na flor no homem e no fruto
Se nada
adoecer a própria forma é justa
E no todo se
integra como palavra em verso
Sei que
seria possível construir a forma justa
De uma cidade
humana que fosse
Fiel à
perfeição do universo
Por isso
recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu
ofício de poeta para reconstrução do mundo
Sophia de Mello Breyner
sábado, maio 24, 2014
Tempo
no início
era o começo.
o depois
veio vindo devagar.
o antes veio
depois do depois.
só quando
esse se estabeleceu.
no princípio
era o agora.
isso demorou
até que
tudo virou
antes e depois.
então uma
revolução peluda
o agora
voltou ao trono.
antes e
depois viraram
falta do que
fazer.
e tanto
fizeram
que o agora
virou tudo
e o tudo,
nada.
de volta ao
princípio
o agora
congelou.
o antes fica
pra depois.
(poeta
carioca que hoje faz 63 anos)
sexta-feira, maio 23, 2014
Pérola
Sei que às
vezes não se encontra
quem dê
valor àquilo que você faz,
àquilo que
você sonha,
e nem quem
ofereça aquilo que você realmente merece em tua vida.
Sei, também,
que isto pode machucar bastante
e fazer com
que você se sinta uma pessoa diminuída diante de si mesma.
Mas, por
favor, não se permita tomar por esse tipo de sentimento
pois uma
pérola esquecida na praia,
ainda que
não seja notada,
nem apanhada
ou
devidamente reconhecida,
nunca perde
o seu valor.
(poeta
rondoniano que hoje faz 34 anos)
quinta-feira, maio 22, 2014
Eu, também,
canto a América
Eu sou o
irmão mais negro.
Quando
chegam as visitas,
Mandam-me comer na cozinha.
Mas eu rio
E como bem,
E vou
ficando mais forte.
Amanhã,
Quando
chegarem as visitas
Sentar-me-ei
à mesa.
Ninguém
ousará,
então,
dizer-me,
“Vai comer
na cozinha”.
Além do
mais,
Eles verão
quão bonito eu sou
E se
envergonharão.
Eu, também,
sou a América.
(poeta estado-unidense
falecido em 22 de Maio de 1967)
quarta-feira, maio 21, 2014
Construção
Eles são
donos do mundo e não sabem disso.
Daqui os
vejo
bem no alto
contra o espaço,
eles vem e
vão
pássaros
sérios
deslocando
nuvens .
Daqui os
vejo criando
essa
explosão precisa
de ferro
cimento e paciência
- agora um
bem pensado
esqueleto de
superpostas vigas.
E a gente
fica cismando como é belo
o que eles
criam e o simples permanecer
de um
operário no alto da sua construção.
O pequeno
quadrado (que será elevador)
desce e sobe
por ossos de madeira
do poço por
eles trabalhado.
Eles constroem
o mundo
eles
divididos mas tão fortes
eles são o
mundo
e não se
importam.
Eles
levantam os castelos de agora
castelões
provisórios no alto de suas torres.
(escritora
paraense que hoje faz 81 anos)
terça-feira, maio 20, 2014
segunda-feira, maio 19, 2014
Orfeu
rebelde
Orfeu
rebelde, canto como sou:
Canto como
um possesso
Que na casca
do tempo, a canivete,
Gravasse a
fúria de cada momento;
Canto, a ver
se o meu canto compromete
A eternidade
do meu sofrimento.
Outros,
felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a
voz assim, num desafio:
Que o céu e
a terra, pedras conjugadas
Do moinho
cruel que me tritura,
Saibam que
há gritos como há nortadas,
Violências
famintas de ternura.
Bicho
instintivo que adivinha a morte
No corpo dum
poeta que a recusa,
Canto como
quem usa
Os versos em
legítima defesa.
Canto, sem
perguntar à Musa
Se o canto é
de terror ou de beleza.
(Mário de
Sá-Carneiro nasceu a 19 de Maio de 1890)
domingo, maio 18, 2014
sábado, maio 17, 2014
sexta-feira, maio 16, 2014
quinta-feira, maio 15, 2014
Morri pela
Beleza
Morri pela
Beleza - mas mal eu
Na tumba me
acomodara,
Um que pela
Verdade então morrera
A meu lado
se deitava.
De manso
perguntou por quem tombara…
- Pela
Beleza - disse eu.
- A mim foi
a Verdade. É a mesma Coisa.
Somos Irmãos
- respondeu.
E quais na
Noite os que se encontram falam -
De Quarto a
Quarto a gente conversou -
Até que o
Musgo veio aos nossos lábios -
E os nossos
nomes - tapou.
(poetisa
estado-unidense falecida a 15 de Maio de 1886)
Tradução de
Jorge de Sena
quarta-feira, maio 14, 2014
O retrato
A minha mãe
nunca perdoou o meu pai
por se ter
suicidado,
especialmente
num momento tão inoportuno
e num parque
público,
naquela
primavera
em que me
preparava para nascer.
Ela fechou o
seu nome
no seu
armário mais fundo
e não o quis
deixar sair,
embora eu
pudesse ouvi-lo a bater.
Quando desci
do sótão
com o
retrato a pastel na minha mão
de um
estranho de lábios grandes
com um
intrépido bigode
e
equilibrados olhos castanhos escuros,
ela rasgou-o
em pedaços
sem dizer
uma palavra
e
esbofeteou-me com força.
Aos sessenta
e quatro anos
ainda
consigo sentir a minha bochecha
a arder.
(poeta
estado-unidense falecido faz hoje 8 anos)
terça-feira, maio 13, 2014
Guernica
Subsiste,
Guernica, o exemplo macho,
Subsiste
para sempre a honra castiça,
A jovem e
antiga tradição do carvalho
Que descerra
o pálio de diamante.
A força do
teu coração desencadeado
Contactou os
subterrâneos de Espanha.
E o mundo da
lucidez a recebeu:
O ar voa
incorporando-se teu nome.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 113 anos)
segunda-feira, maio 12, 2014
Cassandra e
a Troika
Então
Cassandra apareceu na rua
trazia um
cartaz para entregar à Troika
saúde
educação dizia ela. E havia
em seu olhar
a cólera e a beleza
ela era a
filha de Príamo aquela
por quem
Apolo se apaixonou
nos seus
ouvidos passaram as serpentes
e por isso
ela ouvia o que ninguém ouvia
tinha vindo
para avisar que a Troika
é o novo
cavalo falso dentro da cidade
os
seguranças rodearam-na mas ela falava
seus longos
cabelos soltos sob o sol de Lisboa
clamava por justiça
e dignidade
ouvissem ou
não ouvissem ela era a sibila
e apontava o
cavalo dentro da cidade.
(Manuel Alegre
faz hoje 78 anos)
domingo, maio 11, 2014
Velando
Junto dela,
velando… E sonho e afago
imagens,
sonhos, versos comovido…
Vejo-a
dormir… O meu olhar é um lago
em que um
lírio alvorece reflectido…
Vejo-a
dormir e sonho… Só de vê-la
meu olhar se
perfuma e, em minha vista,
há um céu de
Amor a estremecê-la
e a devoção
ansiosa dum Artista…
- Nuvem
poisada, alvente, sobre a neve
das
montanhas do céu - ó sono leve,
hálito de
jasmim, lírio, luar…
Respiração
de flor, doçura, prece…
- Ó
rouxinóis, calai! Fonte, adormece,
senão o meu
Amor pode acordar!
(poeta
amarantino nascido faz hoje 125 anos)
sábado, maio 10, 2014
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