How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quinta-feira, dezembro 22, 2016
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Eu já não choro
Eu já não choro
excepto por aquilo que algum dia
me fez chorar:
os aviões que proclamavam
que tudo tinha terminado;
a estação amarela diluída na noite
na qual coincidiam, somente por uns instantes,
o comboio que partia para o norte
e o que partia para o oeste
e que jamais voltariam a encontrar-se;
e a voz de Juan Rulfo: “diz-lhes que não me matem”;
e a malaguenha canária;
e a menina de Lisboa
que me pediu um “beijinho”.
Eu já não choro.
Nem sequer quando recordo
o que ainda me falta chorar.
(poeta madrileno falecido faz hoje 10 anos)
sábado, dezembro 17, 2016
Prece
Num mundo
onde grassa a corrupção,
obrigado,
Senhor,
pelos que
detêm o poder
e, ainda,
lutam para continuarem honestos.
Por aqueles
que não põem a honradez à venda,
seja à
vista, a prazo, pré-datado, no cartão...
Num mundo de
gananciosos,
soberbos,
egoístas,
Te
agradecemos, Senhor,
pelos
desapegados,
pelos amigos
sinceros,
pelos que
praticam a caridade,
pelos
humildes, pelas almas puras,
pelo povo
simples.
Num
caldeirão de desesperanças,
grato,
Senhor,
pelos que
ainda têm a coragem de esperar.
Num mundo de
iconolatria,
materialismo,
exibicionismo,
obrigado,
Senhor,
pelos
espiritualistas,
pelos que
meditam,
por aqueles
a quem amamos,
e por
aqueles que nos amam,
e,
sobretudo,
pelos que
ainda acreditam.
Num mundo
onde muitos
só pensam no
estômago,
obrigado,
Senhor,
pelos que
ainda possuem um coração.
Numa era de
guerras, carnificinas,
ódios
descabidos, torpes vinganças,
como Te
agradecer, Senhor,
pelas
famílias, pelas boas lembranças,
por um
sorriso franco, pelos pássaros,
pelas nossas
crianças?
Num mundo de
ódios raciais, de lutas religiosas,
de
inconcebíveis preconceitos e constantes desavenças,
graças Te
damos, Senhor,
pelos amigos
de todas as idades, de todas as raças,
de todas
cores e de todas as crenças.
Num mundo de
governos destrambelhados,
de discursos
vãos, caras-de-pau,
arautos
funéreos, falsos profetas,
valores às
avessas,
não sabemos
como Te agradecer, Senhor,
pelos que
ainda mantêm a ética,
cultivam a
verdade,
cumprem suas
promessas.
Puxa, quase
esqueço!
E obrigado,
também, pelos poetas...
(escritor
gaúcho que hoje faz 81 anos de idade)
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Parâmetro
Uma tarde
amarela noroeste
modo nosso
de amar lembrando a estrada,
que passa
sempre a leste
de urna
tarde espantada,
de urna
tarde amarela soterrada
numa caixa
de pêssegos, madura,
uma janela
madura de bandeiras abortas
para o mar,
e frias;
encarcerada
pelo verdoenga de pêssegos
e açúcar
cristalizado sobre a polpa
dos verdes
apanhados na chácara. Setembro.
Ah,
setembro, setembro
essa menina
e teus jardins sobre a cabeça
castanha e
cacheada, numa tarde amarela
de vapores
entrando a barra, de sinos
batendo, que
reconheço de outra época,
do espanto
de outras torres, de outra tarde espantada,
que
amarravas no inverno embora outubro:
esse rapaz
que atravessa o corporal de pêssegos
de urna
tarde amarela,
como se
fincasse a cisma de uma lança
no rosto da
palavra genial
e seu ramo
de rosas, sua neblina.
