How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
segunda-feira, novembro 28, 2016
Poema
Eu sei que
um dia irás, calada e pálida
Pôr flores
no meu coval.
Ah, mas por
Deus, não chores uma lágrima!
Chama por
mim, baixinho...
Então verás
as pétalas das rosas,
Dos lírios,
das violetas, dos crisântemos,
acesas como
estrelas!
Sou eu que
me ilumino
Lá no fundo
da noite,
Para te ver
no meu caminho!
(escritor
cernachense falecido faz hoje 51 anos)
sábado, novembro 26, 2016
sexta-feira, novembro 25, 2016
quinta-feira, novembro 24, 2016
Arma secreta
Tenho uma
arma secreta
ao serviço
das nações.
Não tem
carga nem espoleta
mas dispara
em linha recta
mais longe
que os foguetões.
Não é
Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou
outros que tais.
É coisa
muito melhor
que todo o
vasto teor
dos Cabos
Canaverais.
A potência
destinada
às rotações
da turbina
não vem da
nafta queimada,
nem é de
água oxigenada
nem de
ergóis de furalina.
Erecta, na
noite erguida,
em alerta
permanente,
espera o
sinal da partida.
Podia
chamar-se VIDA.
Chama-se
AMOR, simplesmente.
(António
Gedeão nasceu faz hoje 110 anos)
quarta-feira, novembro 23, 2016
O Poema
Um poema
cresce
inseguramente
na confusão
da carne.
Sobe ainda
sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como
sangue
ou sombra de
sangue pelos canais do ser.
Fora existe
o mundo. Fora, a esplendida violência
ou os bagos
de uva de onde nascem
as raízes
minúsculas do sol.
Fora, os
corpos genuínos e inalteráveis
do nosso
amor,
rios, a
grande paz exterior das coisas,
folhas
dormindo o silencio
a hora
teatral da posse.
E o poema
cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum
poder destrói o poema.
insustentável,
único,
invade as
casas deitadas nas noites
e as luzes e
as trevas em volta da mesa
e a força
sustida das cisas
e a redonda
e livre harmonia do mundo.
Em baixo o
instrumento perplexo ignora
a espinha do
mistério
- E o poema
faz-se contra a carne e o tempo.
(Herberto
Hélder faria hoje 86 anos)
terça-feira, novembro 22, 2016
A escrita
das águas
Olho em meu
redor.
A chuva
afaga as raízes das árvores
e agita seus
ramos como se fossem
mantilhas de
seda agasalhando
os pássaros
no rodeio do vento.
Sei que o
tempo não se detém.
Os muros
mais severos assinalam,
sem
dissonância, a escrita
repisada das
águas que a idade
guardou na
borda das pedras.
(poetisa
figueirense que faz hoje 70 anos)
segunda-feira, novembro 21, 2016
domingo, novembro 20, 2016
Tristeza
Como as
ervas de humilde condição
Que ninguém
colhe e ninguém procura
Ficará o meu
tesouro de ternura
Condenado à
mais triste condição…
O mal que me
tens feito, sem razão,
Porque
excede os limites da tortura
Rejeitar-nos
alguém por desventura
Aquilo que
se dá do coração!…
Oh! difícil
é dar sem ter o quê…
Mas receber
da mão de quem nos dê
É tão fácil,
meu Deus, e não m’aceitas!…
Se nada peço
que razões alegas?
Eu não choro
o carinho que me negas…
Eu choro
sobre o meu que tu rejeitas!…
(poetisa
portuense falecida faz hoje 36 anos)
sábado, novembro 19, 2016
A tinta e o
verso
Bebe o
sangue
do sol
nascente,
rouba o
negro da noite
e o ouro do
girassol,
arranca o
azul do céu,
faz o mural.
Traz o verde
da Mata,
as cores dos
espinhos sertanejos.
Arranca o
colorido das casas,
o castanho
dos rios,
a brancura
da lua,
a festa das
cores das ruas,
faz o mural.
Se faltar a
tela,
coloca tudo
em palavras no papel,
em vez das
cores,
escreve o
nome das coisas,
em vez de
amarelo
fala em
girassol,
no lugar de
azul
escreve céu.
Faltando até
mesmo
lápis e
papel,
recita os
meus versos,
diz poemas
do meu canto
que surgirão
as cores do chão.
(escritor
pernambucano que hoje faria 75 anos)
sexta-feira, novembro 18, 2016
Os livros
É então isto
um livro,
este, como
dizer?, murmúrio,
este rosto
virado para dentro de
alguma coisa
escura que ainda não existe
que, se uma
mão subitamente
inocente a
toca,
se abre
desamparadamente
como uma
boca
falando com
a nossa voz?
