How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sexta-feira, julho 31, 2009
quinta-feira, julho 30, 2009
(RE)PRESA
A água debaixo da ponte
agita-se com o reflexo do céu
e devora a noite
tecendo o rio de estrelas.
Debaixo da ponte
os lábios das margens
molham-se de delírios
e os lírios olham a imensidão.
Debaixo da ponte
o corpo da água escorre
entre os dedos de concreto
e esbarra no beijo da vegetação.
Dilson Lages Monteiro*
*poeta brasileiro
terça-feira, julho 28, 2009
domingo, julho 26, 2009
sexta-feira, julho 24, 2009
quinta-feira, julho 23, 2009
quarta-feira, julho 22, 2009
PURGATÓRIO
a mãe gemendo de dor
(sem remédio)
o irmão sem dentes e emprego
(e bêbado)
pai e avô caducando em asilo
(em cheiro de urina)
sobrinhos e filhos e netos
(bisnetos)
alongando a caravana
(em deserto)
eu parede de palavras
a repercutir seus ais
(só em versos)
se eu morrer só poeta
ouvirei em juízo:
tive fome e me deste poesia
Deise Assumpção*
*poetisa paulista
terça-feira, julho 21, 2009
O homem impossível
O homem impossível não é uma estátua
ou uma figura na tela
da impossibilidade.
Caminha, movimenta-se,
existe na realidade.
Com asas formidáveis de
arcanjo, divindade,
cuida, organiza, espera
a mulher amada
até tarde,
e sua boca impossível só profere
verdades.
O homem impossível
não tem amor urgente.
Não tem pressa, não tem raiva
nem suores dementes,
seus olhos enxergam
e seu coração pressente.
Mas tem calor, o homem impossível,
cheiro, gosto, desejo táctil
e um grande coração portátil
que sempre carrega consigo,
sabiamente.
Deborah Dornellas*
*poetisa brasileira
segunda-feira, julho 20, 2009
sábado, julho 18, 2009
Cerimónia
O disco de fogo
põe-se lentamente
no fiambre da montanha.
Pessoas diferentes
vindas de todos os caminhos
enfileiram-se solitárias
para escreverem seus nomes
no Livro de Ponto
do dia.
Mas quem são aqueles
que vêm apressados
ao longe nas estradas?
Eles são os poetas
que, resistindo à centrífuga
do dia, estiveram a escorregar
sonhos na 7ª. esteira
do arco-íris.
Débora Novaes de Castro*
*poetisa paulista
quinta-feira, julho 16, 2009
Memória dum Pintor Desconhecido
Os presos contam os dias
eu as horas
nesta prisão maior onde um olhar ficou boiando
e uma voz um som de passos perseguidos
na sombra perseguindo a segurança
fugidia
Na cidade que amo e a sós comigo
é talvez só futuro ou já saudade
com alma bem nascida entre o fragor de máquinas, cimento e energia
atómica indefeso entre irmãos de cárcere demando
a voz que foge os irmãos que não vejo
o brando olhar que guarda o meu desejo
e só consigo
ver o gomoso arrastar das horas e das horas
tantas horas
à baioneta marcadas por uma sentinela
aos quatro cantos da janela
gradeada
do dia-a-dia
onde não há
mais nada
Que nada são os dias e os anos
para um tão grande amor que vou pintando
com o próprio sangue os meus e teus enganos
que há-de nascer que há de florir que há de
e há-de e há-de
quando?
Mário Dionísio
quarta-feira, julho 15, 2009
Compulsão à citação
Há pessoas que precisam apoiar-se em citações o tempo todo. Alguns trazem esse hábito do berço... O pai citador transmite ao descendente essa mania - filho de peixe, peixinho é. Citações de provérbios, ou citações mais requintadas. Quando não lembra a citação, o citador sofre, sabendo, porém, como dizia Oscar Wilde, que "as nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros"...
O citador vive entre aspas, coleciona as palavras alheias com reverência. Não teme a recriminação daqueles que, citando algum pensador, repetem: "Quem cita os outros jamais desenvolve suas próprias ideias".
E daí? Mais vale uma citação na mão do que repetir, sem saber, e de modo menos genial, o pensamento que outros já formularam com exatidão. Quem cita pensa também. Citando com a consciência alerta, pensarei ao lado de grandes pensadores. Por exemplo, ao lado de Leonardo da Vinci, que escreveu: "Quem pouco pensa, muito erra." Não seria o caso de admitir que quem cita muito... muito acerta?