(poeta
catarinense nascido faz hoje 94 anos)
quarta-feira, dezembro 14, 2016
Noiva
Linda, como
somente vós sabeis,
forte, como
a esperança que em vós ponho,
alegre, como
fostes, sois, sereis,
assim vos
penso, assim vos recomponho,
curvada
embora à vida e às suas leis
mas nunca
libertada do meu sonho.
Fostes a
noiva na manhã de Reis,
ainda hoje o
sois nos versos que componho.
Leio Luís de
Camões, o nosso poeta,
a suspirar
do amor mais desgraçado
e a maldizer
o dia em que nasceu.
Sobreponho-me
à morte e à dor secreta,
o amor
feliz, senhora, é o nosso fado,
cantá-lo, a
chave do destino meu.
(escritor
maranhense nascido faz hoje 102 anos)
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Amar-te é
Vir de Longe
Amar-te é
vir de longe,
descer o rio
verde atrás de ti,
abrir os
braços longos desde os sete
anos sob a
latada ao pé do largo,
guardar o
cheiro a figos vistos lá,
a olho nu,
ao pé, ao pé de ti,
parar a
beber água numa fonte,
um acaso
perdido no caminho
onde os
vimes me roçam a memória
e te
anunciam mãos e te perfazem;
como se o
sino à hora de tocar
já fosse o
tempo todo badalado,
e a tua boca
se abrisse atrás do tojo,
e abaixo dos
calções as pernas nuas
se rasgassem
só para o pequeno sangue,
tal o
pequeno preço que me pedes.
Atrás da
curva estavas, és, serias,
nos muros de
granito, nas amoras.
Amar-te era
lembrança e profecias,
uma porta já
feita para abrir,
e encontrar
o lar ou música lavada
onde, se
nasces, vives, duras, moras
- meu nome
exacto e pão
no chão das
alegrias.
Pedro Tamen
Posta dedicada à minha companheira, com quem casei faz hoje 40
anos
domingo, dezembro 11, 2016
Paisagens
o verão
estende a sua sombra até aos joelhos
em que a luz
se dobra: a isso chamávamos Outono
Na campânula
do nevoeiro o plátano
incendeia a
cinza: oiro e vermelho
inverosímeis
como uma tempestade
eléctrica no
écran da janela;
uma floração
delirante do olhar
afectado
pelo crepúsculo
recordado na
paixão.
Depois
a água gris
lavará tudo
excessivamente.
(poeta
eborense nascido a 11 de Dezembro de 1945)
sábado, dezembro 10, 2016
Cidade-Rapaz
quero viver
contigo
numa
cidade-rapaz
e jantar num
restaurante situado no ombro
talvez mais
tarde um passeio pelo peito
esconder-me
contigo na floresta do peito
oh mas nunca
conhecer
esse rapaz
que é cidade
nem o seu
coração que bate como trovoada
a sua
insanidade saudável
mas no final
do dia
quero
deitar-me contigo
ouvindo a
sua respiração suave
{entrando na
sua respiração aí suave}
e falar para
esta cidade
em forma de
corpo indecente
esperando
suas reacções mais espontâneas
seus sonhos
mais nefastos
e quando a
cidade acordar
fingir-nos-emos
mitológicos
como a dissolução
dos
cúmplices
e viveremos
atrás dos olhos
num
interstício da alma.
(poetisa
farense que hoje faz 32 anos)
sexta-feira, dezembro 09, 2016
Dá-me a Tua Mão
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
(poetisa brasileira de origem ucraniana, falecida a 9 de
Dezembro de 1977)
quinta-feira, dezembro 08, 2016
Canção grata
Por tudo o
que me deste
inquietação
cuidado
um pouco de
ternura
é certo mas
tão pouca
Noites de
insónia
Pelas ruas
como louca
Obrigada,
obrigada
Por aquela
tão doce
e tão breve
ilusão
Embora nunca
mais
Depois de
que a vi desfeita
Eu volte a
ser quem fui
Sem ironia
aceita
A minha
gratidão
Que bem que
me faz agora
o mal que me
fizeste
Mais forte e
mais serena
E livre e
descuidada
Sem ironia
amor obrigada
Obrigada por
tudo o que me deste
Por aquela
tão doce
e tão breve
ilusão
Embora nunca
mais
Depois de
que a vi desfeita
Eu volte a
ser quem fui
Sem ironia
aceita
A minha
gratidão
(Florbela
Espanca nasceu a 8 de Dezembro de 1894 e faleceu a 8 de Dezembro de 1930)
quarta-feira, dezembro 07, 2016
Epígrafe
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pré-feitos blocos de cimento.
