How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sexta-feira, setembro 30, 2016
quinta-feira, setembro 29, 2016
Falésias
Poder-me-ão
encontrar, trago um rapaz na minha
memória, a
casa a uma janela
da qual ele
vem como um sabor à boca,
falésias
onde o aguardo à hora do crepúsculo.
Regresso
assim ao mar de que não posso
falar sem
recorrer ao fogo e as tempestades
ao longe
multiplicam-nos os passos.
Onde eu não
sonhe a solidão fá-lo por mim.
(Luís Miguel
Nava faria hoje 59 anos)
quarta-feira, setembro 28, 2016
terça-feira, setembro 27, 2016
Olhos Verdes
Olhos verdes
da cor das verdes esmeraldas
e que
cercados sois de olheiras de ametistas,
tendes nesse
fulgor, a Esperança do Artista,
que da
montanha azul ascende às brutas faldas!
E em meio
deste mundo imundo e mau e egoísta,
cheio de
intrigas, dolo e muitas outras baldas,
viveis num
grande sonho, um sonho panteísta,
numa errante
visão de flores e grinaldas.
Há em vós a
atração dos profundos abismos,
a cuja borda
os bons e maus conjuntos choram,
na música do
amor em calma e cataclismos.
E a
orquestração dos sons dos perdidos lamentos
desses que
em vossa busca, ó pedras raras, foram
domando o
mar, buscando o céu, vencendo os ventos.
(poeta
paulista nascido faz hoje 119 anos)
segunda-feira, setembro 26, 2016
Armário
Eu queria,
senhora, ser o seu armário
e guardar os
seus tesouros como um corsário
Que coisa
louca:
ser seu
guarda-roupa!
Alguma coisa
sólida, circunspecta e pesada
nessa sua
vida tão estabanada.
Um amigo de
lei
(de que madeira
eu não sei)
Um sentinela
do seu leito
com todo o
respeito.
Ah, ter
gavetinhas
para suas
argolinhas
Ter um vão
para seu
camisolão
e sentir o
seu cheiro,
senhora, o
dia inteiro
Meus nichos
como bichos
engoliriam
suas meias-calças,
seus
soutiens sem alças,
e tirariam
nacos
dos seus
casacos,
E no meu
chão, como trufas,
as suas
pantufas…
Seus
echarpes, seus jeans,
seus longos
e afins
Seus trastes
e
contrastes.
Aquele
vestido com asa
e aquele de
andar em casa.
Um turbante
antigo.
Um pulôver
amigo.
Bonecas de
pano.
Um brinco
cigano.
Um chapéu de
aba larga.
Um isqueiro
sem carga.
Suéteres de
lã
e um
estranho astracã.
Ah, vê-la se
vendo
no meu
espelho, correndo.
Puxando, sem
dores,
os meus
puxadores.
Mexendo com
o meu interior
à procura de
um pregador.
Desarrumando
meu ser
por um
prêt-à-porter…
Ser o seu
segredo,
senhora, e o
seu medo.
E sufocar
com agravantes
todos os
seus amantes.
(Luís
Fernando Veríssimo faz hoje 80 anos)
Silêncio
Na gruta do
anoitecer,
sou a flor acesa que habita
as nervuras
do silêncio.
Da
sozinhez,
a estrutura
de silêncio
& de sigilos.
Dos
longes trago o fascínio do luar
e o cetim
das pétalas de rosas
para
suavizar
os músculos da quietude.
Penetro
janelas & oráculos,
com o perfume da voz da noite.
E, em
invisível pouso,
acendo o silêncio
com a força
da paixão
de quem ouve
o respirar da palavra,
e o da
lucidez que ela me concede.
..... Sou a
força acesa deste silêncio.