É isto um
livro,
esta espécie
de coração (o nosso coração)
dizendo
"eu" entre nós e nós?
(Manuel
António Pina nasceu faz hoje 73 anos)
quinta-feira, novembro 17, 2016
Ode
Oh tempo de
hoje
a tua face
é odiada
por milhões
Quem não te
amaldiçoou
ao menos uma
vez?
e não
crispou
as mãos e o
rosto ao menos uma vez
ao remoinho
impiedoso
das tuas
contradições?
Meu tempo
meu tempo
feito de
braços decepados
com gritos
reprimidos
tua poesia
de dentes cariados
teus sonhos
desmentidos
e ainda
sempre amados
Vêem-te o
esgar
Vivem-te o
bafo pestilento
todos te
odeiam Sim
Mas eu
amo-te tempo
dos meus
dias
e dou-te com
fervor
a toda a
hora
o mais
profundo e mais inolvidável
que há em
mim
(Mário
Dionísio faleceu faz hoje 23 anos)
quarta-feira, novembro 16, 2016
Balança
Com pesos
duvidosos me sujeito
À balança
até hoje recusada.
É tempo de
saber o que mais vale:
Se julgar,
assistir, ou ser julgado.
Ponho no
prato raso quanto sou,
Matérias,
outras não, que me fizeram,
O sonho
fugidiço, o desespero
De prender
violento ou descuidar
A sombra que
me vai medindo os dias;
Ponho a vida
tão pouca, o ruim corpo,
Traições
naturais e relutâncias,
Ponho o que
há de amor, a sua urgência,
O gosto de
passar entre as estrelas,
A certeza de
ser que só teria
Se viesses
pesar-me, poesia.
(José
Saramago nasceu faz hoje 94 anos)
terça-feira, novembro 15, 2016
Poema do
amante da viúva do tuberculoso
Para mim és
um mito,
és o
fantasma de teu marido
que morreu
tossindo de madrugada,
engasgando
em sangue,
és o símbolo
do tísico,
és o
tuberculoso vestido em carnes novas.
A presença
real de teu marido
agarra-se
inexorável á floração de tuas carnes
na minha
obsessão,
terror
diabólico que me inibe o prazer,
receio
angustioso que me veda a satisfação!
Preciso
possuir-te brutalmente
para não
sentir tocar-me o peito batido,
as pernas
magras, a pélvis saltada do tísico....
teu amor
seria tão bom
se o defunto
tivesse morrido mesmo,
meu mal foi
conhecer teu marido tossindo a noite inteira,
a luz acesa
coando por baixo da porta.
(escritor
goiano nascido faz hoje 101 anos)
quinta-feira, novembro 10, 2016
Sonhos de
Sol
Nesta manhã
tão clara é sacrilégio
o se pensar
na morte. No entanto
é no que
penso úmidos de pranto
os meus
olhos cansados.
Sortilégio
de luz pela
cidade... As casas todas,
humildes e
branquinhas
lembram
gráceis e tímidas mocinhas
no dia de
suas bodas.
Morrer assim
numa manhã tão linda,
risonha,
rosicler,
não é
morrer... é adormecer ainda
na doce
tepidez de um seio de mulher!
Não é
morrer... é só fechar os olhos
Para melhor
sentir o cheiro do jasmim
Escondido da
renda nos refolhos!...
Ah! Quem me
dera que eu morresse assim.
(poeta
paraense nascido faz hoje 108 anos)
quarta-feira, novembro 09, 2016
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
(poeta piauiense nascido a 9 de Novembro de 1944)
terça-feira, novembro 08, 2016
As Almas
Vejo passar,
na infinda solidão,
Vultos de
almas, figuras de emoção;
Os poetas do
silêncio que não cantam,
Os doidos
que, de súbito, se espantam,
Os que
gelam, ao ver o luar nascente,
Os que fitam
a mesma estrela eternamente;
Os perdidos
da sorte,
Os que
chamam, gritando, pela morte!
Os que
andam, sem saber, pelos caminhos,
Os que de
noite vão, sempre a falar sozinhos,
Os que vivem
casados com a dor
E a escondem,
ciumentos;
Os trágicos
do Amor,
Os que
sentem astrais deslumbramentos,
Os que matam
e cantam por destino:
O salteador
nocturno, o poeta que é divino.
Os tristes
vagabundos
Em perpétua
e fantástica viagem...
Os que amam
a paisagem
E têm nos
olhos a amplidão dos mundos...
Vultos de
almas, figuras de emoção.
Errantes, na
infinita solidão.
