quarta-feira, abril 03, 2013

CANTO DO AFOGADO

O que fui, as águas não devolvem.
No sumidouro me perdi.

Os amigos procuram um corpo entre as sarças.
Trazem roupas de banho, redes novas,
escafandros nos bolsos. Eles não sabem
que o afogado sonha entre as anêmonas.

O pássaro entende os caminhos do mar,
o galo da manhã conhece a estrela,
mas vós, amigos, ignorais a face
imóvel sob as águas.

Ó cordeiros da infância,
no olho do peixe está a origem.


(poeta mineiro nascido faz hoje 102 anos)

2 comentários:

Lídia Borges disse...


"O que fui, as águas não devolvem."

Um verso belíssimo que se constitui súmula do poema.

Lídia

jrd disse...

O Mar guarda os melhores.

Abraço