(poetisa
mineira que hoje faz 76 anos)
domingo, setembro 25, 2016
nenhum amor
escapa impune
deixa-me
perguntar se te
pareço tão
assustado assim. Não
me sinto
deslocado, talvez curioso, mas
nem
surpreso. algo em ti me puxa
sempre ao
sentimento, mesmo antes de
te conhecer,
lembras-te, uma propensão para
te tratar
bem, cuidar, vulnerabilizar os meus
modos,
recusar admitir que também eu sou
capaz de
crueldades quotidianas e
impunes.
queria conversar contigo
sobre o
nelson, que foi ver as coisas a
arder
fotografando a própria
pele. queria
falar-te da isabel e de como
choramos
juntos, muito maricas, quando
nos correm
mal estes amores ou, pior, a
nossa
amizade. esta noite sonhei contigo e
achei graça
dizer-te que cheirava mal
na nossa
cama. que me incomodou a luz a entrar
pela
persiana por fechar. que ouvi com dor o
orgasmo da
vizinha de baixo
queria que
soubesses que também eu
poderia ter
ardido para o nelson
fotografar.
queria que soubesses que
também
poderia parar de chorar pela
isabel.
queria que soubesses que o faria
exclusivamente
para
arruinar o meu coração, se fosse a
tua vontade
e com isso te deixasse em
paz. faria
qualquer coisa, ainda que
quisesse
morrer a seguir, faria qualquer coisa que,
por um
instante, te pusesse
a pensar em
mim
(valter hugo
mãe faz hoje 45 anos)
sábado, setembro 24, 2016
Mensagem
livre - I
Não será da
tarde
que farei
meu poema.
Nem do sol
farei minha
canção.
Do sal da
terra,
argamassa,
areia,
estrume e
viola
farei com
carinho
poemas de amor.
Dos olhos de
minha amada
e de
tristezas
brotarão da
terra
meus poemas
e canções.
Cantarei na
viola
existência
do homem
que luta
pelo seu dia,
canta alegria
e não espera por esperar.
Farei minha
canção
do sal da
terra
poemas de
amor.
(poeta
goiano que faz hoje 76 anos)
sexta-feira, setembro 23, 2016
Teu Corpo
Principia
Dou-te
um nome de
água
para que
cresças no silêncio.
Invento a
alegria
da terra que
habito
porque nela
moro.
Invento do
meu nada
esta
pergunta.
(Nesta hora,
aqui.)
Descubro
esse contrário
que em si
mesmo se abre:
ou alegria
ou morte.
Silêncio e
sol - verdade,
respiração
apenas.
Amor, eu sei
que vives
num breve
país.
Os olhos
imagino
e o beijo na
cintura,
ó tão
delgada.
Se é milagre
existires,
teus pés nas
minhas palmas.
Ó maravilha,
existo
no mundo dos
teus olhos.
Ó vida
perfumada
cantando
devagar.
Enleio-me na
clara
dança do teu
andar.
Por uma água
tão pura
vale a pena
viver.
Um teu
joelho diz-me
a indizível
paz.
(António
Ramos Rosa faleceu faz hoje 3 anos)
Para não
Deixar de Amar-te Nunca
Saberás que
não te amo e que te amo
pois que de
dois modos é a vida,
a palavra é
uma asa do silêncio,
o fogo tem a
sua metade de frio.
Amo-te para
começar a amar-te,
para
recomeçar o infinito
e para não
deixar de amar-te nunca:
por isso não
te amo ainda.
Amo-te e não
te amo como se tivesse
nas minhas
mãos a chave da felicidade
e um incerto
destino infeliz.
O meu amor
tem duas vidas para amar-te.
Por isso te
amo quando não te amo
e por isso
te amo quando te amo.
(Pablo
Neruda faleceu faz hoje 43 anos)
quinta-feira, setembro 22, 2016
Génese
Os búzios eram nas trevas
nas trevas brilharam olhos
os olhos rasgaram águas
as águas encheram ventres
os ventres criaram filhos
os filhos comeram terra
a terra deu logo bichas
as bichas pariram bichos
os bichos pejaram ruas
nas ruas nasceram casas
das casas saíram braços
os braços treparam muros
os muros prenderam bocas
as bocas disseram vozes
as vozes gritaram gritos
os gritos tornaram vozes
as vozes passaram muros
dos muros vieram braços
os braços ruíram casas
as casas fizeram ruas
nas ruas havia bichos
os bichos furaram terras
das terras surgiram filhos
os filhos só tinham ventres
os ventres traziam água
a água tapou os olhos
os olhos ficaram trevas
nas trevas cantaram búzios.
(poeta madeirense nascido a 22 de Setembro de 1925)
quarta-feira, setembro 21, 2016
Natureza
morta
Estirado na
valeta que há na estrada
jaz um
homem.
Como o pobre
está sorrindo
a gente tola
que passa
cuida que
ele está dormindo
e fala logo
em cachaça.
Mas o homem
já morreu.
De que
morreu, não importa.