E tem mais. O citador compulsivo nunca está sozinho. Dentro dele dialogam centenas de pessoas, com frases redondas, aforismos intrigantes. O citador é um solitário acompanhadíssimo. Dizia isso com outras palavras, sem desconfiar que se referia ao citador, o poeta Carlos Drummond de Andrade: "A solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos."
Solitário, ensimesmado, o citador adora dicionários de citações. Passa horas em convívio intenso com centenas de pessoas que disseram algo relevante, mais ou menos inteiradas do poder de suas palavras. Montaigne mencionava os "doutores pela ciência alheia", mas talvez seja de fato impossível chegar ao "doutorado" de outro modo. Só Deus prescinde de citações, e todas as que Ele faz são citações por Ele mesmo inventadas!
A mania de citar, à medida que aprofunda suas raízes na mente do citador, transforma o citador num pensador original. Seu talento consiste em aplicar em contextos diferentes as frases que nasceram em diferentes lugares e tempos. "Por toda a minha vida eu vou te amar" perderá suas aspas na declaração de amor que o citador fizer com a paixão que o primeiro poeta jamais teve.
Citar é aceitar que alguém foi feliz em dizer algo que eu não disse antes. Mas é também aceitar outro fato. Ao citar tantos outros, poderei talvez, distraidamente, criar minhas próprias frases. Frases que, no futuro, outro citador compulsivo salvará do esquecimento.
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
segunda-feira, julho 13, 2009
domingo, julho 12, 2009
sábado, julho 11, 2009
Humorismo
Sossego macio da tarde.
Um sol cansado
passa pelo rosto suado
uma nuvenzinha alva como um lenço
para enxugar as primeiras estrelas.
Silêncio.
E o sol vai caminhando sobre os montes tranqüilos
vai cochilando. E de repente
tropeça e cai redondamente
sob a pateada dos sapos e a vaia dos grilos.
Guilherme de Almeida*
*no 40º aniversário da sua morte
sexta-feira, julho 10, 2009
quinta-feira, julho 09, 2009
De repente...
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes*
*no 29º aniversário da sua partida
Activista precoce
Enquanto o pai se esforçava por dar algum sentido à cimeira do G8, em L’Áquila, a filha mais velha, Malia Obama, de 11 anos, era fotografada à saída de uma gelataria, em Roma, envergando uma camisola que tinha estampada uma das imagens mais conhecidas e políticas do mundo, o logótipo da CND, que se tornou um símbolo universal da luta pela paz e pelo desarmamento nuclear. Ninguém acredita que tenha sido por engano ou acaso.
quarta-feira, julho 08, 2009
O caimão em apuros
Acossado por vários escândalos, os mais recentes dos quais se referem a testemunhos de prostitutas de alto coturno pagas para passarem noites com ele, como é o caso de Patrizia d’Addario, na imagem, Il Cavalieri confronta-se, com o espectro do fracasso da cimeira do G8 que hoje começa na destruída cidade de L’Aquila.
Primeiro, foram quatro professoras universitárias italianas que pediram às primeiras damas para boicotarem a cimeira, a que se seguiu um coro de críticas quanto ao local escolhido, depois de a cidade ter sofrido outro abalo sísmico, na passada semana.
Agora, face à falta de planeamento e ao caos que têm rodeado os preparativos, já se levantam várias vozes para que a Itália seja excluída do G8, falando-se na Espanha, que tem um PIB per capita superior, para a substituir. Para mim, que passei os 11 dias da minha última viagem a fugir de um enorme, ruidoso e mal educado grupo de italianos que nos tocaram em sorte, nem me desagrada a ideia. Afinal, que consideração pode merecer a maioria de um povo que escolhe por três vezes um tal primeiro ministro?
terça-feira, julho 07, 2009
Criminoso de guerra
Com a provecta idade de 93 anos morreu ontem Robert S. McNamara, criminoso de guerra que foi Secretário da Defesa dos Estados Unidos entre 1961 e 1968, arquitecto da Guerra do Vietname e impulsionador de uma corrida desenfreada ao armamento nuclear.