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a
consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro
quando as digo.
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
- expressão da multidão que está comigo.
(Ary dos Santos nasceu faz hoje 79 anos)
terça-feira, dezembro 06, 2016
Os novos
heróis
Digo-te que
os novos heróis chegarão
Marchando ao
compasso do nosso hino
Em que se
entoam as esperanças,
Daqueles que
com o seu sangue generoso regaram
A Pátria que
hoje pisam os seus continuadores
Chegarão
vindos dos campos, das bolanhas, das minas
A terra será
livre na sua entrega amorosa e fecunda
Sem temer a
violação de bombas criminosas,
A
conspurcação de botas mercenárias.
Chegarão, a
paz temperando-se no sal do seu suor
Dentre os
tempos novamente pioneiros
- Pois que
serão as metas atingidas
Senão novos
pontos de partida, novos desafios? -
Dentre
ventos soalheiros a aumentar a produção,
Virão
verticais e seguros das suas raízes
Das fábricas
modelando novos horizontes às tabancas,
Para que as
culturas ancestrais transbordando as nascentes
Galguem
novos espaços, ganhem novas alturas.
Estes homens
serão colheita e sementeira, gérmen e fruto
Da sociedade
nova porque se forjam e morrem os heróis!
(poeta
guineense que hoje faria 67 anos)
segunda-feira, dezembro 05, 2016
Cântico
Belo é ver
florir os galhos
das velhas
árvores.
E ver chegar
as aves
que voltam
do Sul.
Belo é o
sangue rubro
dum lanho
fresco,
e o riso que
nasce
das nossas
palavras.
Belo é o vir
da manhã
sobre os
telhados nus
das cidades
brancas.
E mais belo
ainda
que este sol
visível
enflorando,
amor,
teus longos
cabelos
de guizos
dourados:
mais belos
que os ventos
cavalgando
as nuvens
e
dizendo-nos: vinde!,
e que o meu
gênio abrindo
suas asas
nos céus:
Mais belo
que o fluir
silente
desta célula
fluindo nos
cosmos:
Mais belo,
amor,
que a tua
própria beleza
é este sol
inviolável,
rútilo, no
fundo de nós.
(Papiniano
Carlos faleceu faz hoje 4 anos)
domingo, dezembro 04, 2016
In Memoriam
Um instante
Aqui me
tenho
Como não me
conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz
presente
sou apenas
um bicho
transparente
(poeta maranhense falecido hoje)
O Solitário
Não: uma
torre se erguerá do fundo
do coração e
eu estarei à borda:
onde não há
mais nada, ainda acorda
o indizível,
a dor, de novo o mundo.
Ainda uma
coisa, só, no imenso mar
das coisas,
e uma luz depois do escuro,
um rosto
extremo do desejo obscuro
exilado em
um nunca-apaziguar,
ainda um
rosto de pedra, que só sente
a gravidade
interna, de tão denso:
as
distâncias que o extinguem lentamente
tornam seu
júbilo ainda mais intenso.
(poeta checo
nascido a 4 de Dezembro de 1875)
(Tradução:
Augusto de Campos)
quinta-feira, dezembro 01, 2016
Ensoneto
Entretanto,
meu filho, é vinho tinto,
erosão
persistida, abraço baço.
Lumes novos,
quem é que os inventa
melhor do
que o calor que nós nos damos?