Tão pouco de
que viveu.
É uma
natureza morta.
Fazem-lhe
quarto
tristonha
quaresmeira toda em flor
e um
grupinho multicor
de
marias-sem-vergonha.
O homem,
indiferente,
jogado à
margem da estrada
já não pode
ver mais nada
nem sente
nada.
Morreu.
Mas me fez
pensar na vida.
(poeta
paulista falecido faz hoje 34 anos)
terça-feira, setembro 20, 2016
segunda-feira, setembro 19, 2016
Outra Margem
E com um
búzio nos olhos claros
Vinham do
cais, da outra margem
Vinham do
campo e da cidade
Qual a
canção? Qual a viagem?
Vinham p’rá
escola. Que desejavam?
De face
suja, iluminada?
Traziam
sonhos e pesadelos.
Eram a noite
e a madrugada.
Vinham
sozinhos com o seu destino.
Ali
chegavam. Ali estavam.
Eram já
velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá
escola. O que esperavam?
Vinham de
longe. Vinham sozinhos.
Lá da
planície. Lá da cidade.
Das casas
pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá
escola: a novidade.
E com uma
estrela na mão direita
E os olhos
grandes e voz macia
Ali chegaram
para aprender
O sonho a
vida a poesia.
(escritora
salaciense nascida a 19 de Setembro de 1935)
domingo, setembro 18, 2016
Quando eu morrer
Quando eu
morrer em véspera tranqüila,
Num
pôr-do-sol de goivos e saudade,
Da velha
igreja, que a Madona asila,
O sino
grande a soluçar Trindade;
Quando o
tufão do mal que me aniquila
Soprar
minh´alma para a Eternidade,
Todas as
flores dos jardins da vila,
Certo, eu
terei da tua caridade.
E, já na
sombra amiga do cipreste,
Há de haver
uma lágrima piedosa,
A edênica
gota, a pérola celeste,
Para quem
desfolhou, terno, e as mãos cheias,
O lírio, o
bogari, o cravo e a rosa
Pelas
estradas brancas das aldeias.
(poeta
carioca falecido faz hoje 100 anos)
sábado, setembro 17, 2016
Poema do
Silêncio
Sim, foi por
mim que gritei.
Declamei,
Atirei
frases em volta.
Cego de
angústia e de revolta.
Foi em meu
nome que fiz,
A carvão, a
sangue, a giz,
Sátiras e
epigramas nas paredes
Que não vi
serem necessárias e vós vedes.
Foi quando
compreendi
Que nada me
dariam do infinito que pedi,
- Que ergui
mais alto o meu grito
E pedi mais
infinito!
Eu, o meu eu
rico de baixas e grandezas,
Eis a razão
das épi-trági-cómicas empresas
Que, sem
rumo,
Levantei com
sarcasmo, sonho, fumo...
O que
buscava
Era, como
qualquer, ter o que desejava.
Febres de
Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham
raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por
me ser vedado
Sair deste
meu ser formal e condenado,
Erigi contra
os céus o meu imenso Engano
De tentar o
ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu
Deus em que não creio!
Nu a teus
pés, abro o meu seio
Procurei
fugir de mim,
Mas sei que
sou meu exclusivo fim.
Sofro,
assim, pelo que sou,
Sofro por
este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por
não poder fugir.
Sofro por
ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu
Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para
mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me
o poder de estar calado,
Quieto,
maniatado, iluminado.
Se os gestos
e as palavras que sonhei,
Nunca os
usei nem usarei,
Se nada do
que levo a efeito vale,
Que eu me
não mova! que eu não fale!
Ah! também
sei que, trabalhando só por mim,
Era por um
de nós. E assim,
Neste meu
vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um
homem pela humanidade.
Mas o meu
sonho megalómano é maior
Do que a
própria imensa dor
De
compreender como é egoísta
A minha
máxima conquista...
Senhor! que
nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem!
e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu
Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim
de novo descerá...
Sim, descerá
da tua mão compadecida,
Meu Deus em
que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra
sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a
minha fome.
(José Régio
nasceu faz hoje 115 anos)
sexta-feira, setembro 16, 2016
Desnuda e
exposta aos vendavais sem pejo
Árvore
abandonada no caminho;
desnuda e
exposta aos vendavais sem pejo,
não tenho
sombras para o teu carinho,
não tenho
frutos para o teu desejo.
