Divórcio
Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina...
Há cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tão masculina!
Cidade muda como um soldado.
Cidade cega. Todos os dias,
A nossa vida fica mais breve,
As nossas mãos ficam mais frias...
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.
Cidade cega todos os dias.
Cidade oblíqua. Sexo pesado.
Rio de cinza, lúgubre e lento...
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!
Cidade minha, do meu pecado...
Cidade estranha, sabes que existo?
Os homens passam... Para onde vão?
Só tem amores quem não for visto.
Por isso canto, só porque insisto
Em dar combates à tentação.
Oh! a volúpia de não ser visto!
(poeta portuense falecido faz hoje 28 anos)
1 comentário:
Era uma voz potente!
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