Às uvas
pois. O mais é uma cadeira
e o olhar do
céu com chuva ou não,
enquanto as
aves fogem e nós as imitamos
quase sem
dor nem arte - só sentidos.
Assim
sossega, assim verdeja e está,
eructa e vê,
olhando à transparência,
um céu assim
mais lento.
Só depois te
levantas e contigo
vai certeza
nenhuma, só viver
outra vez,
amanhã, a vida mesma.
(Pedro Tamen
faz hoje 82 anos)
segunda-feira, novembro 28, 2016
Poema
Eu sei que
um dia irás, calada e pálida
Pôr flores
no meu coval.
Ah, mas por
Deus, não chores uma lágrima!
Chama por
mim, baixinho...
Então verás
as pétalas das rosas,
Dos lírios,
das violetas, dos crisântemos,
acesas como
estrelas!
Sou eu que
me ilumino
Lá no fundo
da noite,
Para te ver
no meu caminho!
(escritor
cernachense falecido faz hoje 51 anos)
sábado, novembro 26, 2016
sexta-feira, novembro 25, 2016
quinta-feira, novembro 24, 2016
Arma secreta
Tenho uma
arma secreta
ao serviço
das nações.
Não tem
carga nem espoleta
mas dispara
em linha recta
mais longe
que os foguetões.
Não é
Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou
outros que tais.
É coisa
muito melhor
que todo o
vasto teor
dos Cabos
Canaverais.
A potência
destinada
às rotações
da turbina
não vem da
nafta queimada,
nem é de
água oxigenada
nem de
ergóis de furalina.
Erecta, na
noite erguida,
em alerta
permanente,
espera o
sinal da partida.
Podia
chamar-se VIDA.
Chama-se
AMOR, simplesmente.
(António
Gedeão nasceu faz hoje 110 anos)
quarta-feira, novembro 23, 2016
O Poema
Um poema
cresce
inseguramente
na confusão
da carne.
Sobe ainda
sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como
sangue
ou sombra de
sangue pelos canais do ser.
Fora existe
o mundo. Fora, a esplendida violência
ou os bagos
de uva de onde nascem
as raízes
minúsculas do sol.
Fora, os
corpos genuínos e inalteráveis
do nosso
amor,
rios, a
grande paz exterior das coisas,
folhas
dormindo o silencio
a hora
teatral da posse.
E o poema
cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum
poder destrói o poema.
insustentável,
único,
invade as
casas deitadas nas noites
e as luzes e
as trevas em volta da mesa
e a força
sustida das cisas
e a redonda
e livre harmonia do mundo.
Em baixo o
instrumento perplexo ignora
a espinha do
mistério
- E o poema
faz-se contra a carne e o tempo.
(Herberto
Hélder faria hoje 86 anos)
terça-feira, novembro 22, 2016
A escrita
das águas
Olho em meu
redor.
A chuva
afaga as raízes das árvores
e agita seus
ramos como se fossem
mantilhas de
seda agasalhando
os pássaros
no rodeio do vento.
Sei que o
tempo não se detém.
Os muros
mais severos assinalam,
sem
dissonância, a escrita
repisada das
águas que a idade
guardou na
borda das pedras.
(poetisa
figueirense que faz hoje 70 anos)
segunda-feira, novembro 21, 2016
domingo, novembro 20, 2016
Tristeza
Como as
ervas de humilde condição
Que ninguém
colhe e ninguém procura
Ficará o meu
tesouro de ternura
Condenado à
mais triste condição…
O mal que me
tens feito, sem razão,
Porque
excede os limites da tortura
Rejeitar-nos
alguém por desventura
Aquilo que
se dá do coração!…
Oh! difícil
é dar sem ter o quê…
Mas receber
da mão de quem nos dê
É tão fácil,
meu Deus, e não m’aceitas!…
Se nada peço
que razões alegas?
