A MORTE DE CALAR
As viagens que sou prenderam-se em redomas
Ao corpo das palavras. À morte de calar.
Do alfabeto meu ignoro as cristalinas
Formas de aladas letras nestes versos finais.
São fantasmas de sol. São fantasmas de sede
Que chegam alta noite para nenhum lugar.
Decifro nas entranhas das trevas migradoras
O solstício da vida além da morte clara.
Mas quem me vem cegar, com setas voadoras
Nega-me agora a paz das secretas paisagens.
Meus Irmãos de astronaves, guiadas por um morto,
Que me esperam e estão, que me cantam e falam.
Que na vazia Cruz crucificam meu corpo
E abandonam a flor, mesmo a meio da sala.
À janela rasgada, para as cinzentas águas,
Encostam-me, sem olhos, e deixam-me ficar.
Não tenho nada mais a escrever sobre as ondas.
E mesmo que tivesse, ninguém leria o mar.
Natércia Freire
(poetisa benaventense nascida a 28 de Outubro de 1920)
4 comentários:
Desconhecia o poema. Quanto a Iban~ez coloquei há tempo este mesmo vídeo no meu blogue, rrss
Um abraço
lindo como sempre
Bjinhos
Paula
abraço.
enorme escritora. fora dos escaparates.
ainda bem que a trazes ao nosso convivio
Para alguém que tem o nome da minha Mãe há sempre algo mais a escrever...
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