(Teixeira de
Pascoaes nasceu a 8 de Novembro de 1877)
segunda-feira, novembro 07, 2016
Discurso
E aqui estou, cantando.
Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.
Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.
Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.
Pois aqui estou, cantando.
Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?
Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
(poetisa carioca nascida a 7 de Novembro de 1901)
domingo, novembro 06, 2016
Quando
Quando o meu
corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o
jardim, o céu e o mar,
E como hoje
igualmente hão-de bailar
As quatro
estações à minha porta.
Outros em
Abril passarão no pomar
Em que eu
tantas vezes passei,
Haverá
longos poentes sobre o mar,
Outros
amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo
brilho, a mesma festa,
Será o mesmo
jardim à minha porta,
E os cabelos
doirados da floresta,
Como se eu
não estivesse morta.
(Sophia de
Mello Breyner Andresen nasceu faz hoje 97 anos)
sábado, novembro 05, 2016
Uma sereia
encontrou
um livro de
Freud no mar.
Ficou
sabendo de coisas
que o rei do
mar nem sonhava.
Quando a
sereia leu Freud
sobre uma
estrela do mar,
tirou o pano
de prata
que usava
para esconder
a sua cauda
de peixe.
E o mar
então deu uma festa.
E no outro
dia a sereia
achou um
livro de Marx
dentro de um
búzio do mar.
Quando a
sereia leu Marx
ficou
sabendo de coisas
que o rei do
mar nem sonhava
nem a rainha
do mar.
Tirou então
a coroa
que usava
para dizer
que não era
igual aos peixinhos.
Quebrou na
pedra a coroa.
E houve
outra festa no mar.
(poeta
baiano falecido faz hoje 48 anos)
sexta-feira, novembro 04, 2016
Bandeira
é um braço
de fevereiro e outro de novembro
que te içam.
os nossos
olhos sobem lentamente
a ver teu
desfraldar a noite as cores antigas
o vermelho e
o preto.
bandeira
catana de campesina luta
aliança na
roda
dentada
proletária força
sem fim até
ao brilho sem limite
da estrela.
eles vinham
pelo norte e pelo sul
para estar
hoje mas não chegaram.
e de ti o
luar começa a ser inveja!
olhamos-te
bandeira agora
e vamos
percorrer contigo este país
até
semearmos novembro em toda a parte.
(poeta
angolano que hoje faz 75 anos)
quinta-feira, novembro 03, 2016
Tristeza
Esta noite
eu durmo de tristeza.
(O sono que
eu tinha morreu ontem
queimado
pelo fogo de meu bem.)
O que há em
mim é só tristeza,
uma tristeza
úmida, que se infiltra
pelas
paredes de meu corpo
e depois
fica pingando devagar
como lágrima
de olho escondido.
(Ali, no canto apagado da sala,
meu sorriso
é apenas um brinquedo
que a
mãozinha da criança quebrou.)
E o resto é
mesmo tristeza.
(poeta
carioca nascido faz hoje 82 anos)
quarta-feira, novembro 02, 2016
Como
Queiras, Amor...
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a
ti, a tudo me abandono,
seguro e
certo, num terror tranquilo.
A tudo
quanto espero e quanto temo,
entregue a
ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que
eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não,
ainda há por que eu não espere
como de quem
ser vida é ter destino.
As
pequeninas coisas da maldade, a fria
tão
tenebrosa divisão do medo
em que os
homens se mordem com rosnidos
de
malcontente crueldade imunda,
eu sei
quanto me aguarda, me deseja,
e sei até
quanto ela a mim me atrai.
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil
que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza,
essa ternura tépida
quais olhos
marejados, carne entreaberta,
será só
escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios
que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás
salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como
queiras ficaremos vivos.
Será mais
duro que morrer, talvez.
Entregue a
ti, porém, eu me dedico
àquele amor
por qual fui homem, posse
e uma tão
extrema sujeição de tudo.
Como tu
queiras, meu Amor, como tu queiras.
(Jorge de
Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919
terça-feira, novembro 01, 2016
Para Todo o
Sempre
O Poeta
morre,
mas não
cessa de escrever.
Enquanto
escreve,
vive
ressuscitando
fugidias horas
mudadas em
auroras...
Uma
pequenina flor,
pisada por
quem passa,
é agora
um milagre
de cor,
uma negaça
de mil
desejos...
E os beijos
que nunca
foram dados,
tornados tão
reais...
Aquela
borboleta
arrasta
infindas
primaveras
no seu voo
fremente...
- Uma
palavra mais,
Poeta!
Uma palavra
quente!
Uma palavra
para todo o sempre!
(poeta
vila-condense nascido faz hoje 114 anos)
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