terça-feira, novembro 13, 2012

À minha mãe

1

Disseste-me: este
é o meu corpo,
o meu sangue.
Toma, come e bebe
- vida e mortalha.

Depois, o pão
fatiado, ferido
pela faca
e o vinho vermelho
vertido, manchando
as toalhas.

Sob o olhar
obsceno de um deus
que te usurpava
as palavras.

2

Sagrada obscenidade
do corpo
tocado pela promessa
da morte:
como um pária
ou como a marca
de um deus ausente.

Sejas sacrílega
e devolve-lhe
a qualidade humilde
dos corpos vivos.

3

Como se me viesse de ti
a carne, o sangue
das palavras.


(escritora catalã que hoje faria 60 anos)

Tradução de Ronald Polito

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