Eu não choro
o carinho que me negas…
Eu choro
sobre o meu que tu rejeitas!…
(poetisa
portuense falecida faz hoje 36 anos)
sábado, novembro 19, 2016
A tinta e o
verso
Bebe o
sangue
do sol
nascente,
rouba o
negro da noite
e o ouro do
girassol,
arranca o
azul do céu,
faz o mural.
Traz o verde
da Mata,
as cores dos
espinhos sertanejos.
Arranca o
colorido das casas,
o castanho
dos rios,
a brancura
da lua,
a festa das
cores das ruas,
faz o mural.
Se faltar a
tela,
coloca tudo
em palavras no papel,
em vez das
cores,
escreve o
nome das coisas,
em vez de
amarelo
fala em
girassol,
no lugar de
azul
escreve céu.
Faltando até
mesmo
lápis e
papel,
recita os
meus versos,
diz poemas
do meu canto
que surgirão
as cores do chão.
(escritor
pernambucano que hoje faria 75 anos)
sexta-feira, novembro 18, 2016
Os livros
É então isto
um livro,
este, como
dizer?, murmúrio,
este rosto
virado para dentro de
alguma coisa
escura que ainda não existe
que, se uma
mão subitamente
inocente a
toca,
se abre
desamparadamente
como uma
boca
falando com
a nossa voz?
É isto um
livro,
esta espécie
de coração (o nosso coração)
dizendo
"eu" entre nós e nós?
(Manuel
António Pina nasceu faz hoje 73 anos)
quinta-feira, novembro 17, 2016
Ode
Oh tempo de
hoje
a tua face
é odiada
por milhões
Quem não te
amaldiçoou
ao menos uma
vez?
e não
crispou
as mãos e o
rosto ao menos uma vez
ao remoinho
impiedoso
das tuas
contradições?
Meu tempo
meu tempo
feito de
braços decepados
com gritos
reprimidos
tua poesia
de dentes cariados
teus sonhos
desmentidos
e ainda
sempre amados
Vêem-te o
esgar
Vivem-te o
bafo pestilento
todos te
odeiam Sim
Mas eu
amo-te tempo
dos meus
dias
e dou-te com
fervor
a toda a
hora
o mais
profundo e mais inolvidável
que há em
mim
(Mário
Dionísio faleceu faz hoje 23 anos)
quarta-feira, novembro 16, 2016
Balança
Com pesos
duvidosos me sujeito
À balança
até hoje recusada.
É tempo de
saber o que mais vale:
Se julgar,
assistir, ou ser julgado.
Ponho no
prato raso quanto sou,
Matérias,
outras não, que me fizeram,
O sonho
fugidiço, o desespero
De prender
violento ou descuidar
A sombra que
me vai medindo os dias;
Ponho a vida
tão pouca, o ruim corpo,
Traições
naturais e relutâncias,
Ponho o que
há de amor, a sua urgência,
O gosto de
passar entre as estrelas,
A certeza de
ser que só teria
Se viesses
pesar-me, poesia.
(José
Saramago nasceu faz hoje 94 anos)
terça-feira, novembro 15, 2016
Poema do
amante da viúva do tuberculoso
Para mim és
um mito,
és o
fantasma de teu marido
que morreu
tossindo de madrugada,
engasgando
em sangue,
és o símbolo
do tísico,
és o
tuberculoso vestido em carnes novas.
A presença
real de teu marido
agarra-se
inexorável á floração de tuas carnes
na minha
obsessão,
terror
diabólico que me inibe o prazer,
receio
angustioso que me veda a satisfação!
Preciso
possuir-te brutalmente
para não
sentir tocar-me o peito batido,
as pernas
magras, a pélvis saltada do tísico....
teu amor
seria tão bom
se o defunto
tivesse morrido mesmo,
meu mal foi
conhecer teu marido tossindo a noite inteira,
a luz acesa
coando por baixo da porta.
(escritor
goiano nascido faz hoje 101 anos)
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