Já em 1961 tinha apadrinhado a invasão da Baía dos porcos, dando luz verde àquela operação de ataque a Cuba; em 1964, após o incidente do Golfo de Tonquim, em que, num ataque que nunca existiu, como ficou demonstrado por um relatório desclassificado pela NSA em 2005, uma patrulha do Vietname do Norte foi acusada de ter disparado sobre dois navios de guerra dos Estados Unidos, conseguiu convencer o Presidente Johnson de que as provas do falso ataque eram irrefutáveis, o que levou o Congresso a autorizar a guerra.
Para além da sua responsabilidade na morte de mais de cinco dezenas de milhares de militares estado-unidenses e de cerca de três milhões de vietnamitas, a que haverá que acrescentar as centenas de milhares de feridos e incapacitados de ambos os lados, foi ainda o responsável pelos milhões de toneladas de agente laranja lançadas sobre o território vietnamita cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir.
Em 1995, confessou nas suas memórias que estava “errado, terrivelmente errado”, mas apenas sofreu a condenação moral de alguns dos seus concidadãos, sendo-lhe permitido levar um resto de vida pacífica, possibilidade que ele negou a milhões.
segunda-feira, julho 06, 2009
sábado, julho 04, 2009
Escola da Idade da Pedra
Numa escola da Idade da Pedra, a professora distribui um pedaço de pedra, um martelinho e um cinzel para cada aluno, e começa a fazer um ditado:
- O rei...
Pléc, pléc, pléc - todos gravam uma coroa
- ...é forte...
Pléc, pléc, pléc - todos gravam um leão.
- ...e viril...
Pléc, pléc... - todos os alunos param e ficam pensativos
De repente, a voz de Joãozinho Pedregulho quebra o silêncio:
- Professora, viril escreve-se com um ou dois testículos?
sexta-feira, julho 03, 2009
A criança que pensa em fadas
A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro
quinta-feira, julho 02, 2009
A tríade
Militares, igreja e possidentes andam sempre de mãos dadas nos golpes de estado. Aconteceu assim em Portugal e Espanha, aconteceu assim em quase todos, se não mesmo em todos, os países da América Central e do Sul e acabou de acontecer assim nas Honduras. Na maioria da vezes houve uma mão escondida com o corpo todo de fora: a embaixada dos Estados Unidos no país escolhido para o golpe.
A França, a Espanha, a Itália e a maioria dos países latino-americanos retiraram os seus embaixadores de Tegucigalpa; a União Europeia falou com voz grossa; o Banco Mundial fechou a torneira; e até os Estados Unidos, depois de alguma hesitação, declararam que apenas reconhecem o Presidente deposto Manuel Zelaya e cessaram a colaboração militar com os golpistas, mandando aquartelar os 600 militares da Base Aérea de Soto Cano, apesar de vários membros da sua embaixada (Simon Henshaw, Andrea Brouillette-Rodriguez, William Brands, Kenneth Rodriguez) terem sido acusados de pertencerem à CIA e de estarem envolvidos no golpe.
Por cá, há uns coitados espalhados pelos media e pelos blogues empenhados em defender o indefensável. O que mais me surpreende é que alguns até se dizem de esquerda - estou a falar da verdadeira, não da auto-denominada moderna – e têm alergias a tudo o que cheire a sacristia . Como escreveu a grande Sophia no poema que deixei na posta anterior, “perdoai-lhes Senhor porque eles sabem o que fazem”.
As pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
Porque cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen*
*no 5º aniversário da sua passamento
quarta-feira, julho 01, 2009
Festa no Iraque
O Iraque celebrou ontem a retirada das tropas estado-unidenses das suas cidades com paradas, fogos de artifício e um feriado nacional, enquanto que o primeiro ministro se vangloriava, perante uma audiência desconfiada, de ter conseguido a soberania face à ocupação americana.
Mas parece serem poucas as razões para festejar e muitos os motivos para desconfiar, num país destruído por 6 longos anos de guerra civil e carente de quase tudo, dividido entre xiitas, sunitas e curdos, sem exército e forças de segurança à altura e chefiado por um homem de mão do império que já começou a vender ao desbarato a sua maior fonte de riqueza.
Para além do início do cumprimento de uma promessa de Obama e da libertação do jugo do invasor, permanece a interrogação sobre o que ganharam a humanidade e os iraquianos em particular, com o arrasamento de um país - herdeiro de uma civilização riquíssima -, um milhão e meio de mortos e vários milhões de refugiados.
Fotografia: Nabil al-Jurani/Associated Press
Mais imagens dos festejos aqui e aqui
Subscrever:
Mensagens (Atom)