Destroçou-me
o infortúnio... Malfazejo
foi-me o
destino, e pérfido, e mesquinho.
Guardei no
seio o teu primeiro beijo:
tudo o mais
se perdeu pelo caminho.
Por que
buscas agora o amor desfeito?
- És sonho
na minha alma, e sonho morto.
- Sou rosa
em tuas mãos, e desfolhada.
Depois de
tantos anos, no teu leito
tens apenas
sobejos do meu corpo,
da minha
alma, talvez, não tenhas nada...
(poeta
mineiro falecido a 16 de Setembro de 1973)
quinta-feira, setembro 15, 2016
Canção da
Escuta
O sonho na
prateleira
me olha com
seu ar
de boneco
quebrado.
Passo diante
dele muitas vezes
e sorrimos
um para o outro,
cúmplices de
nossos desastres cotidianos.
Mas quando o
pego no colo
(como às
bonecas tão antigamente)
para avaliar
se tem conserto
ou se ficará
para sempre como está,
sinto sem
estranheza
que dentro
dele ainda bate
um pequeno
tambor obstinado
e marca -
timidamente -
um doce
ritmo nos meus passos.
(poetisa
gaúcha que hoje faz 78 anos)
quarta-feira, setembro 14, 2016
terça-feira, setembro 13, 2016
O FADO DO
COVEIRO
Das artes
mágicas campeão audaz
tira Marcelo
da manga a outra faceta:
por su dama
Lisboa, o Galaaz
faz à viela
e ginga à lisboeta.
Calça à boca
de sino de sino e cachené
ao marialva
senil metendo inveja,
fidalgo edil
que canta para a ralé
o faduncho
finório gargareja.
Estremece
Aníbal com o pardal fadista
que aquilo é
treino para o último regalo:
escaqueirar
o reinado cavaquista
e sobre a
tumba, por fim, cantar de galo.
(Natália
Correia nasceu faz hoje 93 anos)
segunda-feira, setembro 12, 2016
Teu olhar
Na folha em
branco,
Palavras
escritas,
Em vermelho
sangue, ferida!
Na sepultura
dos sonhos,
Enfrentando
as lutas,
Deixo-me
morrer
Frente a
frente aos seus olhos,
Sem jamais
te alcançar.
No azul das
algas salgadas,
Nas
tormentas e marés calmas,
Lá longe,
castanho, severo,
Brilha o teu
olhar!
(poetisa sul-mato-grossense
que hoje faz 66 anos)
domingo, setembro 11, 2016
Evolução
Fui rocha em
tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou
ramo na incógnita floresta...
Onda,
espumei, quebrando-me na aresta
Do granito,
antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera
talvez, buscando abrigo
Na caverna
que ensombra urze e giesta;
O, monstro
primitivo, ergui a testa
No limoso
paúl, glauco pascigo...
Hoje sou
homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus
pés, a escada multiforme,
Que desce,
em espirais, da imensidade...
Interrogo o
infinito e às vezes choro...
Mas
estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro
unicamente à liberdade.
(Antero de
Quental faleceu a 11 de Setembro de 1891)
sábado, setembro 10, 2016
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita
nada.
Nem pai nem
mãe.
Quando ela
chega
De qualquer
de seus abismos
Desconhece o
Estado e a Sociedade Civil
Infringe o
Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao
Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera:
beija
Nos olhos os
que ganham mal
Embala no
colo
Os que têm
sede de felicidade
E de
justiça.
E promete
incendiar o país.
(poeta
maranhense que hoje faz 86 anos)
sexta-feira, setembro 09, 2016
quinta-feira, setembro 08, 2016
Grito da
Dúvida
Há na minha
alma este tormento imenso:
Um céu de
estrelas todo pontilhado
Para onde
quer subir meu sonho ousado,
Galgando a
altura em espirais de incenso.
Foge-me a
estrela que eu, alucinado,
Tento
prender. E, em prantos, me convenço
Do
impossível, o olhar ao céu suspenso;
Mãos
erguidas, o rosto transtornado...
Ó tu que a
minha vida tantalizas
Com
promessas vazias, imprecisas,
Fugidias,
perdidas, abstratas.
Na mais rude
tragédia entre as mais rudes,
Se não me
amas, por que tu me iludes?
Se tu me
iludes, por que não me matas?...
(poeta
baiano nascido faz hoje 104 anos
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